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A origem da escrita – Parte III O nascimento do Alfabeto: o Alfabeto fenício

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Os fenícios utilizaram a escrita hieroglífica, semelhante à dos egípcios, para depois adotarem a escrita cuneiforme. Mas, na segunda metade do II milênio a. C., eles criaram o seu próprio sistema de escrita alfabética, a partir da qual surgiriam todos os alfabetos atuais.

 

Redação (21/12/2022 15:37, Gaudium Press)[1] Na antiguidade, era comum que a escrita estivesse destinada a fins restritos, muitas vezes de caráter religioso, sendo um sistema reservado a pequena parcela da sociedade. Sua forma primitiva, a ideográfica, dificultava e restringia ainda mais o seu uso e aprendizagem.

Ora, a escrita não teria atingido seu grande desenvolvimento se não fosse por mérito de um célebre povo da raça semítica.

Surge um novo tipo de escrita

Antes do ano 2000 a. C., os fenícios se estabeleceram na costa cananeu-fenícia do Mar Mediterrâneo, correspondente ao atual Líbano, o que lhes permitiu que prontamente se destacassem pelo comércio marítimo, atingindo notável supremacia naval. Este povo possuía colônias na Sardenha, na Sicília e muitas outras no norte da África, como na cidade de Cartago, mas ele se destacaria sobretudo por revolucionar a história da escrita.

“Depois de terem se utilizado por algum tempo de uma escrita hieroglífica, semelhante à dos egípcios, e depois da escrita cuneiforme, surgiu entre os fenícios, na segunda metade do II milênio a. C., um novo tipo de escrita: escrita alfabética, que não possuía mais conteúdos de significado em caracteres iconográficos e nem sílabas, mas sim se esforçava por atribuir a cada som da língua falada um sinal escrito”.[2]

Este passo foi decisivo para que a escrita se universalizasse, visto que não era mais necessário conhecer um abundante número de ideogramas para se saber escrever, mas tão somente um pequeno número de sinais.

Os primeiros textos em alfabeto fenício arcaico estavam compostos por um sistema que registrava 23 sinais lineais que se grafavam apenas com consoantes, da direita para a esquerda, e que possibilitava a formação fonética de todas as palavras contidas no idioma. A sua simplicidade, acrescida de algumas circunstâncias históricas, fez com que a escritura fenícia rapidamente se propagasse.

Os fenícios, grandes mercadores, perceberam logo o imenso proveito que a escrita lhes concederia nos trâmites comerciais. Daí em diante, eles teriam a oportunidade e a facilidade de registrar suas negociações, como a entrada e a saída de mercadorias. E foi a partir da necessidade de anotar as transações econômicas que eles propagaram o seu alfabeto, primeiro no Oriente Médio e Ásia Menor, mas também entre árabes, gregos, etruscos, se estendendo até a Península Ibérica.

As inscrições fenícias de Chipre (séc. XI-II a. C.) e a escritura púnica de Cartago (séc. IX até 142 a. C.) nos transmitiram a forma deste alfabeto, bem como o sarcófago de Tabnit de Sídon (séc. VI-V a. C.) e as inscrições de Karatepe (que são anteriores a 711 a. C.).

Do alfabeto fenício ao hebraico…

Sabemos que do alfabeto fenício se originaram todos os atuais alfabetos. Dentre os primeiros povos que o adotaram encontra-se o povo hebreu, raça escolhida por Deus para ser o receptáculo da Revelação, e que utilizaria o seu próprio alfabeto – derivado do fenício – para compor grande parte do Antigo Testamento bíblico.

Os hebreus adotaram o alfabeto fenício entre os séculos XII e XI a. C, e logo fizeram suas adaptações, constituindo o que ficou conhecido como o paleohebraico. Os samaritanos ainda conservam a sua Bíblia – que possui somente o Pentateuco, isto é, os cinco primeiros livros das Sagradas Escrituras – nesta escrita.

O hebraico dos textos bíblicos tal como conhecemos hoje é uma evolução do protoalfabeto. Entre as semelhanças que encontramos entre ambos é que eles são escritos da direita para esquerda; começam com as mesmas letras aleph, beth, gimel, daleth…; e ambos não eram vocalizados, sendo formados unicamente de consoantes.

Neste idioma, cada vocábulo é composto, em sua raiz, unicamente de três consoantes. Ora, isso possibilitava que houvesse ambiguidades no momento de se entender um texto, uma vez que as vogais não estavam nele contidas. Podemos exemplificar com um caso real: em Isaías 9, 7, lê-se: “O Senhor profere uma “dbr” contra Jacó”. Estas três consoantes (דבר) podiam ser lidas de duas maneiras, como dabar, “palavra”, ou como deber, “morte”…

Hoje em dia, nas diversas traduções se considera a primeira forma, embora a Bíblia grega dos LXX houvesse traduzido o vocábulo hebraico por “morte” (θάνατος).

Somente no séc. VII d. C é que foi encontrada uma solução para este problema: alguns judeus, conhecidos como massoretas, inventaram um sistema de vocalização do hebraico, aplicando alguns sinais sob ou sobre as consoantes.

… e também ao grego

Outro grande e importantíssimo alfabeto formado a partir do fenício foi o alfabeto grego. Ao contrário do hebraico, idioma originário da quase totalidade do Antigo Testamento, o grego foi a língua do Novo Testamento bíblico.

O alfabeto fenício penetrou na Grécia provavelmente por volta do séc. IX a. C. através das ilhas de Tera, Medos e Creta, e foi chamado durante muito tempo de “Phoinikia Grammata” (caracteres fenícios).

“Sobre o fato da apropriação dos Gregos ao alfabeto fenício, não pode existir qualquer dúvida. A semelhança extrema entre os sinais fala por si — pelo menos da forma fenícia para a forma grega arcaica; mais tarde, as formas foram se alterando gradativamente. Também os nomes das letras atestam isso: fenício: aleph, beth, gimel, daleth… Grego: alpha, beta, gamma, delta… (daí a palavra ‘alfabeto’)”.[3]

A princípio, a escrita grega, tal como a fenícia, era grafada somente com consoantes, da direita para a esquerda. De acordo com as necessidades, adaptaram-na ao seu idioma, acrescentando as vogais e utilizando um sistema conhecido como bustrofédon – nome derivado da ação do boi arando a terra – na qual cada linha era escrita em direção oposta à posterior: uma linha era escrita da direita para a esquerda, e a seguinte, da esquerda para a direita, e assim sucessivamente.

“A arte de escrever difundiu-se por todo o território ocupado pelos gregos, atingindo até o próprio povo — embora não houvesse escolas públicas, apenas a instrução privada, que privilegiava somente os filhos de pais nobres ou ricos. Mesmo assim encontram-se inscrições gregas em uma das colossais figuras em Abu Simbel, no alto Nilo, datadas de 600 a. C.; elas são de autoria de mercenários gregos, que se encontravam a serviço do rei egípcio de então, e demonstram que esses simples soldados podiam escrever, ainda que mal”.[4]

Assim, a invenção da escrita alfabética abriu uma porta para que os homens pudessem desenvolver essa arte tão fundamental.

Por João Pedro Serafim


[1] Para consultar os artigos anteriores, acesse:

https://gaudiumpress.org/content/a-origem-da-escrita-parte-i-a-escrita-cuneiforme/

https://gaudiumpress.org/content/a-origem-da-escrita-parte-ii-os-hieroglifos-egipcios/

[2] STORIG, Hans Joachim. A aventura das línguas. Trad. Cloria Paschoal de Camargo. São Paulo: Melhoramentos, 2003, p. 68.

[3] Cf. ibid.

[4] Ibid., p. 70.

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