InícioNotícias da IgrejaAnjo da Guarda: amigo, confidente e protetor

Anjo da Guarda: amigo, confidente e protetor

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A Igreja reserva o dia 2 de outubro para a comemoração litúrgica dos Santos Anjos da Guarda. A festa surgiu no século XVI, provavelmente como reação à recém-inventada teologia protestante, que negava tão insigne crença.  

ANJO Anjo custodio

Redação (01/10/2023 21:10, Gaudium Press) A doutrina a respeito desses celestes custódios remonta a tradições antigas dos primeiros séculos do Cristianismo, além de possuir fundamentação nas Sagradas Escrituras. Um dos trechos mais explícitos a este respeito se encontra no Evangelho de São Mateus: “Guardai-vos de menosprezar um só destes pequenos, porque Eu vos digo que seus Anjos no Céu contemplam sem cessar a face de meu Pai” (Mt 18, 10).

Grandes Padres da Igreja já afirmavam essa crença. Segundo São Basílio Magno, certos Anjos são postos à frente dos povos, enquanto outros acompanham cada um dos fiéis. São Jerônimo, por sua vez, invoca a dignidade da alma humana como uma das razões pelas quais cada homem deve possuir um custódio próprio a partir de seu nascimento. E o grande Santo Agostinho assinala que os Anjos “nos contemplam peregrinos, se compadecem de nós e nos auxiliam, por mandato do Senhor, para que cheguemos um dia à pátria comum”.

Entretanto, somente no século XIII uma explicação teológica mais detalhada e satisfatória foi proposta sobre a temática. São Tomás de Aquino a formulou na primeira parte da Suma Teológica, reservando toda a questão 113 para tratar sobre a guarda dos Anjos bons.

Em oito artigos, o Aquinate propõe teses de inegável interesse, muitas das quais não deixam de despertar curiosidade. Em que momento o Anjo começa a guardar o homem? Os Anjos sofrem pelos males de seus custodiados? Eles podem abandonar seus protegidos?

Resumindo os artigos em breves palavras, podemos esclarecer que, quanto à primeira pergunta, São Tomás defende, concordando com São Jerônimo, serem os Anjos designados para guardar os homens após o nascimento destes; assim, o mais provável é que, enquanto está no ventre materno, o nascituro seja custodiado pelo Anjo da mãe.

Sobre a indagação de se os Anjos sofrem pelos males de seus protegidos, a resposta é negativa, uma vez que um ser se entristece quando ocorre um acontecimento contrário à sua própria vontade, e nada do que acontece no mundo contraria a vontade dos Anjos, pois esta adere perfeitamente à ordem da justiça e providência divinas.

Com relação à última pergunta, o Santo afirma que os Anjos nunca abandonam totalmente seus custodiados, assim como Deus, de quem eles são ministros e instrumentos, jamais Se afasta completamente de alguém.

O venerável teólogo chega a indagar se mesmo o Anticristo (cf. I Jo 2, 18; 4, 3), quando vier, terá um Anjo da Guarda… Ele responde afirmativamente e explica: neste caso, ele ajudará ao menos a que seu custodiado não pratique todo o mal que queira, da mesma forma como os demônios são impedidos pelos espíritos bons de fazê-lo.

“Quanta paciência preciso ter contigo!”

ANJO Anjo da GuardaSanta Gema Galgani, mística italiana nascida em fins do século XIX, parece haver encontrado em seu companheiro celeste um guardião extremoso. E não só: tendo sido agraciada por Deus com a presença visível de seu Anjo da Guarda, a Santa o considerava um amigo incomparável e terno protetor, a ponto de com ele conversar e se aconselhar inúmeras vezes – diga-se de passagem, sempre sobre assuntos espirituais.

Certo dia, disse ela a seu Anjo:

— Se algumas vezes eu for má, ó meu querido Anjo, não te zangues, quero te ser grata.

E ele respondeu:

— Sim. Eu serei teu guia e companheiro inseparável. Não sabes quem te confiou à minha guarda? Foi o misericordioso Jesus.

Em outra ocasião, após Gema ter sofrido à noite com muitos ataques do demônio, seu amigo celeste lhe ajudou a deitar-se novamente na cama e permaneceu à sua cabeceira para protegê-la contra eventuais investidas do maligno.

O Anjo chegou a dizer, um dia, à sua custodiada: “Pobre menina! És tão inexperiente! Tens necessidade de que alguém continuamente te proteja; quanta paciência preciso ter contigo!”

Ao mesmo tempo, o espírito angélico não hesitava em repreender e formar sua guardada. Certa vez disse-lhe com olhar ameaçador: “Não tens vergonha de cometer essas faltas em minha presença?” A donzela se sentiu extremamente confundida: “Foi-me impossível recolher-me um só instante, não tinha coragem de lhe dizer uma palavra, vendo que sempre que levantava os olhos ele continuava tão severo”.

Sequiosa de perfeição, Gema soube tirar inúmeros frutos desta “formação celeste”, sendo continuamente solícita com seu custódio, até mesmo quando este lhe impunha custosas penitências: “Repugnava-me tanto a penitência que ele me impôs de comunicar certos segredos ao confessor, mas obedeci, meu pai, fiz-me violência e fui muito cedo dizer-lhe tudo, e assim me venci; e o Anjo ficou tão satisfeito que se tornou amável comigo”.

Eles são nossos íntimos amigos

Devemos, a exemplo dessa grande Santa, ter por nossos Anjos da Guarda muita reverência e respeito. São Bernardo exortava a seus monges com estas palavras: “Não façais diante dos vossos Anjos aquilo que não faríeis diante de Bernardo”.

Ao mesmo tempo, consideremos que eles, enviados por Deus com a missão específica de nos custodiar até a hora de nossa morte, compreenderão melhor do que qualquer outro amigo terreno as nossas dificuldades, angústias, desejos e aspirações. Por isso Santa Teresinha do Menino Jesus, em um belíssimo poema dedicado a seu Anjo da Guarda, o chamava “meu irmão, meu amigo, meu consolador”.

 Os Anjos da Guarda são nossos amigos, nossos confidentes, nossos extremosos protetores. Sejamos-lhes fiéis, devotemos a eles nossa inteira confiança e entreguemos em suas mãos todas as nossas necessidades. Enfim, não hesitemos em seguir o conselho de grande São Bernardo: “Tratai, irmãos meus, familiarmente aos Anjos; levai-os continuamente em vosso pensamento e em devota oração, pois eles sempre estão convosco para vos defender e consolar”.

Por João Paulo de Oliveira Bueno

 

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 262, outubro 2023.

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