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Ir. Clare Crockett: contagiante e sincera alegria a serviço da Igreja

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O testemunho de uma vida a serviço da Igreja levada com generosidade é exemplo para quantos desejem abraçar com integridade a vocação religiosa.

Redação (18/02/2022 09:33, Gaudium Press) As diversas trilhas encetadas por milhares de homens e mulheres que se propuseram seguir com afinco uma vocação religiosa na História da Igreja são tão variadas quanto diferentes as suas fisionomias.

Ao longo da trajetória da humanidade, os aspectos belos e comoventes dessas vidas constituem modelos para quem deseja abraçar o caminho da prática da virtude, seja pela integridade ou pelo exemplo de penitência e emenda.

De fato, a Providência divina nunca deixa de suscitar almas com dons e carismas específicos para bem atender as necessidades dessa ou daquela quadra histórica: pois, afinal de contas, é o exemplo que arrasta!

Nesse sentido, sem precisar recuar décadas, muito ao nosso alcance, causa especial atenção o grande bem que tem feito para muitas almas a difusão da biografia de uma jovem irlandesa, Ir. Clare Ckockett,[1] sierva del hogar de la Madre.[2]

Ao contrário do que se podia esperar de uma candidata à vida religiosa, cujos caminhos Deus palmilhava em meio aos percalços do mundanismo em que vivia absorta, Clare Crockett possuía um sonho: desfilar pelos tapetes famosos de Hollywood.

Duas vias

Entretanto, os rumos que ela traçara para si se bifurcariam.

Embora com modo de ser muito expansivo, loquaz e manifestativo, desde a infância, as suas aptidões naturais a levavam com frequência a se sobressair em relação aos demais, seja por simpatia ou por trejeitos dissuasivos. Ademais, os defeitos de seu caráter lhe eram muito nocivos, pois seu orgulho infantil e sua vaidade se afloravam em qualquer situação, não se importando com os outros.

Dotada ainda de senso de liderança, costumava sair-se bem em situações complicadas, sem muito esforço. Em família, entre conhecidos e vizinhos era sempre muito lisonjeada; e foi nesse berço de adulações que suas ambições se tornaram tonificadas: queria a fama!

Por outro lado, pertencente a uma família católica muito ligada à identidade nacional irlandesa, sua infância transcorreu num ambiente ligado à Igreja, embora sem muito entusiasmo de sua parte. Contudo, apesar de sua falta de atenção na recitação do rosário em família, “a Virgem havia posto seu olhar em Clare com afeto maternal”,[3] e desde então velava por ela.

Contando apenas sete anos, ao ver a representação de cenas da Paixão durante uma Via-Crucis na igreja paroquial, acompanhada das irmãs e da mãe, não pôde deixar de externar sua comiseração até as lágrimas, vendo padecer “esse homem”[4], sem saber bem quem era…

Foram os primeiros contrastes entre as duas vias que iam se delineando em seu horizonte interior.

Ora, os tons e sobretons que iam compondo o pano de fundo de sua alma iam cedendo lugar às cores cada vez menos belas, já que afastada da religião, a partir de seus quinze anos, juntou-se a companhias indesejáveis nas cercanias da igreja – onde seus pais supunham que estivesse –, gastando com cigarros e bebidas o dinheiro por eles ofertado às velas…

A busca pela glória mundana, motor de seus afazeres, acentuou-se: conseguiu formar uma banda em seu colégio; porém, isso era insuficiente, pois queria ser atriz e, é claro, “não uma atriz qualquer, mas sim uma atriz famosa”.[5]

Aqui transparece um traço fundamental de seu caráter: Clare era muito radical. Afirmava de maneira taxativa que “era ‘tudo ou nada!’: ou ser atriz famosa de Hollywood, ou nada de nada”.[6]

Deus entra em cena

Não é raro, contudo, que, na história das almas chamadas de forma especial por Deus, a ganga do egoísmo se misture ao mais valioso ouro; e será nesse garimpo interior querido e exigido pela Providência, que se mostrará o incipiente anelo de grandeza plantado nessa alma eleita.

Dinheiro, fama e prestígio: eis a tríade sobre a qual se assentava o caráter dessa jovem irlandesa. Rodeada de tantos amigos, trabalhando para o “Canal 4” da Inglaterra, obtendo êxito sobre êxito, seus talentos faziam-lhe divisar sua meta, mas com um incômodo cada vez mais crescente: “sou feliz?”[7]

É nesse preciso momento que Deus entra em cena: com apenas dezesseis anos, recebe um convite em extremo promissor para sua carreira, simultaneamente, duas de suas conhecidas sugerem-lhe que participe de um retiro organizado por um grupo católico de jovens,[8] ao que, a contragosto, assentiu.

“O Senhor havia posto os olhos nela”[9] – afirma Kristen Gardner –, pois a partir de então, o mundo de pecado no qual Clare vinha adentrando e, ao mesmo tempo, o chamado de Deus se fizeram colidir. Segundo ela mesma relata, passou por momentos em que queria mudar de vida, sem perseverar por muitos dias, pois “necessitava que a graça de Deus entrasse nela e fortalecesse sua vontade”.[10]

Anos mais tarde, convidada a participar de outra programação do mesmo grupo de jovens, dessa vez na Espanha, através de um conterrâneo seu, Clare pensava aproveitar a ocasião para um passeio de férias: “viagem grátis ao sol de Espanha! Dez dias de praias e festas!…”

A inesperada e especial graça

Era Deus quem traçava o seu itinerário, pois quando aportou na península, deu-se conta de que se tratava de uma peregrinação… e aí já era tarde demais.

Nessas circunstâncias, na Semana Santa de 2000, Clare tomaria contato próximo com as Servas do Hogar de la Madre, recebendo a graça que mudaria o rumo de sua vida, apesar de se encontrar num mosteiro do século XVI, [11] perdido em umas montanhas.

Com efeito, Clare não tinha pensado em participar dos atos litúrgicos da Sexta-feira Santa, mas afinal entrou na Igreja, dada a insistência dos coordenadores da peregrinação: “Por respeito, deverias entrar. Hoje morreu Deus por ti”.[12]

Então, sentando-se num banco dos fundos da igreja, foi alvo de uma especial graça, segundo ela mesma relata: “Apresentou-se o momento em que todos os que estavam na igreja fizeram uma fila no corredor central […] para a adoração da cruz. Vi que alguns faziam a genuflexão e depois beijavam os pés de Jesus cravado na cruz. Era a primeira vez que via algo assim. Eu me pus na fila, não movida por nenhum impulso piedoso ou fervoroso; simplesmente, o fiz porque era o que convinha fazer. Quando chegou minha vez, pus-me de joelhos e beijei os pés de Jesus. Aquele simples ato não durou mais de dez segundos. Beijar a cruz, algo aparentemente trivial, teve um impacto muito forte dentro de mim. […] Eu não sei explicar exatamente o que houve, não vi nenhum coro de anjos nem sequer alguma pomba branca que descia do teto até mim, mas tive a certeza de que por mim o Senhor estava na Cruz”.

“Mas, como responder a Nosso Senhor, ali crucificado por ela? É o que se perguntava Ir. Clare. “A única maneira, através da qual eu podia consolar o que eu estava vendo na cruz, era com minha vida”. [13]

De fato, tão profunda, sincera e honesta fora a dádiva divina recebida que ela logo confessou-a:

– “Meu plano era chegar a ser uma atriz famosa, mas depois disso, estou confusa, porque creio que Deus quer que [eu] seja ‘uma delas’ [do Hogar de la Madre]”.[14]

Na atividade seguinte, em meio a outros circunstantes, ao dar seu testemunho sobre as impressões daquele dia, Clare esboçava o seu chamado: “Chamo-me Clare. Tenho 17 anos e sou da Irlanda. […] Hoje, falamos sobre a vocação e eu pensei: ‘Meu Deus, tenho vocação! Mas quero ser famosa’”. [15]

A purificação

Era a exclamação da alma chamada, ainda emergente das lutas interiores pelas quais passava e que, diante da fama e da santidade, quis ter todos os seus anelos realizados.

Começava uma longa trajetória de purificação, da escolha feita por Deus contra o mundo.

Sobre tal período de abandono do mundo e entrega à religião, permeado de tentações, de novas ofertas profissionais e de lutas contra seus vícios e defeitos, somados às surpresas das provações e indecisões que lhe adviriam, Clare o resumiu com os dizeres de Santo Agostinho: “Com o peso de minhas misérias, voltei a cair em coisas terrenas e a ser reabsorvido pelas coisas costumeiras, ficando delas cativo”.[16]

Em poucas palavras, “Clare estava dividida entre dois mundos e dois amores. Cristo havia mostrado seu grande amor por ela, indicando-lhe o caminho da verdadeira felicidade, mas ela, todavia, não estava disposta a aceitar os sacrifícios que implicavam alcançar tal felicidade”.[17]

Em seu relato biográfico, causa admiração a honestidade e a probidade de suas “confissões”, sem receio de tornar menos bela sua pugna. Pelo contrário, a veracidade com que delata suas fraquezas faz de sua vida um testemunho evidente de santidade, de alguém que admite ser fraca, reconhecendo in totum que a graça da conversão é, antes de tudo e acima de qualquer esforço, uma dádiva divina!

Foi a vida que Clare abraçou com “determinada determinação” – segundo expressão de Santa Teresa –, visto que a paz tão almejada só podia ser encontrada na vocação que lhe dera Deus, sendo religiosa.

Apesar das incompreensões familiares e das outras não pequenas preocupações, Clare foi afinal aceita como candidata nas Servas del Hogar de la Madre, no dia de Santa Clara de Assis: estavam abertas as vias de seus grandes desejos, de negar-se a si mesma e de seguir a Nosso Senhor.

A intensa vida religiosa levá-la-á a dar provas de uma dedicação impressionante: desde sua recepção como noviça em Priego (Espanha), assumindo os afazeres da imprensa da comunidade e passando por outras casas onde exerceria as mais diferentes atividades. Sempre radiante de alegria, sua atitude refletia a generosidade das grandes almas que só encontram satisfação na entrega ao próximo.

A alegria contagiante e dedicação

Já como Ir. Clare Maria da Trindade e do Coração de Maria, tendo professado os votos temporários, sua missão evangelizadora transbordaria por muitos quadrantes: ainda em Espanha – em Belmonte ou Zurita –, onde ficaria encarregada de gravar programas televisivos para crianças; em Jacksonville (Flórida, EUA), onde cuidaria com infatigável zelo da formação de meninos e meninas num colégio, abrindo portas para a difusão da obra do Hogar de la Madre; ou, mais tarde, de volta a Espanha, auxiliando espiritualmente em hospitais.

Em todos esses lugares, a nota característica de sua conduta era a alegria, sem a qual sabia ser impossível incutir nos demais o profundo e sincero desejo da prática da virtude – de maneira notável a da modéstia e a da castidade, levadas por ela com ilibado ânimo, desde sua conversão.

É nesse período de labor apostólico que a Providência começou por esvaziá-la das máscaras de sua superficialidade, a fim de destruir o muro que ainda a distanciava de Deus, mediante as humilhações e provações a que estão sujeitos todos aqueles que abraçam as vias da santidade, ao que ela exclamará: “Purifica meu amor, Senhor, para que eu possa ter um amor limpo e puro. Para que eu possa amar os outros com teu amor. Ama em mim, já que eu não sei amar”.[18]

Com efeito, há poucos meses de sua profissão religiosa definitiva, quando estaria selada sua entrega, o processo de sua purificação ia atingindo um novo patamar, fazendo-a recordar as palavras de certo autor: “a maior sensação de liberdade – quando se tem paz de alma e uma sensação de segurança permanente – chega quando um homem se abandona totalmente para seguir a vontade de Deus”. [19]

A vontade de Deus a chamava dessa vez ao Equador, à recém-fundada casa do Hogar, onde ela consumaria seu holocausto.

Entrega total

Ocupando-se das mais variadas diligências na formação da juventude: físicas, emocionais e espirituais, desde o auxílio nos estudos, na educação, na lavagem das roupas, em jogos, enfim, no que fosse, Ir. Clare converteu-se numa verdadeira mãe, guia e amiga para todas aquelas a quem o Senhor lhe encarregava, e de tal modo que “a encantava não ter tempo para si mesma”,[20] tornando seu convívio assaz benfazejo, transmissor de uma carismática felicidade.

Suas aspirações, ademais, apontavam para que nunca houvesse um ambiente triste ou abatido, preventivo contra qualquer espécie de ação do demônio: “uma coisa que eu vejo – afirmava ela – é que nunca posso deixar-me levar pela falta de virtude: o enfaro, a ira, o cansaço… quando trato com as meninas”, caso contrário, estaria ela defraudando a sua missão. Isso explica a gigante força de vontade que a impelia agir com incansável dedicação onde fosse, segundo seu próprio testemunho: “não é nenhum mérito meu, pois é fácil para mim adaptar-me onde esteja: com os ricos dos Estados Unidos, com os pobres do Equador, com os doentes nos hospitais de Valência, ou com as meninas mais vivazes de Belmonte. Realmente, experimento que qualquer comunidade é meu hogar (lar)”.[21]

Apesar das muitas dificuldades e privações nessa missão, Ir. Clare não economizava seus esforços, ansiando o cumprimento exímio da obediência religiosa, que lhe valeria, nesses últimos meses de vida, exclamações de satisfação: “Sou feliz, feliz, feliz! Ainda que haja dias que muitas coisas me custem. Vale a pena dar a vida por Deus, que é tão grande. Isto é o que meu coração sempre desejou e que nenhum amor humano, nenhum plano ou coisa pôde preencher”.[22]

Como fruto dessa generosa vida entregue a Nosso Senhor, desde que Ele a confiscara naquela Sexta-feira Santa do ano 2000, estando em Playa Preta (Equador), em atividades apostólicas, a Providência colheria sua alma por ocasião de um trágico terremoto que a sepultou com outras cinco meninas, no dia 16 de abril de 2016, vésperas da festa do Bom Pastor e aniversário de Bento XVI, por quem ela sempre sentiu especial vínculo espiritual.

Com efeito, se a generosidade de alma de Santa Teresinha foi capaz de ultrapassar os muros da clausura de um Carmelo de Lisieux, tornando-se profícua a quantas almas a admirem, por que seria diferente o bem causado por esta alma alegre e virginal, cujo carisma – latente na luminosidade de seu olhar –, cada vez mais, é um apelo à juventude de nossos dias? “Sei que de minha fidelidade e docilidade dependem muitas almas”.[23]


[1] Clare Theresa Crockett nasceu a 14 de novembro de 1982 em Derry, Irlanda. Filha de Gerard Crockett e Margaret Doyle. A biografia referida é escrita pela Ir. Kristen Gardner. Hna. Clare. Sola con el solo. E.U.K. Mamie: Cantabria. 2020. A autora do livro, Kristen Gardner, conheceu o Hogar de la Madre mais ou menos no período em que Clare Crockett entrou como candidata.

[2] O Hogar de la Madre é uma congregação católica, fundada na Espanha no ano de 1982 pelo Pe. Rafael Alonso Reymundo, sacerdote diocesano de Toledo. Possui dois ramos, um masculino e outro feminino, ambos aprovados a nível diocesano em Espanha no ano de 1994. Todo o Hogar de la Madre recebeu a aprovação pontifícia em junho de 2010, como Associação Pública Internacional de Fiéis.

[3] GARDNER, Kristen. Hna. Clare Crockett: Sola con el solo. Zurita (Cantabria): Fundación E.U.K. Mamie, 2020, p. 27. (Tradução pessoal).

[4] Cf. Ibid., p. 28.

[5] Palavras da Ir. Clare em uma entrevista para o programa “Creados para amar”, H. M. Televisión. 2010. In: Op. cit., p. 40.

[6] Ibid., p. 40.

[7] Cf. Ibid., p. 43.

[8] Grupo COR (Christ in Others Retreat).

[9] Op. cit., p. 53.

[10] Ibid., p. 54.

[11] Trata-se do mosteiro de São Miguel das Vitórias, construído em ação de graças pela vitória dos católicos na Batalha de Lepanto em 1571.

[12] Op. cit., p. 65.

[13] Clare Crockett, testemunho de agosto de 2011. In: Op. cit., 64.

[14] Ibid., p. 63.

[15] Ibid.

[16] Cf. Confissões, L. X., Cap. XV. Citado no testemunho escrito pela Ir. Clare, de 2014. In: Op. cit., p. 82.

[17] Op. cit., p. 84.

[18] Ibid., p. 213.

[19] De autoria do Pe. Walter Ciszek, no livro caminando por valles escuros, segundo citado por ela. Op. cit., p. 231.

[20] Op. cit., p. 281.

[21] Email ao Pe. Rafael Alonso, 11 de novembro de 2013. In: Op. cit., p. 312. (Tradução pessoal).

[22] Email ao Pe. Rafael Alonso e à Madre Ana, 15 de setembro de 2015. In: Op. cit., p. 412. (Tradução pessoal).

[23] Email à Madre Ana, 14 de julho de 2014. In: Op. cit., p. 428. (Tradução pessoal).

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