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Procrastinação não é preguiça!

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O preguiçoso é aquele que não faz, não quer fazer, prefere que outros façam e, geralmente, não se sente mal com isso. O procrastinador não é um preguiçoso. Trata-se de uma pessoa que quer fazer, mas não consegue.

Foto: Magnet.me/ Unsplash

Foto: Magnet.me/ Unsplash

Redação (16/11/2024 09:22, Gaudium Press) Uma coisa importante – que tem prejudicado muita gente e criado muita confusão – é o paradoxo entre procrastinação e preguiça. Comumente tratadas como sinônimas, procrastinação e preguiça não são a mesma coisa; são, na verdade, muito diferentes uma da outra, embora possam provocar efeitos iguais.

O preguiçoso é aquele que não faz, não quer fazer, prefere que outros façam e, geralmente, não se sente mal com isso. De um modo geral, é uma pessoa folgada, um explorador e, perto dele, sobretudo em sua família, sempre haverá pelo menos um estressado, aquele que, inconscientemente, acaba fazendo pelo preguiçoso o que ele não faz e agindo como facilitador dos seus maus hábitos e “boa vida”.

O medo de causar traumas aos filhos

A preguiça é um dos vícios capitais que deve ser podado desde o início da educação dos filhos, dando-lhes obrigações e responsabilidades, e não fazendo por eles as atividades que lhes cabem.

Lamentavelmente, com a intenção tão comum nos dias atuais de poupar os filhos de todo tido de sofrimento, muitos pais os superprotegem e fazem tudo por eles, causando um grande mal ao desenvolvimento de suas personalidades.

Os filhos bagunçam, as mães arrumam; os filhos não fazem o que deveriam, as mães fazem por eles ou lhes ajudam a arrumar desculpas: um grande mal de mães – e pais – que deixam de cumprir seus papéis e provocam o surgimento de seres humanos fracos, cheios de defeitos que poderiam ter sido podados se os pais cumprissem seu papel, sem medo de causar traumas aos filhos.

(É preciso, aqui, abrir parênteses: hoje em dia, evita-se falar sobre o papel de cada um dentro de uma unidade familiar, e quando o assunto vem à baila, geralmente é tratado por pensadores modernos como inadequado, e a palavra “hierarquia” surge como ofensiva e desproporcional, porque, para a mentalidade reinante, todos são iguais e não há diferença entre os papéis de esposa, marido e filhos. Essa linha de raciocínio tirou dos pais a sua autoridade sobre os filhos e isso provocou um verdadeiro caos na formação de crianças e jovens.)

Uma visão distorcida do tempo

O procrastinador não é um preguiçoso. Trata-se de uma pessoa que quer fazer, mas não consegue.

Geralmente, as pessoas com essa deficiência – para a qual existe tratamento – têm uma visão distorcida do tempo, acreditando serem capazes de fazer muito mais coisas do que é possível.

Assim, os procrastinadores assumem diversos compromissos, tentam agradar, acreditam que darão conta e, depois, ficam aflitos, desesperados, e acabam tomados pela paralisia.

Sabem que têm que fazer, querem fazer, mas desorganizações internas, com aspectos psicológicos e fisiológicos dificultam a execução de suas tarefas, causando muita dor e sofrimento, principalmente quando são tidos por preguiçosos.

O exemplo típico de procrastinador é aquele indivíduo que sobrepõe as atividades, sem conseguir separar umas das outras, começando uma série de tarefas ao mesmo tempo, assumindo mais responsabilidades do que tem condições de cumprir e perdendo muito tempo com o perfeccionismo.

Não uma doença, mas um sintoma

A procrastinação, em si, não é considerada uma doença pela Organização Mundial de Saúde, mas sim um importante sintoma de outras condições de saúde mental, como a depressão, a ansiedade, o transtorno obsessivo-compulsivo (TOC) e o transtorno de déficit de atenção (TDAH), entre outras.

Ela é vista como um desvio de conduta sério e que exige atenção, tanto que existem grupos de apoio para ajudar pessoas com essa condição.

Este é um tema complexo que, obviamente, pela sua importância, não pode ser abarcado em um simples artigo. Nosso propósito aqui é apenas chamar a atenção sobre ele, porque muitas pessoas sofrem por conviverem com a procrastinação e, mais ainda, com o julgamento daqueles que não a compreendem.

Pode haver quem considere também a preguiça como um sintoma de certas patologias, no entanto, há uma diferença clara entre elas. Com efeito, a preguiça é considerada um dos vícios ou pecados capitais, algo a que estamos sujeitos, mas que deve ser evitado.

O preguiçoso não se importa

Uma “preguicinha” é algo que todos podem sentir de vez em quando, mas logo que se toma consciência, volta-se para o rumo certo. Uma pessoa que, por fraqueza, deslize pela preguiça, ao se dar conta, deve logo se arrepender, confessar esse pecado e seguir a vida.

O preguiçoso contumaz, no entanto, geralmente não se sente mal por ser preguiçoso. É um vício ao qual ele sucumbe e encontra prazer. Podemos dizer que há certa maldade no preguiçoso. Ele não se importa se a sua inação, a sua falta de comprometimento e a sua inércia vão prejudicar outras pessoas ou não.

Aquele que se compraz na preguiça acaba deformando sua personalidade, reclama de tudo o que requer algum esforço para ser feito, não para em trabalho nenhum ou sequer procura trabalho.

Isso não acontece com o procrastinador. Ele sofre porque quer fazer e não consegue. Algo dentro dele o impede de tratar os assuntos de forma clara e organizada, e precisa lidar continuamente com a sensação de ser incapaz. Portanto, vive sobrecarregado.

É um processo muito doloroso e existem casos de pessoas que atentam contra a própria vida por não encontrar solução para sair desse labirinto.

Para tudo há solução!

No entanto, para tudo há solução nesta vida. Conversar com alguém, frequentar grupos de apoio, procurar ajuda médica são ações que podem ajudar a aliviar a carga de sofrimento.

E há os cuidados da alma, que são imprescindíveis. Deus nos criou para sermos perfeitos, mas, infelizmente, essa perfeição foi manchada pelo pecado. Podemos e devemos ter a humildade de pedir a Ele que nos conduza e nos ajude a viver em conformidade com a sua vontade e a encontrar a paz.

A fé nos ensina que é na dor e nas dificuldades que se forja o nosso caráter e se desenvolve em nossa alma a verdadeira santidade. Por isso, e por não entendermos os desígnios de Deus, não nos cabe pedir a Ele que afaste de nós as nossas cruzes e problemas, porque não sabemos qual é o propósito de cada um deles na nossa salvação.

No entanto, podemos pedir que Ele nos dê o discernimento necessário para conseguirmos fazer uma coisa de cada vez, com equilíbrio e serenidade.

A procrastinação facilmente leva ao desespero e podemos buscar ajuda para vencê-lo recorrendo à Mãe das mães, que sempre acolhe e zela pelos desesperados.

Por isso, termino este artigo de um modo um tanto diferente, sugerindo uma oração singela, mas muito poderosa que, por si só, ajuda a restaurar a nossa confiança. A oração composta por São Bernardo:

“Lembrai-vos, ó piíssima Virgem Maria,
que nunca se ouviu dizer que algum
daqueles que têm recorrido à vossa proteção,
implorado a vossa assistência

e reclamado o vosso socorro,
fosse por Vós desamparado.

Animado eu, pois, com igual confiança,
a Vós, ó Virgem, entre todas singular,
como a Mãe recorro, de Vós me valho,
e, gemendo sob o peso de meus pecados,
me prostro a Vossos pés.
Não desprezeis as minhas súplicas,
ó Mãe do Verbo de Deus humanado,
mas dignai-Vos de as ouvir propícia
e de me alcançar o que Vos rogo. Amém!”

 Por Afonso Pessoa

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