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Guerra, marionetes e camuflagens russas

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O ano de 2023 poderá trazer surpresas como o ano de 1991. Quem quiser não se assustar, apenas se convença: a Rússia sabe encenar qualquer papel, inclusive de pacífica ou de derrotada; o que ela não consegue é se camuflar por muito tempo.

Redação (29/12/2022 16:42, Gaudium Press) O ano de 1992 não foi um ano comum. A bem da verdade, o fim de 1991, crivado de fatos inesperados, foi quem abriu novos horizontes no panorama mundial.

No dia 8 de dezembro, os presidentes da Bielorrússia, da Federação da Rússia e da Ucrânia declaram que a URSS não existe mais. A 21 do mesmo mês, outras oito repúblicas fazem o mesmo e informam a Mikhaïl Gorbatchev que sua função de presidente está terminada. No Natal – ótimo presente para o mundo inteiro – Gorbatchev aceita sua demissão.[1] Por fim, com a virada do ano, vira-se uma página da História, a página tão terrível, sangrenta e caótica do século XX. Sim, podemos dizer que o século XXI começou prematuramente, antes de 2001, trazendo fortes esperanças de paz e de harmonia internacional. Mas não por muito tempo…

Fim da Guerra Fria?

Os decênios que se seguiram à Segunda Guerra, a humanidade os viveu com particular medo e tensão. Nem mesmo os espantosos fatos da revolução russa de 1917 e os consequentes crimes do comunismo, as duas grandes guerras mundiais que arruinaram a Europa e aterrorizaram o mundo inteiro com a nova arma de autodestruição do homem – a bomba atômica –, as guerrilhas e convulsões populares de toda ordem foram tão temidos quanto um conflito curiosamente designado como “Guerra Fria”.

Na verdade, era mais uma peça teatral do que uma Guerra, mas o mundo a assitia com muita atenção devido ao desfecho que poderia ter; todos temiam que a Guerra se tornasse quente e deixasse de ser um mero teatro.

Eis a cena que se desenrolava: as duas grandes potências mundiais, os EUA e a URSS, se enfrentavam realmente, mas através de marionetes. Entretanto, tão crescentes eram a tensão, a rivalidade e a corrida armamentista de ambos os lados, que era de se temer uma inaudita confusão no palco a qualquer momento: os fantoches serem jogados para longe e os verdadeiros atores assumirem seu papel.

As consequências que a este caos se seguiriam seriam tão temíveis quanto desconhecidas. De fato, isto nunca se passou, pois de um dos lados veio a paz: com a URSS dissolvida em 1991, o comunismo amansado e uma Rússia que sorria ao Ocidente, era difícil até mesmo cogitar na guerra, sobretudo mundial.

Pois bem, o mundo assim pensava, quando, trinta anos depois, a Rússia decidiu mostrar a todos que o teatro tinha acabado.

A camuflagem russa

Foi para todos um susto, o início da Guerra da Ucrânia – pelo menos para os que não perceberam a arlequinada na dissolução da União Soviética. Mas bastaria analisar um pouco a sinceridade dos sovietes ao longo de décadas, para chegar à conclusão que, quando eles estendem a mão, é para dar um golpe; quando parecem agonizar, estão apenas dormindo.

Mas o Ocidente acreditou no jogo russo. Como foi possível, não sabemos; o certo é que as nações ocidentais sofrem, pelo menos, de má memória; e são enganadas vezes sem conta por mentiras reutilizadas.

Em meio a tudo isso, somos levados a refletir. É patente que a atual guerra não fez senão mostrar a evidência: os sovietes nunca darão o braço a torcer. Entretanto, qual será a verdadeira intenção da Rússia em anexar territórios que formavam a antiga URSS? Tratar-se-ia somente de razões históricas ou o Putin visa reconstituí-la?

Caso as nações ocidentais se dobrem diante da Rússia, contentar-se-á ela com isso ou desejará implantar em todo o orbe o regime político-social que reinava nos tempos de Stalin e Lenin?

O leitor atento poderá descobrir, mas o que é certo é o seguinte: o ano de 2023 pode trazer surpresas como o ano de 1991. Quem quiser não se assustar, apenas se convença: a Rússia sabe encenar qualquer papel, inclusive de pacífica e derrotada; o que ela não consegue é se camuflar por muito tempo.

Por Lucas Rezende


[1] RENTCHNICK, Pierre. Série noire pour les tsars rouges. Historia, n°594, 1996, p. 70-71.

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