InícioCatecismoEspiritualidadeO bispo preso durante 13 anos que ensinava hinos católicos aos comunistas

O bispo preso durante 13 anos que ensinava hinos católicos aos comunistas

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O regime não conseguia fazê-lo parar de converter os carcereiros…

O cardeal vietnamita François-Xavier Nguyên Van Thuan, declarado venerável Servo de Deus pela Igreja católica, passou 13 anos preso durante o regime comunista e ateu que se impôs ao seu país. Ele já era arcebispo no Vietnã quando o governo o encarcerou, em 1975. Só foi sair das celas em 21 de novembro de 1988. Seu crime? Ser arcebispo católico, naturalmente.

Como grande apóstolo que era, Van Thuan aproveitou esses longos anos de sacrifício e provação para converter boa parte dos carcereiros. Aliás, o comando das prisões tentava trocar constantemente os seus guardas justamente porque ele os convertia… Acabaram se conformando e mantendo os mesmos carcereiros, porque, se mandassem novos, ele os converteria também!

Entre as suas obras escritas, a mais conhecida é o extraordinário relato “Cinco pães e dois peixes – Do sofrimento do cárcere, um alegre testemunho da fé“, em que ele conta algumas das impactantes experiências vividas no tempo de prisão.

Vem desse livro, que é altamente recomendado a todos os nossos leitores, a seguinte passagem:

Numa noite em que estou doente, na prisão de Phú Khánh, vejo passar um guarda e grito: “Por caridade, estou muito doente, dê-me um pouco de remédio!“.

Ele me responde: “Aqui não há caridade nem amor, apenas responsabilidade“.

Essa é a atmosfera que respiramos na prisão.

Quando me colocaram no isolamento, fui confiado a um grupo de cinco guardas: dois deles estão sempre comigo. Os chefes os trocam de duas em duas semanas com os de outro grupo, para que não sejam “contaminados” por mim. Depois, decidiram não mudar mais, pois, de outra forma, todos ficariam contaminados!

No início, os guardas não falavam comigo. Respondiam apenas “yes” e “no“. É muito triste; quero ser gentil, cortês com eles, mas é impossível, evitam falar comigo. Não tenho nada para lhes dar de presente: sou prisioneiro, todas as roupas são marcadas com grandes letras “cai-tao“, isto é, “campo de reeducação”. Que posso fazer?

Uma noite, vem-me um pensamento: “Francisco, tu és ainda muito rico. Tens o amor de Cristo no teu coração. Ama-os como Jesus te ama“.

No dia seguinte, comecei a amá-los, a amar Jesus neles, sorrindo, trocando palavras gentis. Começo a contar histórias das minhas viagens ao exterior, como vivem os povos na América, Canadá, Japão, Filipinas, Singapura, França, Alemanha… a economia, a liberdade, a tecnologia. Isso estimulou a curiosidade dos guardas e os excitou a me perguntarem muitas outras coisas. Pouco a pouco, tornamo-nos amigos. Querem aprender línguas estrangeiras: francês, inglês… Os meus guardas se tornam meus alunos! A atmosfera da prisão mudou muito.

Até com os chefes da polícia. Quando viram a sinceridade do meu relacionamento com os guardas, não só pediram para continuar a ajudá-los no estudo de línguas estrangeiras como ainda me mandaram novos estudantes.

Um dia, um cabo me perguntou:

– O que o senhor pensa do jornal ‘O Católico’?

– Este jornal não fez bem nem aos católicos nem ao governo. Só alargou o fosso da separação.

– Porque se expressa mal; usam mal os vocábulos religiosos e falam de maneira ofensiva. Como remediar essa situação?

– Primeiro, é preciso entender exatamente o que significa tal palavra, tal terminologia religiosa…

– Pode nos ajudar?

– Sim. Proponho escrever um vocabulário de linguagem religiosa, de A a Z. Quando tiverem um tempo livre, eu o explicarei a vocês. Espero que, assim, possam compreender melhor a estrutura, a história, o desenvolvimento da Igreja, as suas atividades…

Deram-me papel e escrevi esse vocabulário de 1500 palavras, em francês, inglês, italiano, latim, espanhol, chinês, com explicações em vietnamita. Assim, pouco a pouco, com a explicação – as minhas respostas às perguntas sobre a Igreja – e aceitando também as críticas, esse documento se torna uma “catequese prática”. Há muita curiosidade sobre o que é um abade, um patriarca; qual é a diferença entre ortodoxos, católicos, anglicanos, luteranos; de onde provêm os recursos financeiros da Santa Sé…

Este diálogo sistemático, de A a Z, ajuda a corrigir muitas confusões, muitas ideias preconceituosas; torna-se a cada dia mais interessante, até mesmo fascinante.

Naquela época, ouvi que um grupo de vinte jovens da polícia estudava latim com um ex-catequista, para estar em condições de entender os documentos eclesiásticos. Um dos meus guardas pertence a esse grupo. Um dia, perguntou-me se podia ensinar a ele um cântico em latim.

– São tantos e tão belos, respondi-lhes.

– Você canta e eu escolho, propôs.

Cantei a Salve Regina, o Veni Creator, a Ave Maris Stella… Sabem que canto ele escolheu? O Veni Creator.

Não posso dizer o quanto é comovente escutar todas as manhãs um guarda comunista, por volta das sete horas, descendo pela escada de madeira para fazer ginástica e depois lavar-se e cantando o Veni Creator dentro da prisão.
Ele se refere ao Veni Creator Spiritus, o mais célebre dos hinos católicos dedicados ao Espírito Santo.

Véni, Creátor Spíritus,
mentes tuórum visita,
imple supérna grátia,
quae tu creásti péctora.

Qui díceris Paráclitus,
altíssimi donum Dei,
fons vivus, ignis, cáritas,
et spiritális únctio.

Tu septifórmis múnere,
dígitus paternae déxterae,
tu rite promíssum Patris,
sermóne ditans gúttura.

Accénde lumen sénsibus;
infunde amórem córdibus,
infírma nostri córporis
virtúte firmans pérpeti.

Hostem repéllas lóngius,
pacémque dones prótinus;
ductóre sic te praevio
vitemus omne noxium.

Per te sciámus da Patrem,
noscamus atque Filium;
teque utriúsque Spíritum
credamus omni témpore.

Deo Patri sit glória,
et Fillio, qui a mórtuis
surréxit, ac Paráclito,
in saeculórum saecula. Amem.

V/ Emítte Spíritum tuum, et creabúntur.
R/ Et renovábis fáciem terrae.

Deus qui corda fidélium Sancti Spíritus illustratióne docuísti: da nobis in eódem Spíritu recta sápere; et de eius semper consolatióne gaudére. Per Christum dominum nostrum. Amém.

 

Fonte Aleteia

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