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Mediocridade, defeito fatal

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“As virgens prudentes são as almas que, utilizando o tempo de que dispõem para realizar obras boas, preparam-se para ir ao encontro do Senhor. As néscias, pelo contrário, são as almas relaxadas e preguiçosas que só se preocupam pelas coisas presentes.”

Redação (08/11/2020 08:03, Gaudium Press) Neste 32º Domingo do Tempo Comum a Liturgia nos apresenta a figura de dez virgens: as sábias – ou prudentes – , e as loucas – conforme a tradução do texto original grego – que aguardam a chegada do noivo, para acompanhá-lo à festa de seu casamento.

Como de costume, naqueles tempos, as pomposas festas nupciais dos judeus só se iniciavam após o anoitecer; e, para acompanhar o jovem nubente em procissão, fazia-se necessário que cada um portasse sua própria lâmpada – geralmente alimentada por azeite ou resina. Não havia, obviamente, iluminação pública e muito menos elétrica.

Para tanto, era também conveniente prevenir-se, levando uma vasilha com reserva de combustível caso este viesse a faltar.

Tarde demais…

Umas e outras se preparam para ir ao encontro do noivo. As virgens prudentes possuem reserva de óleo, as outras não. Todas cochilam.  No meio da noite, um brado se faz ouvir: “O noivo está chegando. Ide ao seu encontro!”

As jovens despertam e se preparam; e cinco delas – as néscias –, com suas lâmpadas quase apagadas, imploram um pouco de azeite às companheiras prudentes. Recebem, no entanto, dura resposta: “De modo nenhum, porque o óleo poderia ser insuficiente para nós e para vós. É melhor irdes comprar aos vendedores” (Mt 25, 9). Enquanto saem em busca do óleo, o noivo chega.

As que possuíam azeite reservado ingressam, após o noivo, à festa de casamento. As outras chegam mais tarde, mas as portas não lhes são abertas…

“Em verdade vos digo, não vos conheço” é a única resposta que recebem as virgens imprudentes.

Mentalidades distintas, atitudes opostas, fim diverso.

O Divino Mestre traça um paralelo entre esta parábola e o Reino dos Céus, e conclui: “Vigiai, porque não sabeis nem o dia nem a hora.” (Mt 25, 13)

Não sabeis nem o dia nem a hora

Dentre as diversas aplicações que podemos recolher deste Evangelho, uma parece bem apropriada aos nossos dias.

Não são contemplados, na perspectiva dessa parábola, os homens endurecidos no pecado e na devassidão, mas somente duas categorias de almas: as santas e as tíbias.

A este respeito, Hilário de Poitiers comenta: “as virgens prudentes são as almas que, utilizando o tempo de que dispõem para realizar obras boas, preparam-se para ir ao encontro do Senhor. As néscias, pelo contrário, são as almas relaxadas e preguiçosas que só se preocupam pelas coisas presentes.”[1]

As virgens sábias não se contentam com uma quantidade de combustível suficiente para algumas horas, elas têm azeite de sobra, e é isso que lhes garante a entrada no banquete: são as almas que buscam a verdadeira santidade de vida e não se contentam com o grau de virtude que já possuem, pois sempre desejam galgar maiores alturas na entrega a Deus.

As loucas, pelo contrário, não têm os olhos postos no futuro, mas somente no incômodo de levar uma vasilha a mais. “Esta – comenta certo autor – é bem a imagem dos que têm a alma tíbia, dos medíocres, cuja intenção se prende às coisas materiais, concretas, humanas. Gostam do meio-termo, andam contentes consigo mesmos, consideram qualquer avanço na virtude um exagero. Justificam suas faltas com o fato de serem concebidos no pecado original, e se esquecem de que o Divino Redentor obteve graça necessária para nossa santificação. Criam, com isso, a ilusão de que o seu escasso esforço já é bastante para entrar no Céu. Ora, com meias medidas não se alcança a bem-aventurança”.[2]

As lâmpadas bem podem simbolizar a alma humana que deve brilhar pela Graça e pelas virtudes, que por sua vez são o “azeite”. Todos esperamos o noivo, ou ao menos temos consciência de que ele virá, mas não sabemos quando – é figura de nosso encontro com o Supremo Juiz na incerta hora da morte.

Da morte má e eterna, livrai-nos Senhor!

Havia um costume antigo, adotado por certas ordens religiosas, em que os monges mantinham crânios – reais – nos próprios aposentos, a fim de que cada um meditasse sobre a brevidade da vida humana.

Sem embargo, o ritmo de vida de nossa sociedade não nos proporciona condições de meditação sobre a morte, de preparação para este momento derradeiro. Prosperidade, pseudo-alegria e despreocupação são máximas hodiernas que acabam por sufocar, erroneamente, a perspectiva de nosso encontro com Deus; e, por isso, tocamos a vida adiante sem pensar muito naquela figura encapuzada, de foice na mão.

Não nos iludamos, essa senhora indesejável virá a nós quando menos esperarmos, e, como assegura o velho adágio, “Talis vita, finis ita” – como foi a vida, assim será a morte. Com efeito, ninguém poderá nos emprestar, à meia-noite de nossa vida, azeite de virtude para adentrarmos no Céu.

Os medíocres frequentemente caminham em direção ao pecado mortal, causa de condenação. Aqueles que estiverem com as lâmpadas apagadas à chegada do noivo, receberão invariavelmente a severa sentença: “Em verdade vos digo, não vos conheço” (Mt 25, 12).

Por Afonso Costa


[1] HILÁRIO DE POITIERS, Sobre el Evangelio de Mateo. SC 258, 208. In: La Biblia Comentada por los Padres de la Iglesia y otros autores de la época patrística. MERINO RODRÍGUEZ, Marcelo (Diretor da obra em espanhol). Madrid: Ciudad Nueva. 2006. v. Ib. p. 266. Tradução nossa.

 [2] CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O Inédito sobre os Evangelhos. Città del Vaticano: L.E.V./São Paulo: Lumen Sapientiae. 2013. v. II. p. 442-443.

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