No mundo hodierno, temos assistido a um verdadeiro massacre dos inocentes, mas também, e talvez pior ainda, a um massacre das inocências, mormente através da corrupção generalizada dos costumes, favorecida pela influência dos meios de comunicação massiva e pela deterioração da educação.
Redação (19/12/2023 11:56, Gaudium Press) A Encarnação do Verbo é um dos maiores mistérios de nossa Fé, ainda mais quando considerada à luz do Natal. De fato, como circunscrever a infinitude divina a um corpo infantil?
Existe, porém, um profundo simbolismo em Deus ter Se feito Menino. Antes de tudo porque os pequeninos, para o Salvador, são modelos de imitação: “Deixai vir a Mim estas criancinhas e não as proibais, porque o Reino dos Céus é daqueles que se lhes assemelham” (Mt 19, 14). São elas exemplo de candura, inocência e pureza.
Sem embargo, mesmo cumprindo todas as antigas profecias e tornando-Se tão acessível aos homens, o Menino Deus foi rejeitado por seus próprios compatriotas. Estando Ele prestes a nascer, as casas de Belém Lhe fecharam as portas (cf. Lc 2, 7). E não tardou para que a Inocência Encarnada fosse perseguida pelo déspota Herodes, supostamente “o Grande”, embora tão pusilânime. Grande, na realidade, era a sua crueldade. Desconhecendo o real paradeiro do Divino Infante, então desterrado no Egito e sem lar, o tirano mandou assassinar todos os meninos de dois anos para baixo. Se é preferível morrer a escandalizar um só dos pequeninos (cf. Lc 17, 2), que dizer desse terrível massacre de inocentes?
Poder-se-ia objetar: não foram eles os protomártires de Cristo? Sim, e a Igreja os considera Santos. No entanto, se esses meninos não fossem arrancados de suas casas e mortos ao fio da espada, não teriam alguns deles se tornado discípulos ou Apóstolos do Senhor? Que destino a Providência lhes teria confiado? Enfim, quantas vocações foram ceifadas pelo arbítrio do chefe infanticida?
Se a morte do inocente clama a intervenção divina contra seu malfeitor (cf. Gn 4, 10), mais ainda pode se conjecturar, com as devidas proporções, sobre a sorte daqueles que escandalizam ou desviam os pequeninos do bom caminho, pois, como apregoou o Senhor, mais se deve temer aqueles que matam a alma do que os que matam o corpo (cf. Mt 10, 28).
Por vezes, tais perseguições aos inocentes foram empreendidas pelas próprias famílias, como no caso dos jovens Tomás de Aquino, Francisco de Assis e Luís Gonzaga. Já pelo braço do Estado, eloquente é o exemplo dos três pastorinhos de Fátima, lançados na prisão simplesmente por terem contemplado a Virgem Inocentíssima. Por fim, a História é implacável em testemunhar que até mesmo eclesiásticos perseguiram os pequeninos, como aqueles que frequentavam os oratórios de São Filipe Neri e de São João Bosco.
No mundo hodierno, temos assistido a um verdadeiro massacre dos inocentes, mas também, e talvez pior ainda, a um massacre das inocências, mormente através da corrupção generalizada dos costumes, favorecida pela influência dos meios de comunicação massiva, pela deterioração da educação, pela carência de uma sólida catequese infanto-juvenil.
Assim, neste Natal só podemos desejar que prevaleça a paz aos homens de boa vontade (cf. Lc 2, 14), a fim de que a Suma Inocência possa chegar a todos, em especial aos pequeninos, afastando deles todo tipo de massacre.
Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 252, dezembro 2022. Editorial.
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