Os muçulmanos estão crescendo no Brasil a partir do rebanho evangélico. A constatação foi feita pela antropóloga Amanda Dias, que concedeu uma entrevista à sucursal brasileira da emissora francesa RFI e comentou detalhes das descobertas que fez em sua pesquisa sobre as características da comunidade muçulmana no Rio de Janeiro.
De acordo com Amanda Dias, uma das características dos brasileiros que se converteram ao islamismo é já ter feito parte de uma comunidade evangélica. E isso, em sua visão, se deve muito ao discurso adotado pelos líderes muçulmanos na cidade.
“Eles pregam um islã fundamentalista. No sentido de que ele vai no fundamento da religião. Então, ele não depende de uma tradição específica, e é acessível a um público maior […] Eles se baseiam no Corão, e nos hadith, que são os exemplos de vida do profeta [Maomé]”, afirmou a antropóloga.
Questionada pela jornalista Maria Emília Alencar sobre a origem desses novos muçulmanos, a pesquisadora confirmou que eles são oriundos de igrejas evangélicas e abandonaram a fé cristã depois de serem apresentados aos ensinamentos de Maomé.
“Isso foi o que eu encontrei durante a minha pesquisa demográfica, no trabalho de campo, e é diferente do que outros pesquisadores encontraram no passado. Então, eu acho que é [algo] recente, e que existe sim um trânsito sim [de fiéis] dessas comunidades evangélicas para o islã”, afirmou.
Parte do crescimento do islamismo no Brasil, e em particular no Rio de Janeiro (campo pesquisado pela antropóloga), se deve ao discurso adotado na abordagem das pessoas: “Esse trabalho que eles fizeram, de difusão do islã, é um trabalho de acolhimento das pessoas que chegam. Na mesquita, ela tem um ‘kit do revertido’, que vai ensinar fazer as orações, tem aulas de árabe para os brasileiros, os sermões vão ser feitos também em português, não apenas em árabe. Existe um acolhimento”, contou.
Grande parte dos que se convertem ao islamismo passam a conhecer a religião através de pesquisas: “As pessoas chegam à mesquita muito pelos seus próprios esforços. Elas vão procurar na internet […] descobrir o islã de outras maneiras”, acrescentou.
Esse dado pode revelar que a propaganda feita pelo Estado Islâmico – e outros grupos extremistas muçulmanos – surte efeito, atraindo pessoas para conhecerem a religião, fundada aproximadamente 600 anos depois da morte de Jesus Cristo.
Segundo Amanda Dias, os evangélicos que se convertem muçulmanos são atraídos pela ideia de que a religião islâmica funciona como algo paralelo ao cristianismo: “Existe uma certa continuidade [de valores morais], entre a igreja evangélica e o islã, no sentido de que os evangélicos já pedem um certo pudor na maneira de se vestir, etc, e o islã, no Brasil, ele vai insistir nessa continuidade. O primeiro livro que eles ganham ao chegar em uma mesquita é ‘Jesus, um profeta do islã’. Existe uma certa continuidade doutrinária, também”.
Atualmente, segundo a pesquisadora, estima-se que existam, “mais ou menos, mil muçulmanos ligados à Sociedade [Beneficente Muçulmana] no Rio de Janeiro”. Assista: