O sumo objetivo dos reis de Portugal quanto ao Brasil, desde seu descobrimento, foi catequizar seus habitantes e transformá-lo numa nação fidelíssima à Igreja Católica Apostólica Romana.

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Redação (25/06/2025 09:58, Gaudium Press) Dom Manuel, o Venturoso, constituiu uma esquadra de três navios e dez caravelas, com a participação de sacerdotes e 1.500 homens do mar. Incumbiu seu comandante, Pedro Álvares Cabral, de pedir ao Samorim – rei do atual Estado indiano de Kerala – autorização para pregar a Fé cristã em suas terras e, se recusasse, “lhe pôr ferro e fogo e lhe fazer crua guerra”.[1]
Em 8 de março de 1500, numa igreja de Belém – bairro de Lisboa – o Bispo de Ceuta celebrou solene Missa da qual participaram Dom Manuel e toda a Corte; por convite do monarca, em sua cabine real estava presente Pedro Álvares Cabral.
Após a celebração eucarística, realizou-se majestosa procissão até o porto do estuário do Rio Tejo, onde aguardavam os navios nos quais embarcaram também 17 padres.
Primeira Missa: índios se ajoelham e batem no peito
Arrastados por correntes marítimas, em 22 de abril – quarta-feira depois da Páscoa – avistaram uma proeminência à qual chamaram Monte Pascoal, e denominaram o continente Vera Cruz, posteriormente mudado para Terra de Santa Cruz. O Monte Pascoal situa-se no atual município de Porto Seguro, Bahia. Ancoraram e foram bem recebidos pelos tupiniquins, povo indígena.
Em 26 de abril – dia de Nossa Senhora do Bom Conselho –, Frei Henrique de Coimbra – superior dos missionários franciscanos que mais tarde se tornou bispo – celebrou a Primeira Missa, na ilhota Coroa Vermelha. Diversos índios assistiram-na e, “ao levantar da Hóstia e cálice, se ajoelharam e batiam nos peitos como faziam os cristãos”.[2]
Poucos dias depois, a esquadra zarpou em direção à Índia, deixando na praia dois degredados e dois grumetes.
Caramuru
Em 1510, um barco conduzindo diversos portugueses naufragou na Baía de Todos os Santos, em Salvador. A maioria dos que conseguiram se salvar foi devorada pelos selvagens. Os outros, entre os quais Diogo Álvares Correia, estavam reservados para o próximo festim canibalesco.
Diogo levara consigo uma espingarda com uma porção de pólvora e, vendo uma ave, com um tiro matou-a. Assombrados, os índios gritaram “Caramuru”, que significava na linguagem deles homem de fogo, ou filho do trovão.
Pouparam-lhe a vida e passaram a tratá-lo com sumo respeito. O chefe dos silvícolas entregou-lhe sua filha Paraguassu em casamento.
Fidalgo da Casa Real de Portugal, era culto e falava outros idiomas. Tendo um navio francês aportado no litoral da Bahia, Diogo manteve conversações com o comandante que o conduziu depois, juntamente com sua esposa, até a França.
Acolhidos por Henrique II e Catarina de Médicis, reis dessa nação, Paraguassu foi solenemente batizada e recebeu o prenome de Catarina, em homenagem à rainha, sua madrinha. Posteriormente ambos voltaram ao Brasil.
Certo dia, Catarina Álvares teve uma visão de uma belíssima Senhora que lhe pediu procurar, entre os despojos de um navio, uma caixa na qual sua imagem se encontrava. Comunicou o fato ao seu esposo que rapidamente tomou providências e achou referidos objetos.
A bela imagem foi colocada numa capela e hoje se encontra no altar-mor da Igreja Nossa Senhora da Graça, em Salvador.
Frei José de Santa Rita Durão escreveu, em 1781, o poema épico “Caramuru”, composto de dez cantos.
Sumé
Contavam os índios que, segundo narrativas de seus antepassados, estivera no Brasil o Apóstolo São Tomé, chamado por eles “Sumé”, o qual lhes deu muitos ensinamentos. Alguns selvagens quiseram matá-lo atirando flechas, mas estas se voltavam contra eles e os deixavam sem vida.
Em diversos lugares ele implantara cruzes e existiam em pedras marcas de seu cajado e de seus pés.[3] São José de Anchieta e o Padre Manoel da Nóbrega consignaram por escrito que viram esses sinais milagrosos.
Tendo Manuel I falecido em 1521, sucedeu-o seu filho João III que instituiu em Portugal a Inquisição e recebeu o cognome “o Piedoso”.
Capitanias hereditárias: verdadeiros feudos
Para combater invasores do Brasil, civilizá-lo e, sobretudo, ajudar a catequização dos índios, o novo rei instituiu, em 1530, as Capitanias hereditárias, “implementadas com o objetivo de converter a população nativa ao Cristianismo, alinhando-se ao ideal das Cruzadas”.[4]
O mais destacado dos donatários foi Martim Afonso de Souza, de alta nobreza e espírito combativo. Num lado da lâmina de sua espada estavam gravadas estas palavras: “Não me saques sem necessidade”; e no outro: “Não me embainhes sem honra”.[5]
Entretanto, ele voltou a Portugal dois anos depois sem cumprir inteiramente sua alta missão…
“As capitanias foram constituídas para serem verdadeiros feudos, quer dizer, pequenas monarquias orgânicas e hereditárias”. Porém, fracassaram “porque a nobreza a quem foram concedidas desejava viver em Lisboa. Já não era a nobreza feudal, mas a dos tempos modernos, do século XVI”.[6]
“Algo acontecerá um dia…
Tecendo comentários a respeito do Brasil, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira afirmou que sua missão providencial “consiste em crescer dentro de suas próprias fronteiras, em desdobrar aqui os esplendores de uma civilização genuinamente católica, apostólica e romana, e em iluminar amorosamente todo o mundo com o facho desta grande luz, que será verdadeiramente o Lumen Christi que a Igreja irradia.
“Nossa índole meiga e hospitaleira, a pluralidade das raças dos que aqui vivem em fraternal harmonia, o concurso providencial dos imigrantes que tão intimamente se inseriram na vida nacional, e mais do que tudo as normas do Santo Evangelho, jamais farão de nossos anseios de grandeza um pretexto para jacobinismos tacanhos, para racismos estultos, para imperialismos criminosos. Se algum dia o Brasil for grande, sê-lo-á para bem do mundo inteiro.
“O Brasil não será grande pela conquista, mas pela Fé; não será rico pelo dinheiro tanto quanto pela generosidade”.[7]
“Algo acontecerá um dia que o colocará à altura de suas grandezas e dos valores depositadas pela Fé no seu coração”.[8]
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] GALANTI, Raphael M. Compêndio de História do Brasil. São Paulo:Tipografia da industrial de São Paulo. 1896, tomo I, p. 29.
[2] SALVADOR, Vicente do. História do Brasil. Brasília: Edições do Senado Federal. 2010, v. 131, p. 66.
[3] Cf. ROCHA PITA, Sebastião da. História da América Portuguesa. Lisboa: Oficina de Joseph Antônio da Silva. 1730, p. 48-49.
[4] MAURO, Frédéric. Le Portugal, le Brésil et l’Atlantique au XVIIe siècle (1570-1670): étude économique. Paris: Fondation Calouste Gulbenkian. 1983, p. 6-7.
[5] GALANTI, op. cit., p. 90.
[6] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Cintilações da História do Brasil. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano III, n. 25 (abril 2000), p. 19; A arte de governar. Ano XXIII, n. 265 (abril 2020), p. 20
[7] Idem. “O Legionário”. São Paulo, 7/9/1942.
[8] Idem. Brasilidade… In Dr. Plinio. Ano VIII, n. 88 (julho 2005), p.34.
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