O papa Francisco denunciou a violência cometida “em nome de Deus”, assim como o populismo que ameaça a paz, durante sua primeira visita ao Egito, nesta sexta-feira (28), país onde a minoria cristã local sofre constantes ataques.
“O sofrimento de vocês também é o nosso sofrimento”, declarou o sumo pontífice em discurso na sede da Igreja copta ortodoxa diante do papa Tawadros II.
Os dois líderes religiosos caminharam por 100 metros em procissão, cercados por guarda-costas e dignatários, até a igreja de São Pedro e São Paulo, atingida em dezembro por um atentado reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI).
Após chegar no início da tarde à capital egípcia, o papa pronunciou um discurso durante uma conferência organizada pela instituição sunita Al-Azhar.
“Nenhuma violência pode ser cometida em nome de Deus, porque profanaria Seu nome”, declarou o papa.
Para essa primeira visita do papa ao mais populoso dos países árabes, que segue em estado de emergência, policiais e militares eram onipresentes nas ruas da capital egípcia.
Os arredores da Nunciatura Apostólica, onde o papa deve ficar hospedado, foram fechadas ao tráfego nesta sexta-feira. E, perto da catedral, sede da Igreja ortodoxa copta, tanques estavam estacionados.
Mais cedo, Francisco se dirigiu ao palácio presidencial para uma reunião com o presidente Abdel Fattah al-Sissi. Na instituição de Al-Azhar, foi recebido pelo grande imã, xeque Ahmed al-Tayeb.
Em seu discurso, o papa denunciou “os populismos demagógicos que não ajudam a consolidar a paz”.
“Nenhuma incitação à violência garantirá a paz”, insistiu, sem citar exemplos.
Ele também pediu que “se bloqueie os fluxos de dinheiro e de armas” para “prevenir os conflitos e edificar a paz”.
“Juntos, nesta terra de encontro entre o céu e a terra, de alianças entre os povos e entre os crentes, repetimos um ‘não’ alto e claro à toda forma de violência”, insistiu.
“Apenas trazendo à luz as turvas manobras que alimentam o câncer da guerra é possível prevenir suas causas reais”, acrescentou o papa, que culpa o tráfico de armas pelos conflitos no Oriente Médio.
“Para prevenir os conflitos e construir a paz, é essencial trabalhar para eliminar as situações de pobreza e de exploração, onde os extremismos se fortalecem facilmente”, alertou.
– Respeito aos direitos Humanos
Todas as igrejas no Cairo foram colocadas sob vigilância, por medo de atentado, enquanto o EI ameaçou multiplicar os ataques contra os coptas. Majoritariamente ortodoxos, eles representam cerca de 10% dos 92 milhões de egípcios.
Mais importante comunidade cristã em número no Oriente Médio, os coptas ortodoxos do Egito se dizem vítimas de discriminação por parte das autoridades e da maioria muçulmana.
Em outro discurso pronunciado diante de Al-Sissi, o papa Francisco pediu respeito “incondicional” aos direitos humanos, citando “a liberdade religiosa e de expressão”.
Criticado no exterior por violações dos direitos humanos, Al-Sissi demonstrou certa abertura à comunidade cristã egípcia desde que chegou ao poder em 2014. Ele foi o primeiro presidente do Egito a participar de uma missa de Natal, em 2015.
O presidente prometeu aos coptas identificar os responsáveis pelos atentados reivindicados pelo EI contra as igrejas em Tanta e em Alexandria, que mataram 45 pessoas no início da Semana Santa, em 9 de abril.
– Degelo –
A viagem de Francisco é a segunda de um papa ao Egito contemporâneo, após a de João Paulo II em 2000.
A instituição sunita de Al-Azhar se opõe ao jihadismo inspirado no salafismo rigoroso dominante na Arábia Saudita.
Mas Al-Azhar está igualmente no centro de uma disputa entre as autoridades políticas e religiosas desde que Al-Sissi fez campanha por reformas, visando a erradicar os discursos extremistas na esfera religiosa.
A visita do papa ao Cairo tem como objetivo, em especial, consolidar as relações entre Al-Azhar e o Vaticano, tensas desde 2006, em razão das polêmicas declarações do papa Bento XVI, associando o Islã à violência.
Já em maio de 2016, o papa Francisco recebeu o imã Al-Tayeb, ponto culminante de uma aproximação entre a Santa Sé e Al-Azhar.
O líder espiritual de quase 1,3 bilhão de católicos finalmente se reuniu com o papa copta ortodoxo do Egito, Tawadros II.
Os dois visitaram a igreja copta de São Pedro e São Paulo, onde o atentado do EI matou 29 vítimas em dezembro passado, no coração do Cairo. Dentro do templo, Francisco se sentou junto a Tawadros II e participou de uma missa.
(AFP)