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No Batismo, Ele lavou nossas misérias

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O profundo significado do Batismo de Nosso Senhor nas águas do rio Jordão manifesta a meticulosidade do seu amor por nós.

Batismo de Cristo - Igreja de Notre Dame, Vitré (França). Foto: Francisco Lecaros

Batismo de Cristo – Igreja de Notre Dame, Vitré (França). Foto: Francisco Lecaros

Redação (12/01/2025 14:38, Gaudium Press) Nos primeiros tempos do Cristianismo, até o século IV, a Igreja contemplava três manifestações da divindade de Nosso Senhor, unidas na Solenidade da Epifania: a adoração dos Reis Magos, o Batismo no Jordão e a conversão da água em vinho nas Bodas de Caná, seu primeiro milagre público. Era essa solenidade considerada a revelação de Jesus à gentilidade, enquanto o Natal era tido como uma festa mais apropriada aos judeus. Se estes últimos aguardavam a vinda de um Messias Homem e assim O receberam no presépio de Belém, os gentios — tal como nos mostra a adoração dos Magos — estavam à espera de um Deus Salvador. Esta mesma divindade que se revelara aos Reis do Oriente tornar-se-á muito mais notória no episódio do Batismo de Cristo, como também o seria, por um pedido de Nossa Senhora, em Caná.

A comemoração dos três fatos em uma só ocasião era muito solene, e até aos dias atuais conservamos na Liturgia alguns resquícios destas grandes celebrações. Tal é a Festa do Batismo do Senhor, que hoje recordamos no Evangelho escolhido para encerrar o Tempo de Natal. Esse acontecimento está intimamente ligado à pessoa do Precursor, São João Batista, pois fora ele chamado a preparar as almas para a vinda do Messias, o qual, ao receber o Batismo, iniciava sua vida pública.

Um rito ligado a uma missão

“Por isso, João declarou a todos: ‘Eu vos batizo com água, mas virá aquele que é mais forte do que eu. Eu não sou digno de desamarrar a correia de suas sandálias. Ele vos batizará no Espírito Santo e no fogo’” (Lc 3,16).

Querendo orientar as almas para o Salvador, João logo anunciou o verdadeiro sentido do seu batismo e a dádiva incomparavelmente maior que haveria de trazer o Sacramento a ser instituído por Jesus, algum tempo depois. De fato, pregava ele um batismo que, segundo São Tomás, era um meio caminho entre o que era realizado pelos judeus e o Batismo sacramental.[1] Apesar de não haver na Sagrada Escritura nenhum mandato explícito a respeito do batismo de penitência, pois deveria durar pouco tempo, este rito provinha de Deus, que o recomendara a João em uma revelação privada (cf. Jo 1,33).

Batismo sobrenatural com efeito psicológico

João pregava a penitência a par de seu batismo, a fim de incitar os homens à virtude. No entanto, esse batismo, de si, não possuía a capacidade de purificar, presente no Sacramento do Batismo;[2] não imprimia caráter, não perdoava os pecados nem conferia a graça, pois, embora inspirado por Deus, era simbólico e seu efeito procedia do homem. Por isso, todos aqueles que foram batizados por São João tiveram de ser batizados de novo pelos Apóstolos (cf. At 19,3-6).

Era um batismo que agia à maneira dos sacramentais,[3] pois aqueles que entravam no rio e eram nele submersos sentiam misticamente dentro de si seu duplo efeito: uma ação sobrenatural que os encorajava ao arrependimento dos próprios pecados, e outra, psicológica, que lhes preparava a mentalidade para a futura aceitação do Batismo.

Jesus lavou nas águas os nossos pecados

Cristo não precisava ser batizado, pois fora Ele quem, inspirando a São João, instituíra este rito, mas “o batismo tinha necessidade do poder de Jesus”.[4] Sendo Deus, Ele podia limpar a Terra por um simples ato de sua vontade; contudo, preferiu Ele mesmo, o Inocente, livre de qualquer nódoa, assumir uma carne “semelhante à do pecado” (Rm 8,3). Quis ser batizado, então, não “para ser purificado, mas para purificar”,[5] submergindo consigo, na água batismal, todo o velho Adão.[6]

Por fim, com seu Batismo, quis abrir-nos um caminho e estimular-nos a compreender a importância deste Sacramento.[7]

Saibamos ser gratos a Deus!

A Festa do Batismo do Senhor deve inundar-nos de esperança e de santa alegria, por nos mostrar a força regeneradora do perdão e da misericórdia divina, na qual devemos confiar em qualquer circunstância de nossa vida. Por pior que possa vir a ser nossa situação, se soubermos ter fé e nos mantivermos íntegros no cumprimento dos santos Mandamentos, nunca deixará de haver uma solução, pois “para Deus nada é impossível!” (Lc 1,37). Sejamos gratos a Nosso Senhor por tudo quanto Ele realizou por nós.

Com o Batismo Jesus dá início à sua vida pública, assim como com esta celebração a Liturgia marca a entrada no Tempo Comum, o qual considerará toda a missão do Divino Mestre, acompanhando-O em suas pregações e manifestações durante as diversas leituras litúrgicas do ano. Tendo contemplado as maravilhas deste trecho do Evangelho, peçamos a Nosso Senhor graças em profusão, capazes de nos fazer cruzar — no fim de nossa peregrinação terrena — as portas do Céu que Ele nos franqueou neste dia magnífico.

Extraído, com adaptações, de: CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2012, v. 5, p. 163-175.


[1] Cf. TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. III, q. 38, a. 1, ad 1.

[2] Cf. Idem, a. 3.

[3] Cf. Idem, a. 1, ad 1.

[4] SÃO JOÃO CRISÓSTOMO. Homilía XVII, n. 2. In: Homilías sobre el Evangelio de San Juan (1-29). 2. ed. Madrid: Ciudad Nueva, 1991, v. I, p. 218.

[5] SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q. 39, a. 1, ad 1.

[6] Cf. SÃO GREGÓRIO NAZIANZENO. Homilía XXXIX, n. 17. In: Homilías sobre la Natividad. 2. ed. Madrid: Ciudad Nueva, 1992, p. 86.

[7] Cf. SÃO TOMÁS DE AQUINO, op. cit., q. 39, a. 1.

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