A ela coube a ventura de acompanhar muito de perto a grande Teresa de Jesus, da qual foi enfermeira, secretária e confidente, e, mais tarde, propagadora de seu espírito e continuadora de sua missão.
Redação (07/06/2022 10:03, Gaudium Press) Ana García Manzanas nasceu no primeiro dia do mês de outubro de 1549, numa família de prósperos agricultores do povoado de El Almendral, próximo a Ávila.
Era a sexta de sete irmãos e teve a felicidade de ser instruída na Fé desde os primeiros passos, não só ao ouvir os piedosos ensinamentos dos pais, como também ao vê-los proceder em tudo como excelentes católicos.
A tal ponto levavam a sério suas obrigações para com Deus que faziam questão de assistir à Missa a cada manhã, juntamente com todos os filhos, por mais graves e urgentes que fossem os assuntos a serem resolvidos no dia.
Habituada a dar o verdadeiro valor às realidades sobrenaturais, Ana sempre sentiu forte atração pelo Céu e profunda aversão ao pecado.
Familiaridade com o sobrenatural desde cedo
Aos três anos de idade, ela foi objeto do primeiro fenômeno místico de sua vida, o qual a encheu de forças e consolação: levantando os olhos, viu o Céu aberto e Nosso Senhor Jesus Cristo, cercado de glória, que a fitava, infundindo em seu coração ardentes desejos de amá-Lo e servi-Lo.
Daí por diante, a existência de Ana seria permeada de extraordinárias manifestações deste gênero, como, por exemplo, aparições frequentes do Menino Jesus, o qual Se apresentava sempre com idade equivalente à da menina.
Quando Ana tinha dez anos, faleceram seus pais e os irmãos deram-lhe a incumbência de cuidar dos rebanhos da família. Com isso muito lucrou ela, pois na tranquila solidão dos campos Jesus Menino passou a fazer-Se presente de forma visível todos os dias, proporcionando-lhe grande alegria espiritual.
Provas na entrega à vocação
Com o correr do tempo, tornou-se claro para a jovem Ana que Deus a chamava à vida religiosa, e o próprio Nosso Senhor lhe indicou, em sonho, o mosteiro no qual deveria ingressar: o convento das carmelitas descalças de Ávila, fundado havia pouco pela já então famosa Madre Teresa de Jesus.
Ana, contudo, só conseguiria seguir a vocação após duros combates, tanto contra os familiares, que se opuseram fortemente à sua decisão, como contra o demônio, cuja sanha em perdê-la foi terrível.
Assim descreve ela sua entrada no Carmelo, ao qual chegou acompanhada por alguns membros da família:
“Eles iam chorando ao longo do caminho e quase não me falavam. Eu ia muito alegre, mas, por outro lado, tão atormentada por más tentações, que parecia que todo o inferno se havia reunido para fazer-me guerra. Eu não ousava soltar uma palavra sobre isso, pois, se o fizesse, com razão diriam que eu era louca de entrar no mosteiro daquela maneira”.
Jesus, entretanto, que é a força e a vitória dos justos, logo premiou sua perseverança e fidelidade, como ela própria relata:
“Na porta de entrada, aquela tempestade desapareceu como se me tirassem um chapéu da cabeça; fiquei como num céu de contentamento, parecendo-me que havia passado toda a minha vida entre aquelas santas”.
No Convento de São José, de Ávila, Ana foi admitida como irmã leiga e agregou ao seu nome o de São Bartolomeu.
Encarregada das necessidades materiais da casa, sabia unir uma intensa vida interior à atividade incessante no cuidado das irmãs de hábito, tomando para si, com alegria, os trabalhos mais penosos.
Todavia, a provação que tantas vezes visita os que Deus quer mais especialmente aperfeiçoar, despontou inexorável bem no início do noviciado: cessou por completo a presença sensível de Nosso Senhor, que sentira desde menina.
No serviço pessoal da grande reformadora do Carmelo
O primeiro encontro com aquela que seria o luzeiro de seus passos deu-se quando Ana ainda era noviça, em julho de 1571. Ao vê-la, a grande Santa Teresa deixou transparecer tanto contentamento, que parecia estar à espera de alma tão consonante com a sua. Depois de analisá-la por alguns instantes, deu-lhe um forte abraço e ordenou que a colocassem no seu serviço pessoal.
Durante os três anos em que a Santa permaneceu naquele convento, Ana pôde receber inúmeras aulas de perfeição num convívio de intimidade, contemplando com enlevo e veneração as diversas facetas de sua superiora.
Esse período foi o início do longo caminho que as duas Santas percorreriam juntas. Tendo Santa Teresa partido para Sevilha em 1574, sua auxiliar não pôde segui-la, devido a uma violenta enfermidade que a deixou sem energias para os afazeres habituais.
Generosa como era, a sensação de inutilidade causada por esta situação só fez crescer seu desejo de dar-se por inteiro a Deus. Por isso, pediu a Ele que a curasse ou então a levasse desta vida, e recebeu esta resposta:
“Agora isto não te convém; hás de padecer muitos trabalhos na companhia de minha amiga Teresa”.
Apesar de tão consoladora promessa, a saúde de Ana não melhorou em nada… Como sói acontecer às almas muito eleitas, Jesus queria dela um novo ato de confiança e abandono.
Para servir Santa Teresa, nada era obstáculo
Quando Santa Teresa retornou a Ávila, Ana seguia doente. Não obstante, deu-lhe a ordem, à primeira vista bastante arbitrária, de assumir o posto de enfermeira.
Embora mal pudesse manter-se de pé, ela obedeceu prontamente, pedindo a Nosso Senhor que a auxiliasse. Demonstrando seu agrado com este ato de submissão, Jesus apareceu e não só lhe deu forças para tratar das irmãs enfermas, como também Se dispôs, Ele próprio, a cuidar de uma delas.
Ao cabo de alguns dias, todas haviam se restabelecido e comentavam, impressionadas, a dedicação e habilidade da nova enfermeira, que parecia conhecer todos os segredos da função como se a exercesse há anos.
Graças a este favor concedido por Deus, pôde ela socorrer inúmeras vezes sua santa madre nos problemas de saúde que a acometeram, sobretudo nos últimos anos de vida, quando, tendo fraturado o braço esquerdo, necessitava todo o tempo de alguém que a auxiliasse.
Além das viagens, que constituíam ocasião especialíssima de convívio, ela tornou-se mais próxima de Santa Teresa quando passou a ser sua secretária.
Ainda que não soubesse ler nem escrever, bastou a grande mestra externar o desejo de tê-la como assistente no despacho da correspondência, que Ana se prontificou em ajudá-la, confiando que Deus a proveria das condições necessárias.
Com simplicidade, pediu à Santa alguns escritos seus, a fim de imitar-lhe a caligrafia e, no mesmo dia, conseguiu redigir uma carta, anotando o que a madre lhe ditava.
Hoje a coletânea dos escritos da Beata Ana de São Bartolomeu constitui um grosso volume que proclama por si este milagre nela operado por Deus.
Diante dela, as insuficiências humanas deixavam de ser obstáculo, para se transformar na base sobre a qual Deus realizava seus milagres.
“Similis simili gaudet”
Em 4 de outubro de 1582, Santa Teresa se encontrava no seu leito de dor. Sentindo aproximar-se a hora derradeira, confessou-se, recebeu o Viático e expirou repousando a cabeça nos braços da fiel Ana, que a assistia dia e noite.
O próprio Nosso Senhor veio então consolar a fiel discípula, aparecendo a ela cheio de esplendor e mostrando-lhe a estupenda comemoração que os Anjos e Santos preparavam no Céu para receber a quem Ele chamava “minha amiga”.
Tão puro, abnegado e restituidor era o amor da Beata Ana por sua mestra, que bastou esta visão para fortificá-la e enchê-la de alegria, a ponto de não derramar uma lágrima sequer por sua morte.
Ao contrário, sentia-se radiante de felicidade, pois, afinal, sua venerável madre receberia o prêmio pelos árduos combates enfrentados, a glória pelos inenarráveis sofrimentos padecidos e a coroa por tantas vitórias alcançadas!
Após a partida de Santa Teresa para a eternidade, Ana tornou-se um ponto de referência para os que, pertencentes ou não à Ordem do Carmo, queriam melhor conhecer a gesta e a alma teresiana.
E logo ficou patente o quanto aquela testemunha fidedigna havia se deixado moldar por sua superiora e assimilado seu espírito. Por obediência, recebeu o véu negro, o que significava não ser mais uma simples irmã leiga, e foi enviada à França, juntamente com outras religiosas, para ali introduzir a Ordem das Carmelitas Descalças.
Passou os últimos anos de sua vida na Bélgica, onde fundou o Carmelo de Antuérpia.
Nessa época os belgas estavam em guerra contra os holandeses. Espalhara-se de tal forma sua fama de santidade, que muitos militares, antes de partir para o front de combate, vinham-lhe pedir algum objeto seu, para usá-lo como relíquia e garantia da proteção de Deus.
A um deles, que trazia ao peito um papel escrito pela santa madre, Deus salvou da morte: uma bala atravessou o grosso tecido do uniforme, mas foi detida pela fina folha de papel!
Ademais, em duas ocasiões, nos anos de 1622 e 1624, quando a cidade estava prestes a ser tomada pelas tropas inimigas, foram as orações de Madre Ana que miraculosamente a salvaram, dando razão ao que dissera algum tempo antes a infanta Isabel Clara Eugênia, filha de Felipe II, à época governadora dos Países Baixos:
“Nada receio a respeito do Castelo de Antuérpia nem desta cidade, porque estou mais segura com a defesa feita pelas orações da Madre Ana de São Bartolomeu do que com quantos exércitos possa ter ali”.
Em 7 de junho de 1626 esta valorosa alma encerrou sua carreira neste mundo para entrar nas alegrias do Céu, onde, certamente ao lado de sua querida Madre Teresa de Jesus, continua a amparar aqueles que zelam pela glória de Deus e de sua Igreja.
Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 186, junho 2017.
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