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23º Domingo do Tempo Comum: a Fraternidade e a correção fraterna

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A liturgia reservada para o 23º Domingo do Tempo Comum nos traz um precioso ensinamento sobre a fraternidade. Para onde, povo cristão, devemos rumar neste mundo pós-pandemia?

Redação (02/09/2020 10:52, Gaudium Press) A liturgia do 23º Domingo do Tempo Comum nos traz uma mensagem atualíssima: a da fraternidade.

Com efeito, futuras reflexões do magistério prometem nos advertir justamente sobre esta realidade tão bela e tão profunda e, segundo certa opinião comum, tão necessária e tão urgente.

É o que está contido no Evangelho do próximo domingo: “onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí, no meio deles” (Mt 18,20). A primeira característica da fraternidade é a união, o estar juntos, reunidos. E não apenas estar juntos, mas estar “de acordo na terra sobre qualquer coisa que quiserem pedir” (Mt 18, 19).

A palavra fraternidade atrai aos lábios de muitos e à cabeça de todos umas outras tantas palavras, por uma razoável associação de ideias: “concórdia”, “paz”, “diálogo”, “compreensão”, “perdão”, “união”, “igualdade”, “liberdade” etc.

Mas Nosso Senhor Jesus Cristo quer nos instruir, neste domingo, sobre outras duas qualidades que se acrescentam às características mencionadas para que pudéssemos ter o conceito de uma fraternidade verdadeira santa, autêntica e inconfundivelmente cristã.

O amor é a primeira e mais saliente característica da fraternidade, bem como de qualquer outra virtude cristã. Por este motivo, diz São Paulo na segunda leitura: “não fiqueis devendo nada a ninguém, a não ser o amor mútuo” (Rm 13, 8). Acredita-se que a fraternidade é a solução para todos os problemas de nossos dias, sejam eles sociais, raciais, econômicos, religiosos, e com razão, pois o Apóstolo continua: “O amor não faz nenhum mal contra o próximo. Por conseguinte, o amor é o cumprimento perfeito da Lei” (Rm 13, 10). O amor é, desta forma, a atributo essencial de uma fraternidade cristã.

Quando alguém possui verdadeiro amor por outra pessoa, deseja a esta todos os bens e almeja, na medida de seu amor, evitar-lhe todos os males. Assim, se andamos junto a um amigo por uma rua desconhecida, advertimo-lo rapidamente se diante dele houver um buraco ou mesmo um precipício, pois não queremos que ele caia. Ora, se desejamos para nossos amigos os bens materiais, e dentre eles, sobretudo, o bem da vida, tanto mais devemos desejar-lhes os bens espirituais, aqueles que nos vão garantir a vida eterna.

É o que, com outras palavras, nos adverte o profeta Ezequiel na primeira leitura, mostrando como praticar a caridade fraterna: “Logo que ouvires alguma palavra de minha boca, tu os deves advertir em meu nome”. (Ez 33,7). E Deus estimula o profeta a cumprir o preceito dado: “Se eu disser ao ímpio que ele vai morrer, e tu não lhe falares, advertindo-o a respeito de sua conduta, o ímpio vai morrer por própria culpa, mas eu te pedirei contas da sua morte”. (Ez 33, 8).

Ao ouvir essas palavras podemos reconhecer a gravidade da missão de cada cristão, de cada irmão do imenso Corpo Místico que é a Igreja, na medida em que cada um tenha responsabilidades e possibilidades de advertir seus irmãos. A verdadeira fraternidade, portanto, ama, e amando adverte, corrige, avisa, alerta a respeito do mal que pode ameaçar as almas e comprometer-lhes a salvação eterna.

Se imaginarmos dois irmãos que, nas sombras da noite, concordassem na prática de um horrível crime, podemos dizer que foram, no sentido mais elevado e nobre da palavra, irmãos um do outro? Será nosso irmão aquele que nos impele a praticar o mal, que se faz cúmplice de nossas mazelas ou de nossos crimes? Não é o que nos ensina Nosso Senhor no Evangelho: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo…” (Mt 18, 15). Eis a atitude à qual um verdadeiro irmão é impelido quando se depara com um mal alheio: a correção.

“Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão. Se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas para que toda a questão seja decidida sob a palavra de duas ou três testemunhas” (Mt 18,15.16). A correção fraterna é, de fato, cheia de amor, de delicadeza, mas também de insistência e não de concessão. Devemos querer tirar nossos próximos do mal em que se encontram, mesmo que com isso tenhamos que fazê-los sofrer. Desejando um bem muito maior ao nosso irmão, não devemos temer magoá-lo ou envergonhá-lo, como o médico não deve temer os desconfortos e as dores do tratamento ao qual submeterá o doente. E “Se ele não vos der ouvido, dize-o à Igreja” (Mt 18, 17). Nosso Senhor nos ensina a recorrer à Igreja, a comunidade dos fiéis divinamente hierarquizada pelo próprio Nosso Senhor, na qual Ele mesmo instituiu ministros para que houvesse um edifício visível, no qual os homens pudessem contemplar o esplendor da Verdade. Nosso Senhor nos ensina a recorrer àquela que, por excelência, tem a missão de guiar, ensinar, instruir e, consequentemente, também de corrigir e orientar. Mas “se nem mesmo à Igreja ele ouvir, seja tratado como se fosse um pagão ou um pecador público” (Mt 18, 17).

Talvez seja sobretudo por este aspecto que o mundo de hoje precisa com urgência de uma atitude comum de fraternidade. Porque ela abrange o amor, e este, a correção, que é uma das principais obras de caridade.

A Igreja tem o dever de ensinar ao mundo o que é a verdadeira fraternidade, o que de nenhuma forma significa uma cumplicidade com o mal, um permissivismo que, neste domingo, vemos claramente reprovado por Nosso Senhor.

“O amor não faz nenhum mal contra o próximo” (Rm 13, 10). E, por esta razão, não deixa de desejar ao próximo um bem, cuja ausência, trará um mal. Devemos, deste modo, temer a omissão com a qual o escândalo se torne comum e a impiedade ganhe, passo a passo, cidadania.

Somos todos irmãos. E, enquanto tais, temos a obrigação de zelar pela santidade de todo Corpo Místico da Santa Igreja, aconselhando e corrigindo sob pena de cairmos sob a sentença divina proferida contra aqueles que não souberem praticar a verdadeira fraternidade: “mas eu te pedirei contas da sua morte” (Ez 33, 8). Evitemos, também, a necessidade de, para nosso bem, sermos tratados “como se [fôssemos] um pagão ou um pecador público”. (Mt 18, 17).

A fraternidade cristã é amiga da justiça, tem um pacto indissolúvel com a verdade, não aceita a ambiguidade, não permite a maldade e é, por isso, a força capaz de unir todos os povos sob “um só Senhor, uma só fé, um só batismo […] um só Deus e Pai de todos, que está acima de todos, que opera em todos e está em todos” (Ef 4, 5).

Afinal de contas, poderia faltar à fraternidade cristã o que sempre o espírito católico acreditou ser a correção fraterna?

Por fim, ouçamos aqui um conselho de São Gregório Magno, que bem o poderíamos aplicar à fraternidade: “Deve saber o prelado que os vícios muitas vezes aparentam ser virtudes; assim, […] muitas vezes o perdão desordenado se crê ser piedade, e a ira desenfreada se toma por veemente zelo espiritual; outras muitas vezes, o obrar precipitadamente considera-se como rápida atividade, e a demora em agir, como gravidade de juízo”.[1]

Por Afonso Costa

[1] GREGORIO MAGNO, São. Regla Pastoral. In: Obras de San Gregorio Magno. Trad. Paulino Gallardo. Madrid: B.A.C. 1958. p. 141.

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