Os sucessores de Pedro foram sempre assistidos pelo Consolador em sua missão. E a Providência nunca deixou de suscitar almas proféticas para iluminar as suas vias, mesmo em situações de defecção.

Detalhe da pintura a óleo São Pedro e São Paulo. Cristóbal de Villalpando (1649 – 1714) Acervo Pinacoteca del Templo de São Felipe Neri, “La Profesa”, Cidade do México, México.
Redação (10/05/2025 08:40, Gaudium Press) Reza o ditado que Deus escreve certo por linhas tortas. Por meio de tais sinuosidades – cuja origem não se deve atribuir ao Criador, mas a causas secundárias – a Sabedoria Eterna manifesta seu poder, de tal modo extraordinário que é capaz de tirar um bem maior a partir de uma permissão dada ao mal.
Nesse sentido, para olhos mundanos a História seria uma mera sucessão de fatos casuais e até confusos, isentos de qualquer transcendência. No entanto, instituições como o profetismo no Antigo Testamento revelam que a Providência Divina imprime sempre suas digitais nos acontecimentos, até mesmo naqueles mais intricados. Se cogitarmos apenas nos exílios no Egito ou na Babilônia, como não escutar a voz de Deus nas palavras de Moisés, Jeremias ou Ezequiel? Esses profetas foram arautos do Altíssimo, verdadeiros varões providenciais em meio aos maiores dramas do povo de Israel.
Pela Encarnação, quis o Verbo de Deus unir-Se à nossa História, de modo que a humanidade participasse ainda mais da Providência Divina. Esta opera antes de tudo pelo mistério da Igreja, que visa “perdurar na terra a obra salutífera da Redenção” (PIO XII. Mystici corporis, n.63).
A Igreja foi providencialmente alicerçada em doze colunas, os Apóstolos. Jesus quis ainda firmá-la sobre uma rocha firme, Pedro, de modo que as portas do inferno jamais poderão vencê-la. Recorde-se, porém, de que o Príncipe dos Apóstolos recebeu o primado após ter reconhecido, por revelação do Pai e não pela carne ou pelo sangue, que Jesus é “o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16, 16).
Há, portanto, uma ligação intrínseca entre papado e profecia, a qual se define como a impressão de um conhecimento por revelação divina (cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. II-II, q.171, a.6). E como a reprimenda de Cristo a Pedro atesta, existe também uma “antiprofecia”: “Afasta-te de Mim, Satanás! Tu Me serves de pedra de tropeço, porque não pensas as coisas de Deus, mas as dos homens!” (Mt 16, 23). Pedro levará consigo, por toda a vida, essa dicotomia entre profetismo e antiprofetismo, em seguir o Paráclito ou a carne.
Nota-se o profetismo de Pedro logo após Pentecostes, ao se comunicar com o povo à maneira de um vaticínio (cf. At 2, 14-36). Suas inspiradas cartas exortam igualmente a se preparar para a parousia (cf. I Pd 4, 7), condenando os “falsos profetas” (II Pd 2, 1) e ao mesmo tempo exortando a esperar “novos céus e nova terra” (II Pd 3, 13). Na sua missão de Pontífice, ele testemunha que atua em união com o Espírito Santo (cf. At 5, 32), inclusive para imprecar contra o falso Pedro: Simão, o mago (cf. At 8, 9-24). Por outro lado, ao prevaricar cabe-lhe estar atento à voz de profetas como Paulo, que o enfrenta “abertamente, porque ele se tinha tornado digno de censura” (Gal 2, 11).
Os sucessores de Pedro foram sempre assistidos pelo Consolador em sua missão. E a Providência nunca deixou de suscitar almas proféticas para iluminar as suas vias, mesmo em situações de defecção. Além do supracitado Apóstolo, poder-se-iam mencionar São Bernardo de Claraval junto a Eugênio III e Santa Catarina de Siena ante os papas avignonenses. É papel dos sucessores de Pedro, portanto, serem dóceis à ação do Paráclito, não para formular uma “nova doutrina”, ao sopro dos ventos, mas sim conservar com fidelidade o depósito da fé (Pio IX, Pastor Aeternus, cap. 4, DH 3070).
Como todo Pontífice, Leão XIV receberá inspirações proféticas do próprio Espírito Santo ou de seus profetas. Para um bom pontificado, pois, basta-lhe uma coisa: ser fiel ao profetismo.
Por Pe. Felipe de Azevedo Ramos, EP
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