Após o pecado original, facilmente o homem deixa-se levar pelos ímpetos da carne e da concupiscência. É preciso, pois, sermos vigilantes e confiarmos no auxílio da Graça.
Redação (01/09/2024 19:18, Gaudium Press) O livro do Gênesis descreve que, após o pecado de nossos primeiros pais, Adão e Eva, constituiu-se um estado de completa inimizade entre a raça da serpente, isto é, de Satanás, e a estirpe de Maria Santíssima: “Porei inimizades entre ti e a mulher e entre a tua posteridade e a posteridade dela. Ela te pisará a cabeça, e tu armarás traições ao seu calcanhar” (Gn 3,15). A partir deste momento, a vida do homem passou a ser uma luta nesta terra. Sendo assim, o homem tem de optar entre dois caminhos: o de Deus ou do demônio. Não há uma terceira escolha ou um meio termo. Ora, como se trava esta luta? Qual é a arma que recebemos? Vejamos o que a liturgia deste 22º Domingo do Tempo Comum tem a nos ensinar.
Confiantes no auxílio da Graça
A primeira leitura, extraída do livro do Deuteronômio, relata as palavras de Moisés dirigidas ao povo de Israel nestes termos:
“Nada acrescenteis, nada tireis à palavra que vos digo, mas guardai os mandamentos do Senhor vosso Deus que vos prescrevo” (Dt 4,2).
Deus imprimiu em tábuas de pedra os mandamentos que Ele já havia posto no coração do homem quando o criou, mas aos poucos foram sendo rejeitados e esquecidos pela desordem do pecado nele introduzido com a mancha original. Aqueles que seguem estas leis e decretos obtêm a felicidade e alcançam do Pai Celestial a posse da vida eterna. Entretanto, sem um auxílio especial de Deus, é impossível ao homem afastar de sua carne inclinada ao pecado as más paixões, e abraçar a virtude. Este auxílio, este “dom precioso” chama-se Graça, que “desce do Pai das luzes” (Tg 1,17), como narra a segunda leitura recolhida da carta de São Tiago.
Recebemos este valioso dom por uma misericórdia infinita de Deus, pois não há nada que nos faça merecer tal dádiva. Entretanto, é necessário que correspondamos aos auxílios divinos, reconhecendo nossa inteira contingência, pondo-nos humildemente diante de Deus com amor e fervor. Do contrário, seremos levados pelos ímpetos carnais e por leis humanas que nos conduzem ao vício.
Neste sentido, o Evangelho de São Marcos demonstra que os fariseus e mestres da lei deram maior valor às coisas humanas e passageiras do que ao auxílio de Deus e à sua Graça, pois queriam se justificar diante dos homens, cumprindo leis e prescrições terrenas, com o intuito de esconderem a via pecaminosa que trilhavam. Por isso, Jesus irá afirmar:
“É de dentro do coração humano que saem as más intenções, imoralidades, roubos, assassínios, adultérios, ambições, desmedidas, maldades, fraudes, devassidão, inveja, calúnia, orgulho, falta de juízo” (Mc 7,21-23)
Em uma palavra: eles se habituaram ao pecado mortal. Não há maior desgraça do que uma alma que se habitou a viver em um estado de inimizade com o próprio Deus. O renomado teólogo, Pe. Royo Marín, afirma que “o pecado mortal é o inferno em potência. É, pois, como um desabamento instantâneo de nossa vida sobrenatural, um verdadeiro suicídio da alma para a vida da Graça”.[1]
Cumpre, portanto, sermos íntegros e retos, vigilantes contra as insídias do demônio, e confiantes no auxílio da Graça de Deus, que nunca falha. Saibamos também recorrer ao Sacramento da Confissão, onde Deus nos espera de braços abertos, pronto a nos perdoar.
Por Guilherme Motta
[1] ROYO MARÍN, OP, Antonio. Teología de la perfección cristiana. Madrid: BAC, 2006, p.286.
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