No início do século IV houve troca brusca da parte do poder romano em relação ao cristianismo. Diocleciano, já velho e doentio, deu início à mais cruel das perseguições. No Egito, chamado de China do mundo antigo, a perseguição chegou à mais terrível crueldade: homens, mulheres e crianças eram condenados a suplícios que a fértil e macabra fantasia dos algozes inventava para tornar mais atrozes os sofrimentos dos condenados, a tal ponto que muitos pagãos ficavam com dó e procuravam ajudar os cristãos. Nós agora lemos com certa curiosidade e incredulidade as Paixões, isto é, o balanço das últimas horas dos mártires, os processos e as condenações, suas respostas aos juízes. São frutos quase sempre de piedosas fantasias, contos lendários, conservados com o fim de edificação.
Assim é também o que se refere à santa que hoje comemoramos, a nobre Catarina de Alexandria, cujo martírio atingiu mais a fantasia popular enquanto parecia tratar-se de menina de alta sociedade, inteligente, bela de rosto e de alma. Maximino Daia teria se apaixonado tanto por Catarina a ponto de querer divorciar-se de sua mulher para se casar com ela. Com a firme rejeição de Catarina, pôs cinquenta filósofos para convencê-la de que Cristo, que tinha morrido na cruz, não podia ser Deus. Mas Catarina fazendo uso da arte retórica, e sobretudo dos bons conhecimentos filosóficos e teológicos, acabou por ganhar para a sua parte aqueles sábios, que iluminados pela graça, aderiram ao cristianismo: duplamente vencido aos olhos dos pagãos, eles receberam a coroa dos mártires, porque Maximino os fez trucidar.
Quanto a Catarina, não conseguindo dobrá-la aos seus desejos, Maximino procurou fazê-la triturar pelas rodas de um carro com pontas de ferro, que ao contato com o corpo da menina, dobraram-se como se fossem de vime. Por causa desse episódio os que lidam com rodas elegeram-na como padroeira.
Levada para fora da cidade, Catarina foi decapitada, mas do pescoço cortado, em vez de sangue, saiu, como de certas ervas, leite, merecendo com isso segundo título de protetora daquelas que, tendo pouco leite, devem amamentar seus pequenos. Os prodígios não acabaram aqui: do céu desceram os anjos, que transportaram o corpo da mártir para o monte Sinai, onde mais tarde teria nascido um convento a ela consagrado.
Extraído do livro:
Um santo para cada dia, de Mario Sgarbossa e Luigi Giovannini.
FONTE: PAULUS