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Santo Anselmo: Primaz da Inglaterra, Irlanda e Escócia

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Marcando a História da Igreja pela sua pugnacidade, Santo Anselmo enfrentou com ufania os bispos da Inglaterra e o próprio rei que se revoltaram contra o Papa.

Redação (30/12/2022 11:16, Gaudium Press) Procedente de família rica e nobre, Santo Anselmo nasceu em Aosta – Noroeste da Itália – no ano de 1033. Sendo adolescente, devido aos maus tratos recebidos de seu pai, fugiu de casa, atravessou a pé os Alpes e foi residir numa cidade da Normandia – Norte da França –, onde passou quatro anos numa vida pecaminosa, mas sempre conservando a Fé.

Aos 26 anos de idade, recebeu insigne graça e se tornou monge na famosa Abadia Nossa Senhora de Bec, na Normandia, dirigida pelo Beato Lanfranc, o qual foi depois Arcebispo de Cantuária, Inglaterra. Anselmo destacou-se de tal modo nas virtudes que se tornou prior e posteriormente abade.

Abade do Mosteiro Nossa Senhora de Bec

Dedicou-se de modo especial ao estudo da Teologia. Com os ensinamentos que ele ministrava, a escola da Abadia de Bec – criada pelo Beato Lanfranc – alcançou pleno sucesso, atraindo pessoas de diversas regiões, muitas delas nobres.

Como a abadia possuía alguns bens na Inglaterra, viajou para lá diversas vezes, sendo sempre visitado pelo Rei Guilherme, o Conquistador, que muito o admirava.

Tendo este falecido em 1087, seu filho e sucessor Guilherme II, o Ruivo, passou a tomar atitudes contra a Igreja. Quando morria um bispo ou abade, ele se apoderava das propriedades das dioceses e abadias, e não permitia que seus sucessores fossem nomeados sem sua aprovação, imitando assim o nefando Henrique IV, imperador excomungado.

O principal conselheiro de Ruivo era um padre, o qual depois se tornou bispo por pressão desse rei. O Beato Lanfranc morreu em 1089 e a arquidiocese de Cantuária ficou vaga durante quatro anos.

Conselheiro da mãe de Godofredo de Bouillon

Em 1092, viajando rumo à Inglaterra, Santo Anselmo passou por Boulogne – Nordeste da França – e conversou com Santa Ida, mãe do grande herói Godofredo de Bouillon que capitaneou a I Cruzada.

Santo Anselmo era conselheiro espiritual dessa nobre dama a qual erigiu várias abadias, doou os bens que lhe restavam aos pobres e faleceu em 1113, num mosteiro por ela fundado.

Guilherme II declarou que ele próprio seria o novo arcebispo de Cantuária. Logo depois, ficou gravemente doente e, por medo do Inferno, arrependeu-se de seus pecados, prometendo devolver todos os bens eclesiásticos que havia roubado.

Sabendo que Santo Anselmo se encontrava na Inglaterra, designou-o Arcebispo de Cantuária. Por ter recusado o cargo, o Santo foi levado para junto do rei acamado. Os prelados ali presentes colocaram à força em sua mão direita uma cruz peitoral, bradaram “Viva o bispo!” e cantaram o Te Deum; depois conduziram-no a uma igreja vizinha e o ordenaram arcebispo.

Em dezembro de 1093, foi solenemente sagrado na Catedral de Cantuária, tornando-se primaz da Inglaterra, Escócia, Irlanda e ilhas adjacentes.

Bispos apoiaram o rei na revolta contra o Papa

Tendo recuperado a saúde, Guilherme II recaiu na tirania e ordenou a Santo Anselmo que lhe entregasse as terras da arquidiocese de Cantuária. Chegou mesmo a negar a autoridade do Papa Beato Urbano II e defender um antipapa apoiado pelo infame Henrique IV.

Em março de 1095, Santo Anselmo promoveu, no Castelo de Rockingham – Sudeste da Inglaterra –, residência do rei, uma assembleia de bispos, abades e príncipes a fim de se proclamar a obediência ao Papa; Guilherme, o Ruivo, estava presente.

Todos os bispos, exceto um, apoiaram vergonhosamente o monarca na sua revolta contra o Beato Urbano II, mas os nobres e todo povo manifestaram em altos brados sua fidelidade ao verdadeiro Papa.

Essa assembleia passou para a História com o título de “Drama de Rockingham”. Se não fosse a fidelidade heroica de Santo Anselmo ao Papa, a Inglaterra teria se precipitado no cisma cinco séculos antes da revolta de Henrique VIII.

Preparando uma artimanha contra Santo Anselmo, o ímpio rei enviou dois clérigos a Roma para pedirem ao Beato Urbano II o pálio que seria entregue ao arcebispo. O pálio é um manto feito de lã de cordeiros criados por monges trapistas, que simboliza a união dos arcebispos com o Papa.

O Beato Urbano II designou um bispo como legado a fim de viajar à Inglaterra e revestir Santo Anselmo com o pálio. Chegando àquele país, ele visitou Ruivo o qual declarou apoiar Urbano II desde que Santo Anselmo fosse deposto. Face à negativa do legado, o monarca protestou contra o verdadeiro Papa…

Em junho de 1095, o Santo caminhou descalço desde seu palácio até a Catedral de Cantuária, onde o legado pontifício lhe colocou o pálio.

 Recebido pelo Beato Urbano II

Sabendo que o Beato Urbano II realizaria em Clermont, França, um concílio a fim de pregar a Cruzada contra os maometanos, Santo Anselmo para lá enviou um monge, que era seu principal auxiliar, a fim de representá-lo.

O péssimo Guilherme II não se importou com a Cruzada. Ao saber que seu irmão Roberto, Duque da Normandia, nela se engajara, Ruivo açambarcou suas terras.

Santo Anselmo pediu ao rei autorização para ir a Roma, mas este não o permitiu, imitando seu pai Guilherme, o Conquistador, o qual não consentira que o Beato Lanfranc, anterior Arcebispo de Cantuária, fosse à Cidade Eterna.

Nova batalha o Santo enfrentou, tendo ao seu lado apenas os barões, o povo e o pequeno grupo de seus monges; praticamente todos os bispos ficaram contra ele.

Depois de intensas discussões, Ruivo acabou permitindo a viagem e, em outubro de 1097, começou o primeiro exílio de Santo Anselmo. Mas o rei anulou todos os benefícios que haviam sido concedidos à Arquidiocese de Cantuária e apoderou-se de suas propriedades.

Acompanhado de apenas dois monges, Santo Anselmo chegou à França. Nas regiões pelas quais caminhava era acolhido com entusiasmo por todo o povo, ao som de trombetas e cânticos; frente às casas havia estandartes que ondulavam ao sopro dos ventos.

Fez questão de visitar o Mosteiro de Cluny, onde foi acolhido pelo Abade Santo Hugo. Caminhando pelas estradas da Itália, sofreu ataques de bandidos asseclas de Henrique IV e do antipapa. A partir de então, para preservar sua vida disfarçou-se de peregrino.  Por fim, chegou a Roma, em abril de 1098, e foi recebido com alegria pelo Beato Urbano II[1].

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] Cf. ROSA, Enrico. SJ. Saint Anselme de Cantorbéry. La vie e l’âme du Saint. Paris: Desclée de Brouwer. 1929, p. 217. DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1875, v. 23, p. 23, 212, 252 passim; 1876, v. 24, p. 82, 99, 102 passim. ROHRBACHER, René-François. Vida dos Santos. São Paulo: Editora das Américas. 1959, v. 7, p. 133, 143.

 

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