A maneira mais eficiente de medir o nosso progresso na vida espiritual é observar a quantas anda a caridade para com o próximo.
Redação (13/07/2025 10:44, Gaudium Press) Na liturgia de hoje, as leituras convergem, em seu conjunto, para uma linha de pensamento que se pode resumir em uma palavra: caridade! Diante de uma pergunta tão simples: “quem é o meu próximo?”, o Divino Mestre ensina não somente que o próximo pode ser até mesmo um inimigo, mas que a medida com que se ama o próximo é semelhante àquela com que se ama a Deus.
A lei da caridade
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lv 19,18)
Na primeira leitura, Deus expressa que sua lei não está acima de nossas forças para ser cumprida, mas está ao nosso alcance e nos é conhecida. Entretanto, para que não houvesse dúvidas a respeito desse mandamento, Jesus, no Evangelho, graças à pergunta do doutor da lei, exemplifica com uma parábola.
O Divino Mestre descreve a atitude de três personagens diante do homem que caiu na mão dos ladrões: o sacerdote, cuja principal função consiste no cuidado das almas, que desviou do caminho ao vê-lo — provavelmente a fim de evitar esforços —, bem como o levita, que agiu do mesmo modo. Por fim, chegou o samaritano, que tratou de suas feridas e o levou a uma hospedaria, prometendo pagar os gastos do enfermo.
Analisando esta narração, podemos ver que cada detalhe vem carregado de princípios: o único que se dispôs a ajudar aquele homem foi um samaritano. Ora, sabe-se que os judeus eram verdadeiros inimigos dos samaritanos, e Nosso Senhor Jesus Cristo apresenta a verdadeira lei: a lei da caridade. Por isso, na primeira leitura, Deus atesta: “essa palavra está perto de ti, […] no teu coração” (Dt 30,14), porque o coração é símbolo do amor, símbolo desta lei, que está gravada no nosso interior. Mas quão diferente é essa lei do conceito de caridade de certos movimentos humanitários, muitas vezes mais preocupados com o bem do corpo do que com a salvação da alma.
Em outras palavras, o verdadeiro amor não se pode conter diante de um necessitado, mesmo sendo um inimigo – entendido aqui nos assuntos relacionados ao mero egoísmo pessoal, em que não entra em consideração a glória de Deus –, mas tem necessidade de se expandir sacrificando o próprio tempo e se esforçando para ajudar, porque a caridade para com o próximo é reflexo do amor a Deus.
A vida espiritual se reflete na caridade
Outro ensinamento preciosíssimo que se pode haurir desta parábola é que a caridade é um reflexo da vida interior, pois, como ensina São João, quem não ama o irmão, a quem vê, não pode amar Deus, a quem não vê (cf. 1Jo 4,20). Assim, o amor a Deus tanto do sacerdote quanto do levita se demonstrou na atitude que eles tomaram em relação àquele necessitado: fugindo. Talvez o Salvador quisesse deixar claro ao mestre da lei que não basta conhecer os mandamentos, mas é preciso praticá-los também.
E isto significa praticar todos os mandamentos. Basta ver quantas vezes Nosso Senhor repreendeu publicamente os fariseus por usarem a própria lei para se abster de seu cumprimento (cf. Mt 23,13-36). De fato, o mesmo Senhor que decretou não roubar e não matar também ordenou não mentir, não pecar contra a castidade, não desejar a mulher do próximo etc.. Isso quer dizer que se alguém cumpre uma parte dos mandamentos, mas despreza a outra, não pode verdadeiramente amar a Deus, porque a verdadeira caridade leva aquele que ama a desejar as mesmas coisas que deseja o amado, bem como a rejeitar tudo quanto rejeita o amado. Ou seja, quem verdadeiramente ama a Deus, consequentemente rejeita também todo o pecado.
Desta forma, a liturgia de hoje nos convida a fazer um exame de consciência para analisar o nosso amor, no sentido de conformá-lo com o amor apontado por São Paulo, no qual “aprouve a Deus fazer habitar toda a plenitude e por seu intermédio reconciliar consigo todas as criaturas, […] ao preço do próprio sangue na cruz” (Cl 1,19-20) e retribuir, na medida em que a natureza humana é capaz, este amor do Sagrado Coração de Jesus por nós.
Por Vinícius Mendes
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