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Sinodalidade entra em fase de implementação. O que esperar desta nova etapa?

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“Será o Sínodo da Sinodalidade um mero pretexto para provocar mudanças no ensino da Igreja? Vários participantes e lideranças sinodais expressaram esperanças de que o processo leve a mudanças em ensinamentos tradicionais”.

Foto: Vatican News/ Vatican Media

Foto: Vatican News/ Vatican Media

Redação (25/03/2025 10:38, Gaudium Press) O Sínodo sobre a Sinodalidade, um processo de três anos que parecia interminável, tomou um novo e inesperado rumo com o recente anúncio da Fase de Implementação que durará 3 anos. Ao invés de convocar uma nova Assembleia Sinodal, foi introduzida a ideia de realizar uma Assembleia Eclesial no Vaticano, prevista para outubro de 2028. Essa mudança não apenas altera a dinâmica das próximas etapas do Sínodo, mas também levanta uma série de questões teológicas, pastorais e estruturais sobre a direção que a Igreja está seguindo sob o pontificado do Papa Francisco.

Em uma recente entrevista ao site Vatican News, o Cardeal Mario Grech, secretário-geral da Secretaria Geral do Sínodo, indicou que a Assembleia Eclesial difere significativamente das assembleias sinodais anteriores. Enquanto o Sínodo dos Bispos era composto majoritariamente por bispos, a nova Assembleia terá uma composição mais ampla, possivelmente dominada por leigos. Tal decisão parece refletir uma tentativa de enfatizar a participação mais ativa de todos os membros da Igreja. Contudo, isso também gera preocupações sobre o papel dos bispos na estrutura eclesial, uma vez que o múnus episcopal confere a eles a responsabilidade primordial de ensinar, governar e santificar o povo de Deus. É, no mínimo, intrigante pensar que a sinodalidade encontrará seu desfecho em uma Assembleia, e não em um Sínodo.

Vale assinalar que a decisão de substituir a próxima Assembleia Sinodal por essa nova forma de encontro não passou por um amplo debate dentro do próprio Sínodo nem foi submetida a uma consulta direta aos bispos. Isso suscita dúvidas acerca da conveniência dessa decisão e de quem será responsável por estruturar a Assembleia Eclesial. Afinal, essa nova forma de deliberação terá impacto significativo na Constituição Divina da Igreja e no papel dos bispos na hierarquia eclesial.

Ao mesmo tempo, a decisão de estender o período de implementação do Sínodo e centralizar sua condução a partir de Roma demonstra o compromisso do Papa Francisco em garantir que o processo sinodal não perca força. O receio, no entanto, é que tal medida possa parecer contraditória — um processo que defende a descentralização, mas que permanece fortemente conduzido pelo Vaticano. O fato de o processo ter sido aprovado durante a internação do Pontífice sinaliza a importância do evento para o seu pontificado.

Questões Fundamentais do Processo Sinodal

Em um recente comentário escrito para o National Catholic Register, o jornalista e doutor em teologia Larry Chapp, fundador do site Gaudiumetspes22.com, sustenta que, para que o processo sinodal alcance seus objetivos sem gerar divisões desnecessárias, é necessário tratar algumas questões, as quais ele divide em três tópicos: clareza de definição, análise pastoral e orientação teológica.

Segundo Chapp, desde o início, a sinodalidade tem sido descrita em termos vagos como “escuta”, “inclusão”, “diálogo” e “consulta”. No entanto, esses conceitos não são suficientes para definir com precisão o que significa uma Igreja sinodal em oposição a uma estrutura mais piramidal. Quais são as diferenças estruturais concretas que essa abordagem propõe?

Se a sinodalidade implica em uma reorganização da governança da Igreja, como isso se harmoniza com a tradição apostólica? Se houver mudanças significativas no papel dos leigos, isso resultará em revisões no Direito Canônico? E, caso os bispos sejam obrigados a se submeter a decisões de organismos compostos majoritariamente por leigos, isso não altera profundamente a teologia da autoridade episcopal? Nenhuma destas perguntas foram abordadas na entrevista do Vatican News com o Cardeal Mario Grech, mas seguramente serão realizadas pelos jornalistas nos próximos dias.

Chapp chama a atenção ainda para o alarmante desinteresse dos católicos em geral com o tema da sinodalidade. “Além da questão estrutural, há também a questão pastoral: os católicos comuns estão preocupados com o processo sinodal? Durante a fase consultiva do Sínodo, apenas 1% dos fiéis participou das sessões de escutas e das respostas aos questionários”, ressalta.

Ao mesmo tempo, as maiores preocupações dos católicos atualmente giram em torno do secularismo crescente, do individualismo religioso, da falta de formação doutrinária e da degradação moral da sociedade. Muitos fiéis buscam uma experiência litúrgica mais profunda e comunidades paroquiais mais vibrantes e espiritualmente enriquecedoras. O Sínodo, com seu enfoque na reorganização eclesial, está atendendo a essas necessidades pastorais? Se não, então a própria eficácia do processo sinodal deve ser questionada.

Entretanto, Larry Chap levanta uma grave hipótese: Será o Sínodo da Sinodalidade um mero pretexto para provocar mudanças no ensino da Igreja? “A preocupação teológica central é se o Sínodo está sendo usado como um instrumento para mudar a doutrina da Igreja sob o pretexto de promover a sinodalidade. Vários participantes e lideranças sinodais expressaram esperanças de que o processo leve a mudanças em ensinamentos tradicionais”, afirma o jornalista.

Aqui, é essencial ressaltar: se o Sínodo realmente pretende modificar doutrinas, isso deveria ser declarado de forma transparente, evitando falsas expectativas e dissipando qualquer ilusão de mudança nos ensinamentos tradicionais.

Conclusão

O Papa Francisco, já de volta à Casa Santa Marta, embora ainda sob acompanhamento médico por dois meses, deixou claro que considera a sinodalidade a pedra angular de seu pontificado. Seu empenho em assegurar que a fase de implementação do Sínodo não caia no esquecimento reflete essa determinação. O fato de Francisco ter convocado esse evento de três anos, justamente enquanto sua própria vida estava em risco, revela sua intenção de consolidar a sinodalidade como um legado duradouro. Ele busca não apenas pavimentar o caminho para seu sucessor, mas também dificultar qualquer tentativa de reversão por um futuro pontífice que se oponha ao seu modelo de Igreja.

Vale recordar que, após o Sínodo Amazônico, que antecedeu o Sínodo sobre a Sinodalidade, discutiu-se a criação de uma Conferência Episcopal Amazônica, reunindo bispos de diversos países da região. O conceito evoluiu e resultou na criação de uma Conferência Eclesial da Amazônia, um organismo que, ao contrário de uma tradicional conferência episcopal, inclui no seu comitê executivo bispos, religiosos e leigos, com a participação destes últimos não apenas como convidados, mas em pé de igualdade. Embora ainda não saibamos se o objetivo da Assembleia Eclesial será tornar o governo dos bispos mais participativo, o precedente brasileiro sugere que essa direção é uma possibilidade concreta. Assim, os três anos que nos separam da Assembleia Eclesial de 2028 serão um período crucial para uma observação crítica e discernimento teológico quanto ao futuro da Igreja sob essa nova forma de governança.

Por Rafael Tavares

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