NOVA YORK – Os Estados Unidos nunca tiveram tantos pedidos de exercismo. Pelo menos é isso o que indica uma apuração da revista “Atlantic”, que traz em suas páginas da atual edição uma extensa reportagem sobre o tema.
Um dos exemplos é Padre Vincent Lampert, o exorcista oficial da Arquidiocese de Indianapolis, que revelou, no início de outubro, já ter recebido 1.700 pedidos de exorcismo por telefone ou e-mail em 2018 — de longe, o maior número de solicitações que já chegaram a ele em um ano.
O padre Gary Thomas — sacerdote cuja formação em exorcista em Roma foi documentada no livro “The Rite”, publicado em 2009 e transformado em filme em 2011 — contou que recebeu pelo menos uma dúzia de pedidos por semana neste último ano. Vários outros padres relataram que, sem o apoio da equipe da igreja e dos voluntários, seria impossível que eles atendessem todos os pedidos em seus ministérios de exorcismo.
Em 2011, Thomas já havia dito à “Atlantic” que os Estados Unidos tinham menos de 15 exorcistas católicos conhecidos. Hoje, ele afirma que há mais de 100. Não existem estatísticas oficiais, e a maioria das dioceses escondem a identidade de seus exorcistas, para evitar atenção indesejada. Segundo o padre Gary Thomas, a Igreja Católica nos EUA tem treinado novos exorcistas em Chicago, Roma e Manila.
Origem da crença em demônios
A convicção de que os demônios existem — e de que eles existem para perseguir, desordenar e ferir seres humanos — remonta ao próprio nascimento da religião. Na antiga Mesopotâmia, os sacerdotes babilônios realizavam exorcismos, moldando figuras de demônios em um incêndio. Os Vedas Hindus, escritos que acredita-se que tenham sido produzidos entre 1.500 e 500 a.C., referem-se a seres sobrenaturais — conhecidos como asuras, mas amplamente entendidos como demônios — que desafiam os deuses e sabotam os assuntos humanos. Também para os gregos antigos, criaturas semelhantes a demônios espreitavam nas sombras o mundo humano.
70% dos EUA acreditam no diabo
Mas, longe de estar confinada a um passado longínquo, a crença na possessão demoníaca é generalizada nos Estados Unidos hoje. Pesquisas realizadas nos últimos anos pela consultoria Gallup e pela empresa de dados YouGov sugerem que cerca de metade dos norte-americanos acredita que a possessão demoníaca é real. A porcentagem que acredita no diabo é ainda maior, e de fato tem crescido: as pesquisas do Gallup mostram que o número subiu de 55% em 1990 para 70% em 2007.
Um caso destacado pela revista “Atlantic” é o da americana Louisa Muskovits. Em março de 2016, a jovem, então com 33 anos e com um histórico de abuso de álcool, teve o que seria considerado uma “possessão” durante uma sessão semanal com seu conselheiro em dependência química, em Tacoma, Washington.
Inicialmente, Louisa parecia estar passando por um ataque de pânico. Ela havia se separado do marido, Steven, há pouco tempo. Quando o conselheiro perguntou sobre seu casamento, ela disse que não estava pronta para falar sobre isso. O conselheiro pressionou e novamente Louisa recusou. Por fim, a conversa ficou tensa e Louisa começou a hiperventilar, um sintoma comum de um ataque de pânico.
Nesse momento, o conselheiro levou a moça até a terapeuta da jovem, Amy Harp, que acalmá-la melhor. Mas, assim que chegou lá, o comportamento de Louisa se transformou: ela começou a gritar, arrancar tufos de cabelo, rosnar e balançar a cabeça de um lado para o outro, inclinando-se para trás em ângulos estranhos. Em explosões confusas, ela murmurou sobre o bem e o mal, Deus e o diabo. Ela disse ao conselheiro e à terapeuta que ninguém ali poderia salvar “Louisa”.
A terapeuta, Amy Harp, disse nunca ter visto este tipo de comportamento antes, e não tinha certeza do que fazer.
O encontro deixou Harp perplexa com o que ela acabara de testemunhar. Para Louisa, o episódio teve um efeito ainda mais profundo, levando à busca de respostas que a levassem a se afastar da medicina moderna e de seus caminhos desgastados para o tratamento da saúde mental. No lugar disso, ela se voltou para os remédios mais antigos e ritualizados de sua fé católica.
Fonte: https://extra.globo.com/