Coloquemo-nos em espírito junto à gruta de Belém para ouvirmos o que o Menino Jesus quer nos dizer.
Redação (28/12/2021 09:23, Gaudium Press) Natal. Palavra breve, simples, singela, mas cheia de significado. Sua sonoridade é muito semelhante na maior parte das línguas e sua ressonância, no coração dos verdadeiros católicos, é invariável: ela nos fala de alegria, de inocência, de paz, de luz, em suma, nos fala do nascimento de Jesus.
Além disso, o Natal é uma data propícia para nos lembrarmos de nossa infância. Quanta alegria sentíamos durante as comemorações com toda a família reunida; quanto prazer nos pervadia a alma ao abrirmos os presentes de Natal que tanto havíamos desejado; que paz e que tranquilidade nos envolvia ao colocarmo-nos de joelhos diante do Santíssimo Sacramento e implorarmos com piedade ao Menino Jesus todas as Graças de que precisávamos!
Há também outra coisa que ocorre no Natal. Temos a impressão de que o mal perdeu sua força, que o pecado foi vencido e que uma luz misteriosa paira sobre os homens, convidando-os à paz, à alegria, à conversão.
Na verdade, não é uma mera impressão, mas é a realidade!
A plenitude dos tempos
Já no primeiro Natal isto se deu. Como sabemos, Deus enviou seu Filho ao mundo “quando veio a plenitude dos tempos” (Gl 4,4). De fato, Nosso Senhor poderia ter nascido em qualquer outra época histórica, mas Ele quis vir ao mundo “na plenitude dos tempos”. Ora, o que vem a ser tal plenitude?
Na homilia de abertura da quaresma de 2001, o papa São João Paulo II explicou que “plenitude dos tempos” significa o “tempo favorável […], isto é, o tempo em que Deus, através de Jesus, ‘satisfez’ e ‘socorreu’ o seu povo, realizando plenamente as promessas dos profetas”.[1]
Realmente, o mundo antigo vivia afundado numa corrupção de costumes nunca visto, corroído pela idolatria, pela dureza de coração, pela ganância, pela crueldade, pela tirania e por tantos outros vícios. Segundo muitos comentadores, essas eram as “trevas” nas quais brilhou a luz do Salvador, trevas estas que não puderam dominar a Luz de Cristo, como nos diz São João (cf. Jo 1,5).
Portanto, “a plenitude dos tempos” é o momento em que as trevas do mal parecem ter vencido, mas logo são dominadas pelo poder de Deus. De fato, era preciso que se fizesse noite sobre o mundo, para que a Luz radiante do Salvador brilhasse com mais esplendor, pois é durante a noite que a Luz mostra todo o seu esplendor! E aqui encontramos uma profunda semelhança entre o período que Nosso Senhor escolheu para nascer e os nossos dias.
Já o século XX fora “caracterizado de maneira particular pelo mistério da iniquidade”.[2] Nosso século XXI então… a cada dia os horrores multiplicam-se por si mesmos, tanto na quantidade quanto na maldade. Mas é em meio a tais trevas nefandas que a Luz de Deus começa a brilhar.
Duas posições ante o nascimento de Jesus
Nosso Senhor, em sua Divina Humildade, escolheu uma pobre gruta aos arredores de uma pequenina cidade de Judá para nascer. Sua permanência entre os homens assemelha-se muito ao modo de o astro-rei brilhar sobre o firmamento: não aparece de repente, mas vai aos poucos deitando suaves luzes sobre as trevas da noite e, quando chega o momento de seu máximo esplendor, não há escuridão que ouse tentar impedir-lhe o seu brilho. Ou seja, de tal modo a Luz do Senhor venceu as trevas, que todos os homens tomaram conhecimento da Fé. E, diante desta Boa-nova, há somente duas posições a serem tomadas: a de Herodes ou a dos reis magos.
O primeiro, além de ter assassinado muitos de seus familiares, não era o legítimo rei. O trono de Judá pertencia à estirpe de Davi, da qual fazia parte São José. Logo que Herodes soube do nascimento de Nosso Senhor, começou a tramar sua morte. Mas, como este impostor escolhera o caminho das trevas para apagar a Luz de Cristo, já estava contado entre aqueles que seriam derrotados pela força onipotente de Deus.
Em oposição ao usurpador, encontramos os reis magos. Estes santos homens vieram de longe com suas caravanas para ver, contemplar e adorar o Rei dos reis. Quiseram unir-se à Luz e, quando esta atingiu seu máximo brilho, também participaram de sua vitória.
Uma luz começa a brilhar
No entanto, isto também acontece em nossos dias. É verdade que neste século XXI as trevas tornam-se cada vez mais densas, os usurpadores e impostores multiplicam a cada dia os seus crimes. Contudo, é muito mais verdadeiro que uma Luz discreta, criada para tomar conta de toda a Terra, começa a brilhar. Ela lança seus raios rutilantes sobre todos os homens e mulheres, convidando-os a unir-se a ela em luta contra as trevas do pecado e do mal.
Qual caminho escolheremos? O de Herodes, dos impostores, das trevas e da derrota? Ou o dos reis magos, de Cristo, da luz e da vitória? É certo que os que escolherem as vias de Deus poderão bradar em breve: “A luz brilha nas trevas e as trevas não conseguiram dominá-la”. (Jo 1, 5).
Por Lucas Rezende
[1] JOÃO PAULO II. Homilia na Missa de Quinta-Feira de cinzas, de 28/2/2001.
[2] JOÃO PAULO II. Homilia em Cracóvia, de 18/8/2002.
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