Eles são os homens que conquistam e governam. Entre muitos deles estão os chefes e os grandes apóstolos.
Redação (30/10/2022 11:41, Gaudium Press) Caracterizar uma pessoa de temperamento colérico apenas por seu presumido “pavio curto”, seria empobrecer – e muito – a grande soma de atributos que residem em sua psicologia.
De fato, é comum entre os coléricos que suas reações sejam instantâneas, prontas, e de forma violenta. Mas isso, de forma alguma, é mau, objetivamente falando. O problema está em não saber canalizar estas particularidades psicológicas.
Arrogância que pode chegar à crueldade…
O caráter tenaz e vigoroso dos coléricos torna-os propensos à dureza, à arrogância, à teimosia e ao orgulho. Nos homens pouco exercitados nas virtudes cristãs, qualquer repreensão ou contrariedade se torna insuportável. Quando vencidos, retêm seu ódio guardado, esperando o momento da vingança… Ademais, tendem a ser ambiciosos e a se vangloriar, não sendo inclinados a entender a dor e as dificuldades alheias. Por isso, se não tomam cuidado e não são bem educados, possuem um trato em que a brutalidade se torna muito patente, chegando, muitas vezes, até à crueldade.
…ao lado de um ímpeto incontenível, capaz de grandes conquistas
Entretanto, o que seria da História se não fossem os coléricos? No campo natural, foram muitos deles os grandes conquistadores, chefes e governadores. No campo espiritual, abundam os exemplos de heroicos apóstolos, fundadores, além de um número incontável de santos canonizados. E por quê? Os coléricos sempre estão elaborando pujantes projetos e colocando-os em prática. Eles sentem repugnância da inação, e não deixam para o dia de amanhã o que podem fazer hoje; pelo contrário, costumam fazer hoje o que podiam deixar para amanhã… São práticos e habilidosos; nunca se deixam vencer pelas dificuldades, mas as enfrentam “de viseira erguida”.
Nas mãos dos coléricos, os trabalhos muitas vezes chegam a bom termo. Se sabem canalizar suas energias, são tenazes e perseverantes.
Mas eles devem ser conduzidos pelas trilhas da humildade e piedade para com os outros, nunca atropelando ou humilhando a seus próximos. A cólera direcionada a quem não deve torna-se raiva infantil e caprichosa – por isso se diz que “a raiva é a cólera dos fracos” – direcionada, entretanto, ao mal, é meio indispensável de se alcançar a glória de Deus.
Assim, sem abandonar seu vigor e tenacidade, os coléricos podem alcançar os grandes píncaros da perfeição. E há uma característica comum entre os santos de temperamento colérico: pela prática das virtudes, atingem uma grande delicadeza de trato que chega, por vezes, até à suavidade e à doçura. São Francisco de Sales, o santo da suavidade, era fortemente colérico. Além dele, podemos mencionar ínclitas figuras, como São Jerônimo, Santo Inácio de Loyola e o próprio São Paulo Apóstolo. [1]
Por João Paulo Bueno
[1] Cf. MARÍN, Antonio Royo. Teologia da perfeição cristã. Trad. GOMES, Flévio M. P.; ZIMMERMANN, Dalton César. 4 ed. Anápolis: Magnificat, 2020, p. 722-728.
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