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Sede Vacante: o início de um tempo de eleição e de conversão

A morte de um Papa e a escolha de seu sucessor constituem um apelo à conversão. Trata-se de um convite para que cada batizado reavive seu amor pela Igreja, redescubra a beleza da fé e se pergunte com sinceridade: para onde caminha ou deverá caminhar a Igreja? 

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Redação (23/04/2025 14:38, Gaudium Press) Na manhã de segunda-feira, 21 de abril — conhecida como segunda-feira do Anjo, dia em que a Igreja celebra com júbilo o anúncio da Ressurreição — a Santa Sé comunicou oficialmente a morte do Papa Francisco, aos 88 anos. O Cardeal Camerlengo, Kevin Farrell, visivelmente comovido, confirmou o falecimento do Pontífice argentino, encerrando assim um pontificado que se estendeu por doze anos, marcado por gestos simbólicos, reformas audazes e também grandes tensões e debates dentro da Igreja.

Francisco faleceu em decorrência de um acidente vascular cerebral e, ao que tudo indica, hemorrágico. O Vaticano confirmou que o Papa também vinha sofrendo de diabetes tipo II e de complicações respiratórias nas últimas semanas, resultantes de uma dupla pneumonia que exigiu 38 dias de internação hospitalar.

O que acontece após a morte de um Papa?

Com a morte de um Sumo Pontífice, inicia-se o tradicional período de Sede Vacante. O processo é altamente codificado pela Constituição Apostólica Universi Dominici Gregis, promulgada por São João Paulo II, e observada fielmente desde então.

Imediatamente após o óbito, o Camerlengo deve autenticar a morte do Papa, retirar seu anel do pescador e quebrá-lo, juntamente com o selo papal, a fim de evitar fraudes. A partir desse momento, todos os chefes de dicastérios da Cúria Romana perdem automaticamente suas funções, exceto alguns cargos essenciais, como o próprio Camerlengo, o Penitenciário-Mor (Cardeal Angelo De Donatis), o Vigário para a Diocese de Roma (Cardeal Baldassare Reina), e o Arcipreste da Basílica de São Pedro (Cardeal Mauro Gambetti).

Congregações Gerais e preparação para o Conclave

O Decano do Colégio Cardinalício, atualmente o Cardeal Giovanni Battista Re, é responsável por convocar as Congregações Gerais, reuniões preparatórias abertas a todos os cardeais — sejam eles eleitores ou não. Durante essas sessões, são discutidas questões práticas como a data do funeral, o início do conclave e, sobretudo, os desafios que aguardam o próximo Pontífice.

A primeira dessas reuniões foi marcada para o dia 22 de abril. O conclave deve começar entre 15 e 20 dias após a morte do Papa, permitindo assim a chegada dos cardeais provenientes de todos os continentes.

 O funeral papal

O Papa Francisco estabeleceu mudanças nos ritos fúnebres papais, simplificando significativamente o protocolo. Entre as alterações, aboliu-se a exposição do corpo no Salão Clementina e os tradicionais três caixões (cipreste, chumbo e carvalho), adotando-se apenas um. O funeral será presidido pelo Cardeal Giovanni Battista Re e celebrado, segundo desejo expresso do Papa, na Basílica de Santa Maria Maior, onde será sepultado próximo à imagem da Salus Populi Romani, pela qual ele nutria particular devoção.

 O Conclave

Após o funeral, os cardeais se reunirão em conclave na Capela Sistina. São atualmente 135 os cardeais eleitores, dos quais 108 foram criados por Francisco — superando o limite tradicional de 120, estipulado por Paulo VI. Como explicou o canonista Padre Gerald Murray ao LifeSite News, esse limite pode ser excedido, pois o direito ao voto é garantido a todos os cardeais com menos de 80 anos no momento da morte do Papa. Vale recordar que os prelados com idade igual ou superior a 80, podem ser eleitos apesar de não poderem votar.

O conclave exige uma maioria de dois terços para eleger um novo Pontífice. Os cardeais vivem em reclusão durante o processo, sem qualquer contato com o mundo exterior. Toda a comunicação é bloqueada, garantindo o sigilo e a liberdade da eleição. Ao final de cada votação, as cédulas são queimadas. A fumaça negra indica que nenhum nome foi ainda escolhido. Quando a fumaça branca surgir, o mundo saberá: habemus papam.

 Quem pode ser eleito?

Embora qualquer homem católico batizado e com uso da razão possa, em teoria, ser eleito Papa, na prática, desde 1378 (Papa Urbano VI) todos os eleitos têm sido cardeais. Caso o eleito não seja bispo, deverá ser ordenado imediatamente. Assim que o eleito aceita, ele se torna, ipso facto, o novo Papa da Igreja Católica.

Ao ser escolhido, o novo Pontífice veste a batina branca preparada e é conduzido ao balcão da Basílica de São Pedro. Neste local, o cardeal diácono sênior, conhecido como Protodiácono, anuncia ao mundo: Annuntio vobis gaudium magnum: habemus Papam, acrescentando o nome que este elegeu para si. Esta função, atualmente, cabe ao Cardeal Dominique Mamberti, francês, Prefeito emérito da Assinatura Apostólica.

Mais do que uma eleição, um exame de consciência

A sucessão de Pedro sempre atrai a atenção do mundo. Entretanto, mais do que o nome do próximo Papa, o que realmente importa agora é o movimento espiritual ao qual a Igreja é chamada neste tempo de luto, silêncio e esperança. Antes de escolher um novo Sumo Pontífice, a Igreja entra num período de discernimento profundo — não apenas em busca de um líder, mas de uma renovação do seu coração missionário.

A morte de um Papa e a escolha de seu sucessor constituem um apelo à conversão. Trata-se de um convite para que cada batizado reavive seu amor pela Igreja, redescubra a beleza da fé e se pergunte com sinceridade: para onde caminha ou deverá caminhar a Igreja? Que tipo de testemunho ela é chamada a oferecer ao mundo contemporâneo? E, assim, à luz dessas indagações, pensar com seriedade quem deve guiá-la pelos próximos anos.

Em outros artigos, a Gaudium Press trará análises de cenários, perfis e perspectivas para o próximo conclave. Mas hoje, iniciamos pelo essencial: escutando o apelo do próprio Cristo à sua Igreja — “Ide, fazei discípulos” — e rezando para que o Espírito Santo conceda à Igreja a pessoa indicada para guiá-la no processo de instaurar todas as coisas no Ressuscitado.

Por Rafael Tavares

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