No último sábado, vestido de azul e magro, o bispo de Matagalpa conversou com dois de seus irmãos durante uma refeição na prisão.
Foto: Captura de tela do Canal 4 do YouTube Nicarágua
Redação (28/03/2023 08:52, Gaudium Press) Por mais descontraída que pareça a cena, é impossível esconder a tragédia: a de um bispo preso injustamente por uma ditadura que cria um cenário artificialmente decorado para – através de um meio de comunicação ligado ao regime – tentar limpar a sua imagem diante de um mundo que pressiona e exige a libertação do prelado.
No último sábado, foi divulgado um vídeo de Dom Rolando Álvarez, Bispo de Matagalpa, preso pela ditadura de Ortega desde 19 de agosto do ano passado, quando nas primeiras horas da manhã o retiraram da Cúria de Matagalpa e levaram-no para Manágua. Na altura, ele foi colocado em prisão domiciliar. Em 10 de fevereiro passado, após recusar ser deportado para os EUA, ele foi condenado – em um julgamento expresso – a mais de 26 anos de prisão por crimes inexistentes, com base nas classificações de um código penal persecutório característico dos regimes comunistas. Dom Álvarez encontra-se na prisão ‘Modelo’, em Manágua.
O vídeo
Agora aparece este vídeo, filmado no último sábado, dia da Anunciação, tendo como protagonista um magro sucessor dos apóstolos, vestido de azul como os criminosos. Dom Álvarez sabe que não está sozinho conversando com seus dois irmãos, que foram autorizados a visitá-lo, e está constantemente olhando para quem está atrás das câmeras e para as câmeras. Ele sabe que é um ‘troféu’ cada vez mais incômodo para um regime em decomposição.
– São seus parentes?, pergunta uma muito ‘perceptiva’ voz atrás das câmeras (como se não soubesse, só para registrar…), a quem o bispo responde com um sorriso e um simples “sim”, e o questionador retruca com um lacônico “bem”. O irmão e a irmã do bispo não sorriem, não conseguem esconder a tensão do momento.
A certa altura, o Bispo sai do ‘cenário’ e volta para responder a um jornalista que pergunta como ele está: “Graças a Deus, bem, com muita força interior, com muita paz no Senhor e na Santíssima Virgem”.
– Como foi este encontro familiar?
– Graças a Deus bem, graças a Deus bem. Conversamos, comemos aqui uma comidinha bem saborosa que os nossos amigos do sistema penitenciário nos proporcionaram, com carinho e gentileza.
O bispo continua dizendo que recebeu um tratamento digno e agradece às autoridades competentes por isso.
O jornalista diz-lhe que ele parece bem, e o Bispo pergunta “e como veem a minha cara?” Atrás do imperturbável sorriso do prelado é evidente o seu sofrimento.
Instado pelo jornalista que lhe pede umas últimas palavras, o perseguido Bispo de Matagalpa agradece à Virgem no dia da Anunciação – Ela que “com o seu ‘sim [permitiu] que o Verbo se fizesse carne e habitasse entre nós” – que fosse permitido que ele compartilhasse com seus irmãos.
Após essas palavras, o Bispo volta à mesa com seus irmãos. A irmã do bispo troca algumas palavras com ele, imperceptíveis, enquanto ele já mostra toda a seriedade natural de um semblante que enfrenta com fé a injustiça e a tragédia.
É claro que o que aparece no vídeo não revela as reais condições em que Dom Álvarez é mantido por seus carcereiros. Isso só será conhecido quando ele for libertado.
Mesmo com a encenação, e talvez acrescida por ela, o Bispo de Matagalpa torna-se cada vez mais um símbolo de toda a perseguição que sofre a Igreja na Nicarágua. (SCM)
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