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Beato Camilo Costanzo: apóstolo do Japão

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Beato Camilo Costanzo, jesuíta italiano queimado vivo durante a perseguição no Japão. Mesmo na fogueira, não cessou de pregar a Fé em Cristo. A Igreja celebra sua memória no dia 15 de setembro.

Foto: jesuits.global

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Redação (14/09/2024 12:32, Gaudium Press) Camilo veio à luz em 1571, em Bovalino, região da Calábria, sul da Itália. Seus pais, Tommaso Costanzo e Violante Montana, pertenciam a uma família nobre originária de Cosenza.

Após passar a juventude em sua terra natal, decidiu estudar Direito Civil em Nápoles. Durante esse período, uma mudança radical se operou em sua conduta. Apesar de, até então, não ter se ocupado com a religião além do mínimo preceituado, começou, enquanto estudante universitário, a levar uma vida de muita piedade.

Sucedeu frequentar a Congregação Mariana que lá existia. Recebia assiduamente os Sacramentos, mortificava-se e jejuava quando lhe permitiam os deveres. De caráter determinado, o jovem não buscava dissimular sua posição religiosa diante dos outros, atitude que edificava a uns, mas produzia incompreensão em outros…

Forja-se o nobre caráter

Alguns de seus colegas, acostumados a uma vida acomodada e de prazeres, não aceitaram bem sua mudança de comportamento, pois significava uma constante repreensão aos maus hábitos deles. Como sói acontecer com os que abraçam a via da virtude, o jovem estudante das leis passou a ser perseguido e desprezado por todos. Mesmo assim, não era difícil encontrá-lo exortando-os a abandonar a vida dissoluta que levavam. A maldade de seus iguais em breve se manifestaria em forma de vingança…

Era o tempo de carnaval. Num fim de tarde, enquanto estudava em seus aposentos, viu entrar uma mulher cujos modos lascivos revelavam a malícia de sua intenção. Viera para perder aquela alma pura e casta. Tendo-a inquirido sobre o que fazia ali em hora tão imprópria e percebendo o perigo em que estava, Camilo tomou-se de santo zelo e se pôs a expulsá-la à força.

Depois, com o crucifixo nas mãos, agradeceu à Santíssima Virgem por não ter caído em tentação. Terminada a oração, viu aproximar-se o servidor da casa, que o repreendeu ferozmente por ter mandado embora aquela má mulher. Camilo respondeu-lhe com duas solenes bofetadas, dizendo: “E tu, que comes meu pão, haverás de induzir-me a fazer o mal?”

A verdadeira fidalguia

Entre lutas e sofrimentos, o jovem Costanzo alcançou a láurea em Direito. Contudo, isso não preenchia os anseios de seu coração. Almejava algo mais, sem saber ainda exatamente o que, embora misteriosas insinuações da graça lhe permitissem pressentir.

Fazendo jus à sua linhagem aristocrática, decidiu lutar no cerco de Ostende em Flandres, nos Países Baixos, alistando-se às milícias do General Ambrogio Spinola Doria. Nessa época, o Império Espanhol lutava para conquistar essa cidade de grande importância estratégica, subtraindo-a ao poder protestante, num cerco que durou mais de três anos.

Entretanto, ali também não encontrou seu ideal. Seguindo a voz divina, foi conduzido pelo Senhor a uma fidalguia muito superior: ser soldado de Cristo na Companhia de Jesus. Ingressou no dia 8 de setembro de 1591 nas fileiras de Santo Inácio, contando apenas vinte anos de idade.

A partir de 1593, lecionou Gramática no Colégio de Salerno e, em 1601, tornou-se responsável pelo oratório desse estabelecimento. No ano seguinte, tendo completado três décadas de vida, foi ordenado sacerdote. Estava pronto para o combate que, em seu íntimo, ansiava.

Missionário no longínquo Oriente

Ser missionário em terras longínquas e incultas na Fé! Eis o imperativo que a graça lhe soprava no espírito. À medida que o Pe. Camilo exercia seu ministério, sentia crescer em si cada vez mais uma sede irresistível de almas. Por isso, passou a pedir insistentemente para ser enviado à China.

Em março de 1602, seus desejos principiaram a realizar-se, embora não do modo como esperava. Abandonou o porto da Itália com destino à Índia, lá permanecendo em torno de um ano. Dali partiu para o esperado país dos mandarins, desembarcando em Macau, na época em posse da coroa de Portugal. Mas tampouco era para esse povo que a Providência reservava seu trabalho evangelizador…

Os portugueses que dominavam aquela região impediam os missionários italianos de penetrarem no Império Chinês. O jesuíta, com o coração dilacerado, dirigiu-se então para a misteriosa Terra do Sol Nascente, o Japão.

Assim se passa com as grandes vocações. Quando tudo leva a crer que seus desejos mais santos – e inclusive inspirados por Deus para a sua maior glória – estão prestes a realizar-se, logo são visitadas pelo fracasso. O próprio Senhor que os desperta, permite que tais anseios não se concretizem. Desse modo, Ele não só prova seus varões escolhidos, como tira da aparente contradição um fruto ainda muito maior.

Autêntico fervor missionário

O ardoroso sacerdote desembarcou em Nagasaki no dia 17 de agosto de 1605. Durante o primeiro ano, empenhou-se no estudo do idioma nipônico. Iniciou seu apostolado na cidade de Buzen, província de Kyushu, e depois partiu para Sakai.

Seu temperamento sincero e manso, seus costumes afáveis e seu zelo pela Religião granjearam-lhe a estima daquele povo tão afeito à fidelidade e à devoção. Durante esse período operou mais de oitocentas conversões, das quais só meia dúzia viria a perder-se na perseguição que se seguiria.

De fato, uma nuvem negra toldaria esse labor apostólico que prometia ser ainda mais promissor. Havia tempos, as autoridades do arquipélago temiam uma invasão das potências ocidentais, receio que só aumentava à medida que crescia o número das conversões.

Expulso do Japão

Os católicos japoneses conheceram poucos períodos de paz. Os primeiros missionários desembarcaram no Japão por volta do ano de 1549. Em 1587, os cristãos já somavam cerca de trezentos mil, localizados principalmente nos arredores de Nagasaki. Nesse mesmo ano, o xógum Hideyoshi, que até então era condescendente com a verdadeira Religião, publicou um decreto de expulsão dos jesuítas, única ordem presente em seu território.

A maioria dos religiosos, dignos filhos de Santo Inácio, assumiu uma posição de discrição e prudência, continuando a obra evangelizadora em silêncio e com cautela. Mas, em 1593, desembarcaram os primeiros franciscanos, que não adotaram a mesma tática. Hideyoshi ordenou prender todos os religiosos, assim como os neófitos que fossem descobertos. As detenções se iniciaram em 1596, e no ano seguinte os primeiros mártires sofreram a morte por crucifixão.

Já em 1614, o xógum Tokugawa Hidetada, com furibundo ódio à Religião e temor de que o aumento dos católicos pudesse prejudicar a estabilidade de seu reino, proibiu o Cristianismo. Os missionários deveriam ir embora e os católicos renunciar à Fé sob pena de morte.

O Pe. Costanzo foi obrigado a abandonar suas ovelhas, e retornou a Macau. Ali permaneceu por sete anos. Apesar da impossibilidade de realizar o apostolado que desejava, utilizou esse período para escrever quinze livros refutando a doutrina budista em um japonês perfeito, que até hoje causa admiração naqueles que os estudam.

O anjo do Japão

Mas o coração e a atenção do jesuíta permaneciam junto à terra nipônica. Tal qual o Anjo da Guarda em relação a seu custodiado, Camilo constantemente oferecia fervorosas preces e súplicas pelos que lá deixara, aguardando o momento oportuno em que pudesse retornar à ilha.

Em 1621 resolveu, com santa ousadia, retomar suas atividades. Pondo em prática a astúcia da serpente, como fala Nosso Senhor no Evangelho (cf. Mt 10, 16), resolveu partir disfarçado de soldado em direção a Nagasaki. Sua virtuosa fisionomia e seus hábitos modestos, porém, acabaram por o trair. O capitão do barco desconfiou de que fosse religioso, mas, sendo também católico, optou por não entregá-lo às autoridades. A rogos dos que estavam na nave, desembarcou-o num lugar deserto na província de Hizen.

Esses percalços, contudo, não lhe tiraram o ânimo. Pés em terra, começou logo a fortalecer os fiéis que encontrava, disseminados por uma infinitude de vilarejos. Esteve em Karatsu e nas ilhas de Hirado e Ikitsuki. Em muitos desses lugares deparou-se com terreno virgem, onde pode lançar as sementes do Cristianismo, que vieram a dar frutos depois.

Tal era o número de cristãos que a ele recorriam pedindo socorro espiritual, que percorreu aquelas regiões sem repouso, noite e dia, acompanhado por dois japoneses, Agostinho Ota e Gaspar Koteda.

Certa vez, descobriu muitos fiéis que estavam encarcerados. Apesar do risco que corria, encontrou um modo de burlar a guarda, penetrar na prisão e administrar-lhes os Sacramentos, exortando-os a imitar o Redentor em seus sofrimentos.

Obediência primeiro a Deus!

Após três meses de intenso labor em Ikitsuki, partiu para a ilha de Noscima. Havia aí uma piedosa senhora católica que muito desejava a conversão do marido. Na esperança de que o esposo se encontrasse com Camilo, ela lhe revelou o esconderijo do jesuíta. Mas o pagão apressou-se em referir tudo ao governador.

Três barcos armados partiram em sua busca, e ele foi preso na ilha de Ocu, em 24 de abril de 1622. Inquirido sobre sua verdadeira identidade, não negou: sacerdote católico e religioso jesuíta! Sem mais, prenderam-no pelo pescoço e o conduziram à prisão.

Nesse cárcere permaneceu até 15 de setembro de 1622, quando o enviaram para o derradeiro interrogatório, em Firando. Novamente indagado sobre por que não obedecia ao déspota japonês, respondeu que “a Religião Cristã manda que as autoridades sejam obedecidas em tudo o que não contraria os preceitos de Deus; mas como o edito do príncipe do Japão, que proíbe a pregação da lei cristã, muito repugna aos preceitos do Rei do Céu, por esta razão eu não poderia obedecer a um rei da terra”.

Imolação oferecida com alegria

Cheio de gáudio, tal como os primeiros mártires, foi transladado ao lugar do suplício. Aos cristãos que para lá acorreram, encorajava a viverem segundo os ditames de Nosso Senhor, mesmo sob perseguição. Agradecia não só àqueles que o tinham ajudado no Japão, como também aos seus algozes, por lhe darem a oportunidade de ingressar na Pátria Celeste.

Logo chegou à sua derradeira arena: um velho poste feito de cana. “Então ele, como que de um púlpito, começou a pregar e, finalmente, a protestar que por nenhum outro motivo fora condenado à morte, senão por ter pregado a Santa Fé”. E continuou discorrendo sobre as palavras de Nosso Senhor: “Não temais aqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma” (Mt 10, 28).

Foi ateado o fogo e, apesar da lenta ascensão deste, a distinta voz do sacerdote ressoava sempre firme e peremptória. Em certo momento, marcado por um breve silêncio, quando o fumo o havia coberto por inteiro teve-se a impressão de que ele expirara. Mas o nobre combatente relutava em render-se: entoou ainda o cântico Laudate Dominum omnes gentes e discorreu em língua latina e japonesa sobre as maravilhas da beatitude eterna, reservada aos que seguem a Fé Católica.

Relata-se que no instante extremo, ele elevou os olhos aos céus, cantou o Gloria Patri e por cinco vezes pronunciou a palavra Santo. Dito isto, rendeu o espírito e sua alma voou para o encontro com o Criador.

Era o dia 15 de setembro de 1622. O anjo do Sol Nascente realizara sua missão. Havia proclamado o nome de Cristo naquelas terras inóspitas e marcado os eleitos com o selo do Santo Batismo; protegera-os contra as afrontas do Maligno e seus sequazes, e não temeu as prisões e o martírio. Dali em diante, da eternidade faria ainda mais por esta nação que deu tantos frutos para a Igreja, a despeito da intensa perseguição que a Esposa Mística de Cristo ali sofreu.

Em 17 de julho de 1867, Pio IX beatificou o sacerdote Camilo Costanzo, juntamente com outros duzentos e quatro mártires do Japão.

Texto extraído, com adaptações, da revista Arautos do Evangelho n. 261, setembro 2013. Por Rodrigo José Vilela Lira dos Santos.

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