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Beato Angélico combateu a Revolução tendenciosa

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No século XV, houve um sacerdote que, através da pintura, opôs-se radicalmente ao espírito revolucionário difundido pela Renascença: Beato Angélico.

572px Paul Hippolyte Flandrin Fra Angelico visite par les anges 1894

Redação (01/02/2025 15:17, Gaudium PressFilho de camponês, Beato Angélico nasceu por volta de 1395 num vilarejo de Florença – Centro Oeste da Itália – e em sua mocidade mudou-se para essa cidade, onde aprendeu pintura com um monge beneditino, então célebre artista.

Certo dia, ouvindo uma pregação do Beato João Dominici, Fundador do convento dominicano de Fiesole, nas cercanias de Florença, quis ser frade. Dominici foi depois nomeado cardeal e tomou medidas sapienciais que extirparam o Cisma do Ocidente.

Ingressou nessa Casa religiosa, escolheu o nome João, por admiração ao Fundador, e foi ordenado sacerdote.

O carisma dos dominicanos é a pregação. Movido por divina inspiração, o prior do convento, Santo Antonino – futuro Arcebispo de Florença –, considerando seu grande talento, ordenou-lhe que se dedicasse a pregar através da pintura.

Ele permaneceu em Fiesole de 1420 a 1438, onde efetuou pinturas no próprio convento e atendeu encomendas de igrejas célebres, bem como de importantes famílias desejosas de decorar as capelas dos seus palácios.

 Por três vezes, Frei João foi prior do Convento de Fiesole. Dedicado a formar seus discípulos para a santidade, continuou fazendo apostolado através de seus maravilhosos quadros. Era chamado Fra Angélico.

Desfizeram seus quadros no Palácio Apostólico

Em 1439, mudou-se para o Convento de São Marcos, na cidade de Florença, que estava sendo reconstruído e ali pintou quadros considerados sua obra magna.

Eugênio IV viajou até lá para a cerimônia de dedicação da igreja conventual, e visitou as celas dos frades cujas paredes estavam decoradas com obras de Fra Angélico.

O pontífice o convocou para ir a Roma a fim de decorar partes do Palácio Apostólico, que atualmente possui 1.400 peças, entre as quais os aposentos do papa e escritórios da Cúria Romana.

Viajou para a Cidade Eterna, em 1445, e pintou quadros em vários locais desse Palácio. Os efetuados na Capela do Santíssimo Sacramento e no gabinete de trabalho de Nicolau V, sucessor de Eugênio IV, foram desfeitos no século XVI.

Por que os destruíram?

O Beato Angélico batalhou, através de suas obras pictóricas, contra o espírito revolucionário da Renascença.

Ainda quando pintavam ou representavam cenas religiosas, os renascentistas só espelhavam a natureza, excluindo completamente o transcendente, os valores sobrenaturais e a vida eterna, que caracterizavam o espírito medieval.[1]

Recusou o Arcebispado de Florença

Eugênio IV ofereceu ao Beato Angélico o Arcebispado de Florença, um dos mais importantes da Itália. Por humildade, ele recusou e sugeriu para esse cargo seu confrade Santo Antonino, o que foi aceito pelo pontífice.

O Beato preparava-se para ornar a Basílica de Santa Maria sopra Minerva, de estilo predominantemente gótico e construída sobre as ruínas do templo dedicado à deusa Minerva.

Atingido por uma enfermidade, recolheu-se em sua cela. Percebendo que a hora extrema se aproximava, os monges começaram a cantar, em gregoriano, a Salve Regina.  Seu rosto se iluminou, esboçou um suave sorriso e sua alma foi levada ao Céu.

Narra a lenda que, nesse momento, uma lágrima deslizou sobre a face de todos os Anjos dos quadros pintados por ele. Era o dia 18 de fevereiro de 1455.

Na lápide do seu túmulo foi escrito: “Mereceu a glória mais por sua caridade do que por sua arte”.

Sua memória é celebrada em 18 de fevereiro.

A harmonia não é igualitária, mas hierárquica

Sintetizamos alguns comentários feitos por Dr. Plinio Corrêa de Oliveira a respeito desse varão de Deus.

São Tomás de Aquino e o Beato João de Fiesole foram chamados, respectivamente, o Doutor e o pintor Angélicos.

Se a Idade Média não fosse interrompida em sua caminhada rumo a um esplendor de realizações católicas, teríamos tido “Angélicos” em vários terrenos. Pois houve guerreiros angélicos como São Luís IX e São Fernando de Castela.

Surgiria, então, uma ordem angélica no mundo, sobrenatural, luminosa, coerente, profundamente lógica, que seria a da Civilização Cristã e da Santa Igreja Católica Apostólica Romana. Uma ordem mais própria para Anjos do que para homens, conduzindo estes ao Paraíso.

As obras de Fra Angélico e de São Tomás de Aquino são manifestações da virtude da sabedoria, por onde o homem apetece a coerência e a profunda harmonia interior das coisas, muito mais do que as trivialidades ou bens menores do existir humano.

Sua natureza encontra plena expansão nessa harmonia e, sobretudo, ela exprime algo de inefável, total, que é a melhor representação de Deus.

O Criador é simbolizado nessa harmonia de todas as coisas. E quem a ama, ama o símbolo e, portanto, o próprio Deus, predispondo assim sua alma para o Céu.

Convém ressaltar que essa harmonia não é igualitária, mas hierárquica, tendo seu cume no sublime, o ponto supremo da ordem criada, do qual todas as harmonias derivam.[2]

Temperança e sabedoria do espírito medieval

Por meio das artes a Renascença atuou nas tendências do homem, influenciou a fundo as mentalidades e induziu pessoas, famílias e povos à formação de um estado de espírito profundamente revolucionário.[3]

Na iconografia, por exemplo, os Anjos são representados como crianças desnudas, ou adultos gorduchos de fisionomias vazias, braços roliços, membros inferiores descobertos. Alguns estão sentados em cima de nuvens, sobre um céu azul, tocando harpa.

O Beato Angélico batalhou tenazmente contra essa Revolução tendenciosa.

“Nos Anjos que retratou, soube expressar a temperança e a sabedoria do espírito medieval, voltada para as riquezas celestiais.

“Anjos de alma tão límpida, tão honesta, que estão dispostos a toda espécie de serviço. Tão fortes e conscientes de si, que estão prontos para toda sorte de domínio. Tão pacíficos, que são Anjos da paz; tão combativos, que são Anjos de combate ao mal.

“Todos os contrastes, todos os opostos harmônicos neles se acham em estado maravilhoso. São uma síntese magnífica e um símbolo perfeito das melhores disposições da alma medieval”.[4]

No fundo, o que São Tomás entendeu e escreveu, Beato Angélico discerniu e pintou, é o que no Reino de Maria se verá.

Contemplar-se-á, através de todas essas harmonias, algo que nos faça pensar no semblante imaculado, sacratíssimo, régio, maternal e meiguíssimo de Nossa Senhora. E naquilo para o qual não há palavras, cessam os adjetivos, tudo é silêncio e adoração reverente: a Face de Nosso Senhor Jesus Cristo.[5]

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Na Renascença, domínio do natural e do terreno. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano III, n. 23 (fevereiro 2000), p.12-16.

[2] Cf. Idem. Beato Fra Angélico, o São Tomás da pintura. In Dr. Plinio. Ano VIII, n. 83 (fevereiro 2005), p. 29-30.

 [3] Cf. Idem. Revolução e Contra-Revolução.10. ed. em português.  São Paulo: Associação Brasileira Arautos do Evangelho. 2024, p. 84.

[4] Idem. Supremacia da alma. In Dr. Plinio.  Ano XI, n. 123 (junho 2008). p. 33-34.

[5] Cf. Idem. Beato Fra Angélico, o São Tomás da pintura. In Dr. Plinio.  Ano VIII, n. 83 (fevereiro 2005), p.30.

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