A Igreja Católica na Síria está “morrendo”, alertou o arcebispo sírio-católico de Homs, enquanto o país enfrenta turbulência política, colapso econômico e escalada de violência sectária sob um novo governo liderado por islamistas.
Foto: Fundação João Paulo II do Vaticano
Redação (07/11/2025 09:44, Gaudium Press) O arcebispo sírio-católico de Homs, Dom Jacques Mourad pronunciou-se por ocasião da apresentação, em Roma, no final de outubro, do relatório “Liberdade Religiosa no Mundo 2025” da “Ajuda à Igreja que sofre” (ACN).
Dom Mourad criticou a “insustentável situação jurídica e política” na Síria. Dirigindo-se a uma plateia de clérigos, diplomatas e jornalistas, o prelado católico sírio descreveu uma comunidade cristã tomada pelo medo e pelo êxodo. “Nenhum esforço da Igreja Universal ou da Igreja local conseguiu conter a maré da emigração”, afirmou Mourad, atribuindo a fuga não apenas à perseguição religiosa, mas à “desastrosa situação política e econômica da Síria”.
As pessoas sofrem “sob violência e repressão”, afirmou Mourad, traçando paralelos com o Afeganistão: “Não existe a mesma violência que no Afeganistão, mas não estamos longe disso. Exerce-se uma enorme pressão sobre a população. Não acreditem que estamos no caminho para a liberdade.” O percurso de um “regime autoritário e unipolar” para a democracia ainda é longo.
A ACN estima que a população cristã síria despencou de 2,1 milhões em 2011 — antes da eclosão da guerra civil — para cerca de 540 mil em 2024.
As declarações do arcebispo ocorrem quase um ano após forças islamistas sunitas derrubarem o presidente Bashar al-Assad em uma ofensiva relâmpago. O novo regime, liderado pela HTS, prometeu publicamente proteger minorias religiosas, mas Mourad citou ataques persistentes contra não sunitas, muitos acusados de vínculos com o governo anterior.
“A Igreja na Síria está morrendo”
Cada vez mais cristãos abandonam o país devido à situação atual, constatou Mourad, alertando: “A Igreja na Síria está morrendo. Não há liberdade, nem religiosa nem de qualquer outro tipo.” Há anos que a Igreja na Síria tenta travar a emigração – também graças ao apoio externo. Tal esforço atinge, porém, os seus limites, explicou o arcebispo, face à incerteza que persiste após a queda do regime de Assad: “Não é possível conter uma onda migratória sem antes estabelecer um sistema governativo claramente definido e um sólido sistema de segurança.”
Mourad traçou um quadro sombrio da vida cotidiana: “O povo sírio continua a sofrer violência, represálias e eventos trágicos e lamentáveis que minam todas as reivindicações internacionais e demandas populares para pôr fim a esse banho de sangue.”
Mourad apelou à comunidade internacional, tendo em conta os atentados e confrontos sangrentos dos últimos meses, para adotar “uma posição clara relativamente aos acontecimentos na Síria”. Representantes políticos, organizações humanitárias, escolas, universidades e instituições culturais, tanto no país como no estrangeiro, devem colaborar “para superar o medo que reina na sociedade e promover formações sobre o papel da legislação, a aplicação da justiça e a independência do poder judicial”.
“Os cristãos sentem-se como estrangeiros”
A Igreja dá o exemplo: em Alepo, por exemplo, formam-se cristãos para “assumirem um papel político, caso surja a oportunidade”, esclareceu Mourad. É “insuportável” que os cristãos na Síria continuem a sentir-se estrangeiros, apesar de serem cidadãos do país há séculos.
O novo presidente da Síria, Ahmed al-Sharaa, visitou a Igreja de Santa Maria, na Cidade Velha de Damasco, onde reiterou compromissos do governo em proteger os cristãos. O gesto ofereceu um raro momento de alento em meio à crescente ansiedade.
Ainda assim, Dom Mourad expressou uma esperança alicerçada na fé. “Nós temos esperança devido à nossa fé. E não me refiro à fé cristã, mas também à fé muçulmana. Realmente há uma esperança. A esperança vem da confiança. Se não tivermos confiança com a comunidade internacional, com o governo local, não teremos esperança. […] A nossa confiança é só uma confiança em Deus. E, por isso, o povo da Síria precisa de encontrar um local seguro, um local de paz. Se esta crise continuar, os cristãos continuarão a se dispersar no mundo, pois isso significa que a raiz do cristianismo que vem do Médio Oriente deixará de existir. Isso significa que a igreja já não estará conectada com a própria raiz. E isso é realmente importante”. [1]
Dom Mourad foi sequestrado em 2015 por terroristas do Estado Islâmico e torturado na tentativa de forçá-lo a renunciar à fé, inclusive submetido a uma encenação de execução. Ele suportou cinco meses de cativeiro sem jamais negar Cristo.
[1] Fundação AIS Portugal
The post Igreja Católica na Síria está morrendo appeared first on Gaudium Press.


