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Por que o silêncio do Dicastério do Cardeal Braz de Aviz com o caso Rupnik?

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Um aspecto abordado na mídia – embora haja inúmeras perguntas – é o papel desempenhado pelo Dicastério dirigido pelo cardeal brasileiro João Braz de Aviz em todo o “caso Rupnik”.

Cardeal Braz de Aviz – Foto: Twitter Missionários Nazareth @MHSFNazareth

Cardeal Braz de Aviz – Foto: Twitter Missionários Nazareth @MHSFNazareth

Redação (28/12/2022 15:51, Gaudium Press) Um aspecto abordado na mídia – embora não tenha sido aprofundado e, ao contrário, o que existe são inúmeras perguntas – é o papel desempenhado pelo Dicastério presidido pelo Cardeal brasileiro João Braz de Aviz em todo o “processo Rupnik”, o caso do jesuíta-artista esloveno, excomungado e perdoado por absolvição sacramental a um cúmplice, com vários testemunhos de ex-freiras que o acusam de diversos tipos de abusos. Estamos falando do Dicastério, antiga ‘Congregação’, para os Institutos de Vida Consagrada e as Sociedades de Vida Apostólica.

Como se sabe, este Dicastério tem entre as suas funções tratar “as questões de competência da Sé Apostólica relacionadas com a vida e a atividade” dos institutos religiosos, particularmente no que diz respeito à “disciplina dos membros” destes institutos. (Cf. Constituição Praedicate Evangelium Art. 124) Para cumprir esta função disciplinar, o Dicastério dispõe de um gabinete disciplinar que “resolve situações irregulares de membros de Institutos religiosos e Sociedades de Vida Apostólica”.

Rumores que estão sendo confirmados

No dia 15 de dezembro passado, o jornal português 7 MARGENS – que juntamente com a Rádio Renascença foi o primeiro a pesquisar e registrar as reações do Superior Geral dos jesuítas sobre o caso Rupnik– noticiou que “continua sem se conhecer o pronunciamento do Dicastério para a Vida Consagrada, relativo ao resultado da inquirição feita pelo bispo auxiliar de Roma, o jesuíta Daniele Libanori, ao instituto Comunidade Loyola, do qual procedem várias das denúncias contra Rupnik”.

Com efeito, e embora nessa altura já circulasse nos meios de comunicação que o jesuíta tinha sido autor de escandalosos abusos contra as religiosas dessa Comunidade, ainda não haviam sido publicadas as histórias tão comoventes como a de ‘Anna’, uma ex-religiosa italiana daquele instituto, que entre várias revelações afirma que, das 41 freiras que havia ali no início dos anos 90, “o padre Rupnik, pelo que sei, conseguiu abusar de quase vinte”. Tampouco havia sido relatado o conteúdo de uma carta que Mons. Libanori dirigiu ao clero sob sua responsabilidade em Roma, na qual o prelado confessava sua tentativa de tentar “silenciar os sentimentos que sinto diante de testemunhos chocantes, provocados por silêncios arrogantes, que mostram a imundície que se acumulam em certas escolas espirituais perante o mundo”, além de dizer que “parece que as notícias relatadas pelos jornais correspondem à verdade, desde o momento em que os Superiores da Companhia [de Jesus] admitiram a existência de medidas cautelares contra ele em relação a esses fatos”.

Mas é verdade que, depois dessas declarações de Mons. Libanori, o que ficou na cabeça das pessoas foi que os relatos dos abusos que circulavam eram verídicos, não tanto pela permanência das medidas cautelares impostas pelos jesuítas ao sacerdote esloveno, mas porque quem assim falava tinha sido o visitador e era o atual Comissário da Comunidade Loyola, ou seja, o encarregado pelo Dicastério de vida consagrada para redirecionar a vida de um instituto seriamente afetado desde suas raízes pelos abusos do jesuíta.

No entanto, até aquele momento, e até agora, o Dicastério não se pronunciou sobre esta questão espinhosa e difícil, que inclui religiosos gravemente atingidos sob sua tutela, e um famoso religioso – também sob sua tutela – gravemente afetado.

Em junho de 2021, Mons. Libanori entregou seu relatório

Quando o Dicastério para os Religiosos soube das graves faltas do Pe. Rupnik? Sabemos, segundo La Nuova Bussola Quotidiana, que 2021 foi “o ano em que Mons. Libanori foi encarregado de investigar os abusos na Comunidade Loyola, uma investigação que recolheu depoimentos de nove mulheres, consideradas credíveis pela Congregação já em junho desse mesmo ano. Qual é a Congregação? Certamente a da Doutrina da Fé, já que foi daí, em junho de 2021, que começou o processo que terminou com a prescrição dos fatos por parte desse mesmo órgão em outubro de 2022. Mas não é verossímil que o Dicastério dos Institutos Religiosos a cargo do Cardeal Braz de Aviz não tivesse conhecido também esse relatório de Mons. Libanori, com os testemunhos das nove religiosas.

Surge então a pergunta: Por que razão, não só a Doutrina da Fé mas também o Dicastério dos religiosos permitiram ao jesuíta, já então um abusador, continuar a passear pelo mundo inteiro, inclusive ambientes religiosos, exibindo a sua hoje questionada ciência teológica e lucrando com sua fama artística, e mantendo o cargo de consultor em dois importantes dicastérios romanos ?

Ademais, naquela época, junho de 2021, o padre Rupnik era um sacerdote que deveria estar sob a lupa do dicastério do cardeal Braz de Aviz, pois já havia sido excomungado pela Congregação para a Doutrina da Fé, em maio de 2020.

Resumindo: o presbítero jesuíta excomungado por absolver um cúmplice sexual em confissão, por quem nove religiosas acusaram terem sido abusadas, continuou a ser – sob o silêncio de duas congregações romanas – o padre “artistar”, como o chama a La Nuova Bussola Quotidiana. Não seria um desejo inequívoco de “encobrir e exonerar o jesuíta esloveno”?

Um comissariado discreto

Outro fato que infelizmente aponta nessa direção é que o comissariado que estava sendo desenvolvido na Comunidade Loyola – ao contrário da prática normal nesses casos– foi mantido em sigilo pelo dicastério do cardeal brasileiro, segundo a mídia Left, uma das primeiras a falar sobre o assunto no início de dezembro: “o cálculo feito no Vaticano foi o de não tornar público o comissariado – algo insólito -, caso contrário teria sido relativamente fácil para algum órgão de imprensa menos desatento do que outros descobrir os verdadeiros motivos. Evidentemente, era absolutamente necessário evitar um nexo de causalidade direto entre o sofrimento psíquico experimentado pelas religiosas da Comunidade Loyola e sua história confusa e sectária, com a violência que se acusa o padre Rupnik”, diz Left.

Este mesmo meio de comunicação reproduz as palavras de uma de suas fontes, anônima e ex-religiosa da Comunidade Loyola, que relata que “devido à violência sofrida, algumas irmãs que já pertenciam à Comunidade e estavam afastadas há anos foram indenizadas por iniciativa de Mons. Libanori com os fundos da Comunidade em 43 mil euros. Indenizações disfarçadas com a desculpa de sustentar o grave estado de pobreza em que se encontravam após o comissariado na Comunidade de Loyola”.

Muitas, portanto, são as perguntas que ainda permanecem, e que merecem esclarecimentos de diversos dicastérios, também o dos religiosos. (MCC)

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