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Beata Susana Águeda Deloye

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Beata Susana Águeda Deloye, cuja memória a Igreja celebra no dia 6 de julho, foi presa e guilhotinada em Orange, França, juntamente com outras trinta e duas religiosas durante a Revolução Francesa.

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Redação (05/07/2024 19:44, Gaudium Press) No dia 4 de fevereiro de 1741 nascia, na então tranquila cidade de Sérignan, Susana Águeda Deloye, filha de José Alexis Deloye e Susana Jean-Clerc. Seus pais, fervorosos católicos, souberam dar-lhe uma educação exemplar, alicerçada em sólidos princípios de amor à religião, que resplandeceriam durante as perseguições pelas quais ela atravessaria no futuro.

Após passar uma infância virtuosa e saudável, quando contava vinte anos de idade pediu permissão aos pais para seguir a via religiosa. Recebido o consentimento, ingressou na abadia beneditina de Caderousse.

Dentro desses muros sagrados, a jovem, agora Ir. Maria Rosa, viveria por mais de trinta anos, numa rotina de oração, trabalho e silêncio. Embora não suspeitasse, em cada ato, em cada sofrimento alegremente suportado ou humilhação livremente aceita, o Divino Esposo a preparava para o grande dia das “núpcias do Cordeiro” (Ap 19, 7).

A Revolução Francesa se levanta contra a Igreja

Chegado o ano de 1789, a Revolução Francesa se alça como um tufão demolidor, atentando contra toda a ordem social forjada durante séculos sob o benéfico influxo da Santa Igreja.

E não tarda, de fato, para os agentes da desordem se voltarem contra a Esposa Mística de Cristo pois, por sua doutrina, moral e dogmas, eles a consideram sua mais terrível inimiga. Em 1790, a Assembleia Constituinte nacionaliza os bens eclesiásticos e promulga a Constituição Civil do Clero, obrigando todos os eclesiásticos a prestarem juramento ao Estado. Os votos religiosos deixam de ser reconhecidos pela lei temporal e os mosteiros são fechados.

A partir daí, muitos sacerdotes e religiosos passam a ser caçados como animais por não dobrarem seus joelhos diante desse regime que camufla sua impiedade sob a dúbia máxima de liberdade, igualdade e fraternidade.

Religiosa mesmo sem mosteiro

Quando as novas determinações entraram em vigor, as religiosas da Abadia de Caderousse foram obrigadas a abandonar seu tão amado mosteiro. A partir de então, perdiam todo reconhecimento perante a lei e se tornavam simples “cidadãs” e, pior, em breve “criminosas”…

Susana Deloye refugiou-se na casa de seu irmão, Pedro Alexis, em Sérignan. Mas nem as ameaças dos agentes do Terror nem o fechamento da abadia a dissuadiram de levar uma vida monacal. Permanecendo fiel aos seus votos religiosos, edificava a todos com sua contínua piedade.

Pedro Alexis era um católico exemplar. Suas três filhas haviam se consagrado a Deus ainda antes do estopim da perseguição. As duas mais velhas dedicaram-se ao serviço dos pobres enfermos no Hospital Santa Marta de Avignon, e a terceira filha, Teresa Rosália Deloye, entrou na Ordem do Santíssimo Sacramento de Bollène.

A santa coragem dos primeiros cristãos brilhava em Pedro, reluzindo de modo especial durante os dias do Terror. Sem receio de arriscar a própria vida, ele escondeu no sótão de sua casa um dos sacerdotes que se recusou a prestar o juramento à Constituição Civil do Clero. Graças a isso, os fiéis da região puderam várias vezes assistir à Santa Missa e receber os demais Sacramentos, durante esse período de crise.

A perseguição…

A nova rotina de Ir. Maria Rosa foi interrompida no dia 2 de março de 1794, quando recebeu a ordem de apresentar-se à prefeitura de Sérignan a fim de prestar o juramento revolucionário e renunciar à Religião Católica. Além dela, foram convocadas outras duas religiosas do Mosteiro do Santíssimo Sacramento de Bollène: Teresa Henriquina Faurie e Ana Andreia Minutte.

Apesar de as haverem pressionado – em nome da liberdade! – a aderir aos ditames da Revolução, nenhuma delas consentiu. Deram-lhe então um período de dez dias, para que pudessem refletir sobre essa recusa que, aos olhos dos comissários, parecia intolerável. Tal era a voracidade em perder essas almas puras, que as três foram novamente convocadas ainda antes do prazo estipulado. Contudo, não cederam!

Susana e suas duas companheiras, juntamente com o Pe. Antônio José Lusignan, receberam então uma ordem de prisão. Seus crimes? Terem se recusado a trocar sua fé e fidelidade à Igreja pela submissão a um governo sanguinário e corrupto.

O comitê de vigilância local ordenou que Ir. Maria Rosa e os outros condenados fossem recolhidos numa mesma charrete e levados até o cárcere. As três freiras “se reencontram com emoção nessas circunstâncias dramáticas e trocam o ósculo da paz. É meio-dia. As religiosas entoam o Regina Cæli enquanto a carroça parte, escoltada por dois guardas. Destino: a prisão de La Cure em Orange!”

Transformar o purgatório numa antecâmara do Paraíso

Chegaram elas no dia 10 de maio à cadeia. Tão triste ventura poderia facilmente tê-las feito desanimar. Guardavam elas firmemente alicerçado na alma o amor do Mestre que as chamara e a esperança no Reino que lhes aguardava após as lutas desta vida. Eis a razão da alegria e constância que demonstraram no cativeiro.

Para a surpresa de Susana, muitas eram as freiras ali confinadas. Apesar de pertencerem a congregações diversas e seguirem diferentes regras, um só ideal as anima nessa circunstância: continuarem vivendo como religiosas. “[Trata-se de] transformar o purgatório em uma antecâmara do Paraíso. Todas sabem que, quando subirem à superfície da terra e encontrarem a luz do dia, será para entrar na glória eterna. […] A prisão deve ser um prolongamento do claustro, para permitir a cada qual ter uma vida de silêncio, de oração e de oferecimento”.

Aos poucos, organizam regras e horários. Às cinco horas da manhã, meditação; às seis, recitação em conjunto do Ofício da Santíssima Virgem e das orações da Santa Missa; às oito, a Ladainha dos Santos. Terminada esta, cada uma faz em voz alta a confissão de suas faltas e prepara-se para receber espiritualmente a Sagrada Comunhão. Pouco antes das nove horas, é feita a chamada dos presos destinados ao julgamento, momento no qual todas renovam seus votos religiosos, dispostas a sofrer tudo o que fosse preciso.

Em pouco tempo, o cárcere ficou permeado do bom odor das virtudes e dos atos de generosidade que as religiosas ofereciam a Nosso Senhor por amor. Movidas por seu bom exemplo, outras prisioneiras se converteram e ganharam coragem para entregar suas vidas e alcançar a palma do martírio.

As refeições dos cativos eram mantidas pelos familiares, que iam todos os dias ao cárcere com essa finalidade. No dia 4 de julho, sexta-feira, a tia de Susana levou-lhe um caldo saboroso. Ela agradeceu, porém não aceitou, e deu ainda uma resposta que edificou todas as suas irmãs de ideal presentes, dizendo que “em toda a sua vida ela havia jejuado na sexta-feira e não seria na véspera de sua morte que se permitiria faltar com a abstinência”.

De fato, no dia seguinte, 5 de julho, se iniciaria seu martírio.

Condenados por fanatismo e superstição

“Cidadã Deloye!”, ressoou com voz metálica na prisão, convocando a fiel religiosa a depor no tribunal. Ela mal teve tempo de se despedir das suas irmãs, às quais nunca mais tornaria a ver, e foi imediatamente levada para o banco dos réus. Havia ali uma quinzena de pessoas chamadas a julgamento. Entre elas, Susana pôde reconhecer o Pe. Lusignan, com o qual havia feito o percurso de Sérignan a Orange.

Viot, o acusador público, fez todos conhecerem os “crimes” em função dos quais seriam julgados o sacerdote e a religiosa. “Lusignan, ex-padre, e Susana Águeda Deloye, ex-religiosa, são ambos culpados dos mesmos delitos: inimigos da liberdade, tudo tentaram para destruir a República pelo fanatismo e pela superstição; refratários à lei, recusaram prestar o juramento que ela lhes exigia”.

Susana foi a primeira a ser interrogada. Sendo a única mulher presente e a primeira convocada dentre as religiosas, esperavam que fraquejasse. O presidente da comissão popular, Fauvety, imediatamente a instou a prestar o juramento revolucionário. Demonstrando a mesma firmeza com que as mártires dos primeiros séculos enfrentaram as turbas enlouquecidas e as feras famintas do Coliseu, a beneditina não consentiu. Declarou que o juramento consistia numa verdadeira apostasia; ela nunca trairia a seu Senhor e preferia perder o corpo que a alma! Para o júri, o assunto estava encerrado: a condenaram por fanatismo e superstição.

Idêntico foi o veredicto para o sacerdote, pois era visto como um conspirador contra a França. Ambos permaneceram presos no tribunal, a fim de receberem a sentença definitiva no dia seguinte. Como já desconfiavam qual seria, transcorreram a noite em ardentes orações ao Divino Mártir, oferecendo-Lhe suas vidas como um sacrifício de agradável odor.

À guilhotina…

Na tarde do dia seguinte, 6 de julho, foram convocados para escutar a sentença de morte. Às dezoito horas, as duas vítimas já estavam na Praça da Justiça – nome mais irônico não poderia existir –, à sombra da temível guilhotina. Ambos caminham para a morte com santa alegria.

Susana Deloye foi a primeira a subir ao cadafalso. O carrasco a fez deitar em uma prancha, à qual amarrou seu tronco e seus pés. Em seguida, estando sua cabeça devidamente perfilada no local do suplício, soltou a lâmina, que instantaneamente a decepou. Seus olhos, fechados para esta vida, abriram-se para a eternidade, enquanto o executor mostrava sua face ensanguentada ao público vociferante.

Na prisão, as demais religiosas haviam escutado o rufar dos tambores que anunciava a execução. Recitaram então as orações dos agonizantes e, em seguida, entoaram o salmo Laudate Dominum, em sinal de júbilo. Ao som desses cânticos de louvor, os restos mortais de Susana Deloye foram depositados numa carroça, e lançados numa vala comum.

“Felizes aqueles cuja vida é pura, e seguem a lei do Senhor”

Em todas as épocas, os inimigos da Igreja julgaram conseguir sufocar seu crescimento extirpando da terra seus mais diletos filhos. Mas o sangue dessas vítimas, oferecido por amor, só reafirmou a vitória de Deus. Perante o divino e justo Juiz, esse sacrifício clama por vingança e reparação, atraindo graças para que outros ingressem no redil do único Pastor.

A Beata Susana Deloye e suas companheiras mártires bem merecem o elogio que faz o salmista: “Felizes aqueles cuja vida é pura, e seguem a lei do Senhor” (Sl 118, 1). Mesmo suportando sofrimentos, foram fiéis e, por isso, seu sacrifício continua a mover a História e os acontecimentos segundo os desígnios de Deus. Sigamos seu exemplo!

 

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