Home / Notícias da Igreja / Apostolado, a fonte da alegria

Apostolado, a fonte da alegria

Como sermos verdadeiramente felizes? É o que nos mostra o Evangelho deste 14º Domingo do Tempo Comum

500px Christ Taking Leave of the Apostles

Redação (05/07/2025 19:29, Gaudium Press) É cada vez mais comum em nossos dias ouvirmos casos de pessoas que não querem mais viver, pois, dizem elas, “a vida não tem mais sentido”. Qual é a causa disso? O que faz com que a vida perca o seu sentido?

Ensina o Pe. Royo Marín: “Alcançando sua própria felicidade, o homem glorifica a Deus e, glorificando-O, encontra sua própria felicidade. São dois fins que se confundem realmente, embora haja entre eles uma diferença de razão. A suprema glorificação de Deus coincide plenamente com a nossa suprema felicidade”.[1]

Com efeito, o homem, para ser feliz e encontrar o norte da sua peregrinação terrena, precisa dar glória ao Criador. Ora, como o bem é iminentemente difusivo,[2] existe na alma humana um desejo natural de fazer os outros tomarem parte nessa glorificação. Vemos que o apostolado é uma condição essencial para alcançarmos a felicidade e é justamente sobre essa missão que trata o Evangelho deste 14º domingo do tempo comum.

No que consiste o apostolado?

“Naquele tempo, o Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir” (Lc 10,1).

Nosso Senhor começa o Evangelho mostrando qual é o verdadeiro papel do apóstolo: preparar as almas para receber o Mestre. Essa preparação é importantíssima para evitar qualquer obstáculo no momento do encontro com o Bem Encarnado, e exige do discípulo uma verdadeira despretensão.

Ao mesmo tempo, percebe-se, neste trecho, o zelo de Cristo por seus discípulos, enviando-os sempre em duplas para que, em meio às dificuldades da atuação no mundo e às investidas do demônio, sempre um encontre apoio colateral.

Qualidade ou quantidade?

“E dizia-lhes: ‘A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, pedi ao dono da messe que mande trabalhadores para a colheita’” (Lc 10,2).

Neste versículo encontramos um princípio muitas vezes olvidado: mais vale a qualidade do que a quantidade. Esta desproporção entre o número de missionários e as almas a serem evangelizadas é uma constante na História da Igreja, a começar pelo seu início: Nosso Senhor poderia ter escolhido 120 apóstolos, mas Ele preferiu 12. Por quê? Porque ele sabia ser muito mais útil poucos que se entregam totalmente do que uma multidão que serve a dois senhores. As grandes atuações de Deus na história se pautam por este princípio, já que o verdadeiro apóstolo é aquele que pode ser contado entre esses poucos.

Instruções aos enviados

“Eis que vos envio como cordeiros para o meio de lobos” (Lc 10,3)

Não querendo alimentar falsas esperanças sobre a missão que realizariam, Nosso Senhor os adverte sobre as perseguições que enfrentarão, pedindo deles uma confiança incondicional em sua proteção, bem como uma vigilância e sagacidade em relação aos ataques dos “lobos”.

“Não leveis bolsa nem sacola nem sandálias e não cumprimenteis ninguém pelo caminho” (Lc 10,4).

Visando preveni-los ainda das ilusões do mundo, Nosso Senhor utiliza-se de objetos representativos das condições sociais e financeiras da época, para mostrar que seus discípulos precisavam abandonar-se inteiramente nas mãos da Providência, renunciando a preocupar-se desmesuradamente com as coisas que os ligavam às preocupações supérfluas que envolvem a existência humana.

Também vemos um estímulo à vigilância no convívio com as pessoas, pois, além de retardar o cumprimento da missão à qual foram enviados, podiam ser uma fonte de más influências que os desviariam totalmente do ideal ao qual serviam.

“Mas, quando entrardes numa cidade e não fordes bem recebidos, saindo pelas ruas, dizei: ‘Até a poeira de vossa cidade que se apegou aos nossos pés, sacudimos contra vós’” (Lc 10,10–11).

Diante de uma rejeição, o apóstolo não pode calar-se; deve incentivar o temor a Deus, pois já diz o profeta: “Clama em alta voz, sem constrangimento; faze soar a tua voz como a corneta. Denuncia a meu povo suas faltas” (Is 58,1). O trato áspero (e justo), nessas circunstâncias, é também uma forma de apostolado, fazendo aproximarem-se de Deus pela dor aqueles que não o quiseram pelo amor.

Retorno dos discípulos

“Os setenta e dois voltaram muito contentes, dizendo: ‘Senhor, até os demônios nos obedeceram por causa do teu nome’. Jesus respondeu: ‘Eu vi Satanás cair do céu, como um re­lâmpago. Eu vos dei o poder de pisar em cima de cobras e escorpiões e sobre toda a força do inimigo. E nada vos poderá fazer mal. Contudo, não vos alegreis porque os espíritos vos obedecem. Antes, ficai alegres porque vossos nomes estão escritos no céu’” (Lc 10,17)

O sucesso sempre é uma ocasião de uma nova tentação: a apropriação!

Ora, tendo realizado milagres, expulsado demônios e curado doentes, os discípulos podiam pensar erradamente que aquele poder vinha deles mesmos, e o desejo inicial de glorificar o Mestre podia, aos poucos, ser substituído pelo egoísmo. Para evitar esse mal na alma dos seus, Jesus mostra que todas aquelas maravilhas foram feitas pelo nome d’Ele e que todo o poder que tinham recebido também vinha d’Ele; assim, eles não tinham do que se orgulhar, pois, sem Cristo, nada podiam fazer.

Em seguida, Nosso Senhor, aponta a sublime causa pela qual deveriam realmente exultar – e aqui temos o principal ensinamento desta liturgia: por terem cumprido sua missão na Terra, glorificando ao Criador e fazendo com que essa glória fosse dada pelo maior número possível de pessoas, mediante o apostolado colateral, estava-lhes garantida a verdadeira e eterna felicidade, pois seus nomes estavam “escritos no Céu”.

Portanto, tenhamos empenho em exercer com perfeição nosso apostolado, para sermos dignos de tão grande dádiva e vivermos repletos de alegria!

Por Artur Morais


[1] ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología Moral para seglares. Madrid: BAC, 1996, v.I, p.29.

[2] Cf. TOMÁS DE AQUINO. Summa Theologiæ, I, q. 5, a. 4, arg. 2: “Bonum est diffusivum sui esse”. Nesta passagem, o Aquinate endossa uma citação de Dionísio.

The post Apostolado, a fonte da alegria appeared first on Gaudium Press.