O Culto ao Santíssimo Sacramento e a prática da Comunhão conheceram momentos de esplendor em tempos não distantes.
Redação (14/08/2024 16:10, Gaudium Press) O desejo da Igreja foi, é e sempre será que os católicos comunguem frequentemente e, se possível, diariamente, para imunizar as almas, na medida do possível, contra o pecado e tornar mais íntima a relação com Jesus. É por isso que o inimigo infernal odeia a Eucaristia e faz tudo o que pode para que as pessoas se distanciem, ignorem ou até profanem o Pão do Céu.
Os primeiros cristãos comungavam sempre que assistiam ao Santo Sacrifício. À medida que crescia o número de batizados, aumentava o número de Missas, embora o número de comungantes não progredisse proporcionalmente.
À força de exortações, os Santos Padres conseguiram que a maioria dos fiéis recebesse a Comunhão com certa regularidade, mas a Igreja não pôde evitar que a assiduidade da Comunhão fosse relaxando; aliás, não é possível precisar datas exatas que ponham um fim nesta mudança na frequência eucarística nos diversos lugares.
Ao sopro da graça e de vários fatores temporais, um saudável anhelo eucarístico se intensificou no século XVI com o Concílio de Trento. Mais tarde, a Comunhão frequente voltou a diminuir – assim como a própria Fé – por conta da influência do Jansenismo, da mentalidade racionalista e do indiferentismo religioso… que ainda padecemos.
De qualquer forma, a baixa assistência dos católicos à mesa eucarística, mesmo daqueles considerados fervorosos, na maioria das vezes provinha de uma formação um tanto rigorosa da consciência. É um erro privar-se da Comunhão por um sentimento exagerado da própria indignidade. A verdade é que nunca mereceremos a Comunhão, mas sempre nos será necessária. Claro que só poderemos recebê-la se estivermos em amizade com Deus, em estado de graça. Quanto às faltas veniais e as imperfeições que se cometem diariamente – o justo peca sete vezes ao dia – a recepção da Comunhão as apaga.
O Culto ao Santíssimo Sacramento e a prática da Comunhão conheceram momentos de esplendor em tempos não distantes. Pensemos nas obras eucarísticas de São Pedro Julião Eymard na segunda metade do século XIX e no seu subsequente impacto global, ou no pontificado de São Pio X no início do século XX, que promoveu a Comunhão frequente e a Comunhão precoce.
Mais próximo no tempo, durante o período em que o Papa Wojtyla governou a Igreja, dois acontecimentos eucarísticos merecem especial menção: a publicação da encíclica “Ecclesia de Eucharistia”, um magistral compêndio do mistério eucarístico, e a permissão dada aos fiéis para comungar duas vezes por dia, desde que a segunda Comunhão seja recebida através da participação na celebração da Missa. Esta cláusula aparece no Cânon nº 917 do Código de Direito Canônico em vigor, promulgado em 1983. É uma normativa pouco conhecida, mas seu alcance é imenso, pois mostra o quanto a Igreja deseja a familiaridade dos batizados com o Santíssimo Sacramento.
Já em nosso século, outro documento do magistério pontifício é a Exortação Apostólica “Sacramentum Caritatis” do Papa Bento XVI, onde expõem com lógica e ardor impecáveis como a Eucaristia deve ser crida, celebrada e vivida. Ali se diz uma verdade que gostaríamos de ver muito mais testemunhada: “A melhor catequese sobre a Eucaristia é a própria Eucaristia bem celebrada”. Que grande verdade! Porque a Fé é expressa em ritual e o ritual fortalece a Fé.
Sabemos que é de preceito obrigatório que todo católico receba a Comunhão pelo menos uma vez por ano. Também que a Igreja estipula que a Comunhão seja procurada “in articulo mortis”, ou seja, quando os fiéis correm grave risco de morte. Com o tato de uma mãe, a Igreja determina a obrigação da Comunhão anual, aconselha fortemente a Comunhão frequente e até permite o privilégio de recebê-la duas vezes ao dia nas condições estipuladas.
Durante a chamada pandemia de COVID, muitos fiéis foram impedidos de assistir à Missa, de comungar e de visitar o Santíssimo Sacramento; As igrejas foram fechadas e em muitos lugares os sacramentos tornaram-se impraticáveis ou quase… justamente quando se tornaram mais urgentes. Foi doloroso.
A Eucaristia nunca pode ser superestimada
Neste contexto, não faltou quem dissesse que isto não era tão grave, que não era preciso exagerar, que a Eucaristia estava sendo sobrevalorizada, que sempre tivemos momentos na história do cristianismo de pessoas que não conseguiam comparecer à celebração ou receber a comunhão e isso não significa que a Fé tenha desmoronado; em suma, que não havia necessidade de ficar obcecado pela Eucaristia, porque Jesus Cristo também tem outras formas de presença: a Bíblia, os pobres, onde dois ou mais se reúnem em seu nome, etc. Muitos pensaram assim e alguns até disseram isso. Como se vê, são afirmações simplistas e até chocantes pois implicam uma subestimação e uma banalização do mistério eucarístico.
No sentido contrário, vejamos o que pensava e escreveu São Pedro Julião Eymard em sua época: “Eu estava obcecado com a ideia de que não existia nenhuma congregação consagrada a glorificar o Santíssimo Sacramento com dedicação total; essa congregação devia existir. Então prometia a Maria trabalhar para esse fim (…) Amemos apaixonadamente a Eucaristia. Alguns nos dirão “mas isso é um exagero!” Mas o que é o amor senão o exagero? Exagerar é ir além. Pois bem, o amor deve exagerar. Quem se limita a fazer o que é estritamente seu dever não ama. O nosso amor, para ser uma paixão, deve sofrer a lei das paixões humanas (…) na ordem da salvação é necessário também ter uma paixão que domine a nossa vida”.
Com relação à Eucaristia, entre a indiferença e a paixão, um católico sensato, de acordo com a Fé e a razão, optará naturalmente pela paixão.
A esta verdade sempre válida, acrescentemos outra, particularmente oportuna: nada é mais benéfico nos dias críticos em que vivemos do que a proximidade dos altares onde se imola e se dá como alimento o melhor dos amigos.
Por Padre Rafael Ibarguren, EP – Conselheiro de Honra da Federação Mundial das Obras Eucarísticas da Igreja.
Traduzido por Emílio Portugal Coutinho.
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