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A palavra de Jesus é viva e eficaz

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A todo propósito, Deus lança com abundância em nossas almas a semente de sua palavra. Compete a nós fazê-la frutificar para a maior glória do Criador.

A parabola do semeador Museu Certosa di San Martino Napoles Italia Foto Francisco Lecaros

Redação (16/07/2023 14:28, Gaudium Press) Cada pequeno detalhe do Evangelho deste XV Domingo do Tempo Comum é denso de significado e de superior beleza.

“Naquele dia, Jesus saiu de casa e foi sentar-se às margens do mar da Galileia. Uma grande multidão reuniu-se em volta dele. Por isso, Jesus entrou numa barca e sentou-se, enquanto a multidão ficava de pé, na praia” (Mt 13,1-2).

O Mestre sai de sua casa em Cafarnaum e vai para a praia. O Mar da Galileia deveria estar sereno, sem o rumorejar das ondas, possibilitando que a voz de Cristo fosse ouvida com facilidade pela multidão disposta ao longo daquele anfiteatro natural. Tudo de uma grandiosa simplicidade, de tal forma que se esta barca tivesse sido preservada, mereceria sem dúvida ser venerada em uma catedral-relicário. Maravilhoso é o cenário preparado para este solene momento: é Deus quem vai falar!

Os diferentes terrenos

“E disse-lhes muitas coisas em parábolas: “O semeador saiu para semear. Enquanto semeava, algumas sementes caíram à beira do caminho, e os pássaros vieram e as comeram […]” (Mt 13,3-9).

Para atrair a atenção dos presentes, Jesus utiliza uma imagem acessível àquela sociedade dedicada à agricultura e ao pastoreio: a do lavrador que saiu para semear. Diferente de hoje, em que as sementes são espalhadas de modo automático por meio de máquinas em enormes plantações, naquela época tudo era feito à mão: o agricultor levava um saco de sementes e as lançava pelo terreno.

Na sugestiva parábola, algumas delas caem pelo caminho, outras em terreno pedregoso, ou ainda entre espinhos, figurando as diversas maneiras de se receber a pregação da palavra divina, como adiante o Senhor explicará aos seus mais próximos.

A necessária abertura em relação à palavra semeada

“Os discípulos aproximaram-se e disseram a Jesus: “Por que falas ao povo em parábolas?” (Mt 13,10).

A respeito dessa indagação dos discípulos sobre a forma de o Senhor proceder em suas pregações, muito esclarecedor é o comentário de São Tomás de Aquino: “Cristo ensinou algumas coisas ocultamente, servindo-Se de parábolas para falar de mistérios espirituais, porque os ouvintes ou não eram capazes ou não eram dignos de os entender. Ainda assim, era melhor para eles ouvir a doutrina espiritual sob o manto das parábolas do que serem dela inteiramente privados. Mas aos discípulos o Senhor expunha aberta e claramente a verdade das parábolas a fim de que, por eles, chegasse aos que fossem capazes”.[1]

Nosso Senhor faz referência à má vontade dos ouvintes cujos corações se tornaram insensíveis, e adverte: quem não corresponde às graças ou o faz de maneira incompleta pode até perder aquilo que tem, por não mais ser digno dos favores do Céu, como seria, por exemplo, naquele momento a explicação desta parábola. Pelo contrário, quem é humilde, diligente e fervoroso recebe renovadas graças para aumentar sua compreensão e com isso pode amar ainda mais. Em consequência, atrairá dons sobrenaturais cada vez maiores, num processo ascensional da vida espiritual.

Portanto, quem não exercita sua fé, seu amor a Deus e seu conhecimento das coisas divinas, ou seja, quem não avança rumo à perfeição, acaba perdendo até aquele pouco que lhe resta!

E o Divino Mestre faz referência ao trecho de Isaías do qual se deduz a necessidade de ver, ouvir e entender “com o coração”. Ou seja, não basta compreender racionalmente, é preciso, sobretudo, amar a explicação desta parábola.

A superficialidade impede a palavra de vingar

“A semente que caiu em terreno pedregoso é aquele que ouve a Palavra e logo a recebe com alegria; mas ele não tem raiz em si mesmo, é de momento: quando chega o sofrimento ou a perseguição, por causa da Palavra, ele desiste logo” (Mt 20,21).

Outras sementes caíram entre os pedregulhos e chegaram a germinar, mas as plantas não conseguiram formar raízes, por insuficiência de terra, e logo secaram. Esse terreno representa a inconstância de coração, a superficialidade de espírito daqueles que ouvindo a palavra de Deus, por vezes até com verdadeiro encanto, logo se distraem com alguma banalidade. Em tais almas, as graças recebidas, não conseguem se arraigar.

A palavra bem recebida

“A semente que caiu em boa terra é aquele que ouve a Palavra e a compreende. Esse produz fruto” (Mt 13,23).

A semente que caiu em terra boa e se desenvolve é figura daquele que ouve a palavra de Deus com entusiasmo e depois toma a decisão séria de mudar de vida, abandonando o pecado, a superficialidade de espírito e os apegos desordenados; ou seja, rompe de fato com tudo quanto significa terra endurecida, pedregulho ou espinho, e entrega-se completamente à prática da virtude. Esse, sim, produz todos os frutos!

A alma que deu frutos na plenitude

Quem ouviu e compreendeu por inteiro essa parábola senão Maria Santíssima, a qual certamente dela tomaria conhecimento com insuperável enlevo e amor? Ao falar em “boa terra” e em semente que produziu cem por um, muito compreensível seria estar Jesus pensando em sua Imaculada Mãe, a terra fertilíssima por excelência para fazer desabrochar a semente divina na plenitude.

Enfim, o Coração Imaculado de Maria Santíssima é um Evangelho vivo, cujas maravilhas ainda estão para ser conhecidas! Roguemos a Ela, protetora por excelência de todos quantos querem ouvir e pôr em prática a palavra de Deus, a graça de não deixarmos nenhuma semente que tenhamos recebido sem produzir todos os frutos esperados pelo Criador.

Extraído, com adaptações, de:

CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2013, v. 2, p. 206-217.


[1] TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q. 42, a. 3.

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