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Orientação sobre o Matrimônio: Deus quis ter um pai e uma mãe

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Poucos assuntos são tão controversos em nossos dias quanto o tema do casamento. O que a Igreja ensina verdadeiramente sobre isso?

Redação (30/10/2020 09:37, Gaudium Press) Um dos princípios básicos de orientação espacial é guiar-se pelo que está no alto. Exemplifico.

Antes do GPS, os navegadores traçavam suas rotas pelas estrelas; a luz dos faróis brilha na ponta de torres; para alguém perdido numa floresta, a recomendação é subir na árvore cuja copa se sobressaia entre as demais; no cume das montanhas, contemplamos o horizonte descortinado, sem nuvens; o Norte é sempre encontrado em função do Sol.

Assim também os problemas complicados nesta vida: eles se desfazem, quando buscamos soluções do alto e do Céu.

Entretanto, isso nem sempre é fácil, pois nuvens ou fumaças podem esconder as estrelas; do mesmo modo os homens maldosos podem acender luzes enganosas. Acontece amiúde que os guias, traindo sua missão, passam a conduzir não mais ao porto seguro, e sim, à profundeza dos mares. Indicam caminhos incertos e falsos.

Os problemas humanos, então, além de complicados, passam a ser confusos. E nestes casos, confusão é sinônimo de desorientação.

Por fim, nesta confusão, nesta desorientação, nesta nebulosidade, encontramos o problema do Matrimônio. Como navegar nestas águas, quando por todos os lados se erguem falsas luzes? Olhemos para o alto e orientemo-nos pelo sol da Verdade.

O que a Igreja ensina sobre o Matrimônio?

Nosso Senhor Jesus Cristo é o Sol segundo o qual todos os ponteiros da Igreja devem se alinhar. Sua palavra é perene como uma montanha, imutável e inabalável. O que Ele ensinou sobre essa matéria?

Já no início da sua vida terrena, Jesus quis elevar a dignidade do Matrimônio, dando-lhe a devida importância: começou seus atos públicos em Caná, durante uma festa de casamento (Jo 2,1-12). Na célebre disputa com os fariseus (Mt 19,1-9), Nosso Senhor instruiu que o Matrimônio é um vínculo indissolúvel, realizado entre um homem e uma mulher, conforme o Criador dispôs no princípio. Ele faz referência ao Gênesis, quando Deus disse que o homem e a mulher seriam “uma só carne” (Gn 2,24).

O primeiro livro da Bíblia descreve ainda que Deus ordenou aos nossos pais: “Crescei e multiplicai-vos” (Gn 1,28). Conta-nos o relato sagrado que o Criador fizera a mulher para que o homem não ficasse só, por isso deu-lhe uma “auxiliar, igual a si” (Gn 1,18).

Ora, nesses rápidos traços exegéticos, temos as características do Matrimônio, como Deus o fez: monogâmico e indissolúvel. Sua finalidade é a procriação – com a educação dos filhos – e o auxílio mútuo entre os esposos.

Qualquer tipo de união que contrarie esses princípios, não é, segundo a Igreja, Matrimônio.

Por exemplo, é uma lei da natureza que a união ocorre com vistas à prole, segundo comprovamos entre todos os animais, os quais se unem para gerar outros seres iguais a si. Portanto, está na ordem comum das coisas que o Matrimônio deve ser fecundo. Assim, o casamento que – de si – não gera prole, fere a ordem natural das coisas e não pode ser Matrimônio real.[1]

Mas tudo isso não é senão o sopé da grande montanha do Matrimônio. A base é solidíssima, pois é composta com aquilo que Jesus fez e ensinou. Entretanto, é possível subir mais alto neste pico e orientar-se melhor.

Qual o significado do Matrimônio?

Quando desejamos saber o verdadeiro significado de algo, se temos Fé, devemos primeiro procurar entender como Deus vê este “algo”.

Como Deus vê o Matrimônio?

A resposta nos é dada por São Paulo na sua carta aos Efésios. O apóstolo, depois de explicar como devem ser as relações sociais entre os cristãos, trata sobre os vínculos entre os esposos. Segundo ele, o exemplo de relacionamento para o homem e a mulher é a união que existe entre Cristo e a Igreja. E conclui, dizendo: “Esse mistério é grande” (Ef 5,32).

Ora, já no Antigo Testamento, Deus falava aos profetas, utilizando-se da figura do casamento para ilustrar como era o relacionamento entre o Criador e a nação escolhida. É por isso que, em inúmeros trechos das Escrituras, Deus recrimina a raça eleita como se fosse sua esposa, chamando-a de adúltera e infiel.

O novo povo de Deus, porém, a Igreja, é a mulher fiel e perfeita que nunca abandona seu Divino Esposo.

A figura das relações matrimoniais entre Deus e a humanidade é ainda utilizada no Cântico dos cânticos, livro sagrado que inspirou os grandes contemplativos a, em arroubos de amor, realizarem um Matrimônio místico com Nosso Senhor, como Santa Teresa e Santa Catarina de Sena. Aliás, as religiosas antigamente ingressavam no convento em trajes de noiva, pois se casavam com Jesus Cristo; e os cristãos chamavam de “adúlteras de Deus” as virgens dos primeiros séculos que faltavam com a promessa da continência. Também não faltaram varões santos na História que desposaram misticamente Nossa Senhora.

Por isso, dado que o Matrimônio entre o homem e a mulher são imagem das relações entre a humanidade e Deus, essa união deve ser santa, imaculada, perfeita.

O amor, fundamento do Matrimônio

O princípio do matrimônio é o amor mútuo. Contudo, essa relação recíproca merece uma observação.

Infelizmente, a palavra amor perdeu muito do seu sentido real. Ou, por outra, recebeu sentidos equívocos, de modo especial em nosso século. O amor de nosso tempo pode ser sentimental ou erótico, interesseiro ou egoísta, e, raras vezes, autêntico. A tudo isso nomeamos amor, e, assim, esse afeto tão nobre passou a ser fugaz e superficial – quando não pecaminoso e monstruoso –, que um vento leva ou que, em um segundo, se desfaz.

O povo grego tinha uma palavra diferente para expressar cada uma dessas múltiplas formas de sentimento. Não entraremos aqui em meandros semânticos ou etimológicos, mas basta recordar que, no E vangelho Jesus fala de um amor ao próximo em função do amor a Deus. Este amor, sim, é perene, profundo, real. E é ele que fundamenta verdadeiramente o Matrimônio:

“O amor, laço que une o Criador à criatura humana, é a base deste admirável Sacramento [o Matrimônio], que representa a união de Cristo com a Igreja, por meio da Encarnação, e a de Deus com a alma, por meio da Graça”.[2]

A solução para o Matrimônio é, pois, falar dessas verdades ao mundo. Esta união entre o homem e a mulher é tão sagrada, que o próprio Deus quis beneficiar-se dela, chamando a Maria de mãe e a José de pai.

Por Paulo da Cruz


[1] Não nos referimos aqui a dificuldades genéticas ou clínicas que um homem ou uma mulher possam ter. Isso é um problema distinto, com matizes próprios. Referimo-nos, isto sim, a uma impossibilidade metafísica, como dois gatos machos não têm capacidade de gerar um terceiro.

[2] MONSABRÉ, Jacques-Marie-Louis. O Matrimônio. Rio de Janeiro: Editora Loreto, 2014, p. 9. (O livro é composto de excertos de conferências do dominicano em Notre-Dame).

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