São Pedro Armegol é o modelo da confiança. Ainda que imersos no limo profundo, onde nossos pés não encontram terreno sólido, temos de confiar em Nossa Senhora.
Redação (27/04/2024 08:03, Gaudium Press) São Pedro Armengol nasceu na Catalunha, em 1238, filho do nobre Arnau Armengol Rocafort. Seus pais eram muito chegados ao rei de Aragão, o soberano daquela região ibérica, e frequentavam com liberdade a Corte.
Pedro recebeu esmerada educação, mas, à medida que crescia, foi decaindo nos costumes e na piedade. Passou a conviver com más companhias e se desviou das sendas do bem.
Em vão, os pais fizeram todo o possível para retê-lo. Pedro se desclassificou a tal ponto que abandonou a casa paterna, embrenhou-se no meio de bandidos, de sem-vergonhas, e ali se perdeu completamente.
Com o tempo, chegou a se tornar chefe de uma quadrilha de salteadores de estrada. Ladrão perigoso, assassino e fugitivo, se a polícia real o apanhasse, certamente seria morto.
Fulminante golpe da graça
Aconteceu, porém, que, estando ele um dia a vagar pelo mato com seus companheiros de perdição, ouviu ao longe um toque de clarim, típico de gente da Corte. Imaginando os preciosos despojos que aquele séquito lhe proporcionaria, Pedro resolve atacá-lo com sua quadrilha.
Mal os dois grupos se encontram, Pedro sai em busca do chefe do destacamento e está prestes a lhe desferir um golpe quando… percebe tratar-se de seu próprio pai.
Como que tocado por fulminante raio, o bandido permanece imóvel, detendo no ar seu braço armado. Ele, e não o pai, recebera o golpe fatal. Um golpe da graça divina. Por certo, naquele instante alguém, em algum lugar, devia estar rezando por ele a Nossa Senhora…
Confuso e envergonhado, Pedro teve verdadeira contrição dos pecados cometidos. Como o filho pródigo do Evangelho, lançou-se aos pés do pai e pediu perdão. Acabou sendo agraciado pelo Rei, deixando para sempre a roda de malfeitores no meio dos quais vivera.
Depois, com toda a humildade, procurou um religioso mercedário, a quem confessou os crimes que perpetrara e expôs os remorsos que lhe torturavam a alma.
Na Ordem de Nossa Senhora das Mercês
Em seguida, Pedro solicitou, por misericórdia, que o admitissem como mercedário. Os frades resolveram aceitá-lo, reconhecendo seu profundo e sincero arrependimento.
Era missão dos mercedários trabalhar pela libertação dos cativos que viviam sob o jugo de infiéis. Com efeito, no intuito de cumprir sua heroica missão, os frades mercedários não só se arriscavam a viver em território maometano, como faziam um voto admirável: por amor às almas, ofereciam-se como reféns, para serem trocados por cativos católicos que estivessem no meio dos mouros.
Foi esta, precisamente, a forma de heroísmo abraçada por Pedro Armengol. Atendendo à voz da obediência, Frei Pedro passou um número de anos no norte da África, numa arriscada existência.
Quando já se preparava para voltar à Espanha, soube que 137 jovenzinhos cristãos, escravizados, jaziam nas casas de seus senhores expostos à depravação e ao risco de perderem a Fé.
Com religioso desvelo, Frei Pedro procurou os mouros e negociou a libertação daqueles cativos. Os infiéis exigiram muito dinheiro. Soma tão avultada só poderia vir da Espanha, o que prolongaria ainda mais o tempo da perigosa escravidão dos jovens católicos.
Sem hesitação, Frei Pedro ofereceu-se como refém no lugar deles, até que lhe fosse enviada da Espanha a quantia necessária para o resgate. Os mouros concordaram, impondo, entretanto, a seguinte condição:
— Damos a eles um prazo para irem à Espanha, recolherem o dinheiro e no-lo enviarem. Durante esse tempo você fica aqui à nossa disposição. Se o dinheiro não chegar até o dia X., nós o enforcamos.
Pendurado na forca, sem perder a confiança em Nossa Senhora
Nos seus insondáveis desígnios, queria a Providência colocar à prova o ex-salteador de estradas. Esgotara-se o prazo estipulado pelos maometanos. Furiosos, cumpriram a ameaça: enforcaram Frei Armengol e, acreditando-o já morto, abandonaram-no pendente na corda.
Pouco tempo depois, chega o navio com o dinheiro do resgate. Problemas de navegação haviam determinado o atraso.
— Onde está o Frei Armengol — perguntaram os emissários. A resposta do chefe mouro foi aterradora:
— Chegaram tarde. Ele está no cadafalso, enforcado há três dias, conforme prometi. Indignados com a crueldade do infiel, os frades quiseram ver o corpo de seu irmão de hábito.
Ao chegarem junto ao patíbulo, grande surpresa: Frei Pedro, ainda na forca, estava vivo, embora pálido como um cadáver. (Ele conservaria no rosto, por toda a vida, essa palidez cadavérica: e no pescoço, bem visível, a marca da corda.)
Nossa Senhora fez o milagre de mantê-lo vivo durante vários dias, pendurado na árvore.
“A Virgem Maria, Mãe de Deus e nossa, pediu a seu Santíssimo Filho a conservação de minha vida, e conseguido este favor, a mesma Soberana Rainha me susteve com suas santíssimas mãos, para que com o peso do corpo não me afogasse na corda que estava suspenso”.
Pedro Armengol voltou à Espanha e se retirou ao pobre convento de Nossa Senhora dos Prados, no arcebispado de Taragona, onde sua vida foi uma contínua série de heroicas virtudes e familiares colóquios com a Rainha dos Anjos, a quem agradecido do dito favor professava tanto afeto, que não parecia possível nem mais reverente devoção, nem ternura mais filial.
Oprimido por uma grave enfermidade, sabendo que se aproximava a hora de sua morte, recebeu com fervor os últimos Sacramentos, e entregou seu espírito nas mãos do Criador no dia 27 de abril de 1277.
Admirável modelo de confiança
São Pedro Armengol é um dos mais belos exemplos de confiança no insondável amparo de Maria Santíssima. Pendurado na forca que o deveria ter matado, sobreviveu graças ao milagre alcançado pela Patrona de sua Ordem, e enquanto a corda lhe estreitava o pescoço, manteve sempre a calma admirável de quem se sabia objeto daquele maternal e misericordioso socorro.
Assim devemos ser nós nas dificuldades de nossa vida, a exemplo de São Pedro Armengol: por maiores que sejam os problemas, ainda que estejamos como um enforcado suspenso no ar, diante dos obstáculos mais impossíveis ou das dores mais terríveis, jamais duvidemos do auxílio de Nossa Senhora. N’Ela depositemos toda a nossa confiança, na calma e na paz de espírito, sabendo que a Virgem Santíssima tudo resolverá.
Plinio Corrêa de Oliveira
Texto extraído, com adaptações, da Revista Dr. Plinio n. 06, setembro 1998.
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