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Para que serve um mosteiro de clausura?

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Santa Teresa e sua pequena comunidade fundada há mais de 450 anos convidam-nos a sentir com a Igreja e a nos comprometermos com ela, dedicando-nos sem descanso às tarefas apostólicas.

Redação (12/08/2022 11:20, Gaudium Press) Para que serve um convento de clausura em Ávila? Muitos dos que se aproximam do locutório do Convento de São José, ou de outro convento de clausura, fazem este comentário superficial:

“Não seria melhor que estas mulheres servissem os pobres em bairros humildes ou nas missões? Não fariam muito mais curando os enfermos e anciãos? O que fazem aqui dentro, se há tanto para fazer fora, no mundo? Esta vida fechada faz sentido hoje? Podem ser felizes entre as grades, sem nunca sair?”.

Certamente elas podem ser felizes, até muito felizes, segundo o que diz a própria Santa Teresa: “Só mesmo quem passa por isso pode compreender o prazer que temos nessas fundações quando por fim podemos nos enclausurar; não se vive verdadeiramente senão estando outra vez ali”. […]

Testemunho que leva a nos apaixonarmos por nossa vocação

Ao longo de 450 anos, nossa diocese vem se beneficiando com as graças que lhe são concedidas através deste convento. Santa Teresa, ao fundá-lo em estrita clausura, criou um modelo ideal na Igreja para que as pessoas chamadas por Deus ao Carmelo Descalço possam viver uma história apaixonante de silêncio, de oração e de intenso amor a Deus. Certamente o Convento de São José é necessário, como são necessários todos os conventos contemplativos.

O Convento de São José depois de todo esse tempo nos recorda do interior de seus muros, através da vida escondida de suas monjas, o fim para o qual Santa Teresa o fundou: manter a fidelidade à nossa vocação, cada um à que foi chamado por Deus, em todos os tempos, mas de maneira especial em nossa atualidade intensamente secularizada; viver a autêntica missão da Igreja através da oração e do sacrifício de suas vidas.

Para os Carmelitas Descalços dos ramos masculino e feminino, para os sacerdotes, para as pessoas de vida consagrada, o modo de vida inaugurado por Santa Teresa nos leva a nos apaixonarmos por nossa vocação. Seu testemunho silencioso, sua profundidade espiritual, sua santidade de vida nos conduzem à convicção do valor deste caminho de eleição para o seguimento de Cristo, buscando uma maior perfeição como ela viveu nesta casa: “Tendo Deus tantos inimigos e tão poucos amigos, todo o meu desejo era, e ainda é, que estes fossem bons. Decidi-me então a fazer o pouco que podia: seguir os conselhos evangélicos com toda a perfeição”. […]

A oração não é algo destinado a uns poucos

A vida cristã é uma vocação à oração. O ideal da vida consagrada e da vida cristã, que aparece no Caminho de Perfeição e se concretizou na fundação do Convento São José, é a oração.

A oração não é algo destinado a uns poucos privilegiados, mas a todos quantos queremos ser amigos de Deus. Teresa, ao escrever Caminho, no Convento de São José, torna-se a primeira Mestra de oração entre as carmelitas. Uma necessidade do homem atual é a interioridade, recolhermo-nos no centro da alma e encontrarmo-nos conosco mesmos para não nos deixarmos arrastar por qualquer vento de ideologia ou de interesse. Mas um caminho seguro para encontrarmos a nós mesmos é encontrarmo-nos com Deus. […]

Urge escutar a voz interpelante de Santa Teresa

A fundação de São José nos recorda a necessidade de ser apóstolos num mundo em crise. As Carmelitas Descalças de São José são apóstolos no silêncio de sua cela, de seu claustro.

Os tristes acontecimentos da Igreja do tempo de Santa Teresa, aqueles tempos difíceis, as diversas correntes de espiritualidade nem sempre ortodoxas: os cristãos novos, os iluminados, visionários e profetas, a divisão dos cristãos, tudo isso fez com que ela respondesse com grande eficácia e trabalhasse para devolver à Igreja santa seu belo rosto. […]

Teresa manteve-se sempre na absoluta fidelidade e amor à Igreja, pela qual sofre e dentro da qual aponta seu caminho de santidade e perfeição. Teve consciência da necessidade de abrir-se à expansão missionária da Igreja.

Aqui, no novo convento, iniciou-se este apostolado original de Santa Teresa com suas poucas monjas para servir a Igreja. Hoje, imersos num mundo em crise econômica e de valores espirituais e morais, Santa Teresa nos recorda que o momento histórico do século XVI não foi menos convulsionado que o nosso, e que ela foi muito decidida na adversidade.

Nas atuais circunstâncias, envoltos numa cultura oposta aos princípios evangélicos, nestes tempos igualmente adversos em que, na expressão de Santa Teresa, querem lançar a Igreja no chão, parece necessário o espírito apostólico; urge escutar a sua voz interpelante:

“Oh, irmãs minhas em Cristo! Ajudai-me a suplicar isso ao Senhor, pois foi com esse fim que Ele vos reuniu aqui! Essa é a vossa vocação; esses devem ser os vossos cuidados e os vossos desejos; empregai aqui as vossas lágrimas e para isso dirigi vossos pedidos. […] O mundo está sendo tomado pelo fogo; querem voltar a condenar a Cristo, como se diz, pois levantam mil falsos testemunhos contra Ele, pretendendo derrubar a sua Igreja. […] Não, minhas irmãs, não é hora de tratar com Deus de coisas pouco importantes”.

A Igreja precisa de nós como apóstolos

Queira Santa Teresa contagiar-nos com seu ardor: não é tempo de nos distrairmos com assuntos banais. Conforme o magistério do Concílio Vaticano II, todo cristão é chamado a ser apóstolo: “o católico que não faz apostolado na medida de suas possibilidades deve considerar-se inútil para a Igreja e para si mesmo”.

A Igreja precisa de nós como apóstolos em nossa paróquia, nos movimentos apostólicos e em nossa família, no trabalho, com nossas amizades. Sentimos frequentemente a tentação de viver o cristianismo à margem da Igreja: Cristo sim, a Igreja não.

Ora, a mensagem de Santa Teresa é clara: “Considero quão grande é tudo o que a Igreja ordena”. Conclama-nos a viver dentro dela e a servi-la por meio da Reforma, até nela morrer: “Bendito seja Deus, pois sou filha da Igreja. Sou filha da Igreja!”.

Isto nos recorda que não podemos viver o Evangelho conforme os nossos critérios, mas segundo a fé da Igreja: “Crede firmemente no que crê a Santa Mãe Igreja, e estai seguros de irdes por bom caminho”.

Santa Teresa e sua pequena comunidade fundada há mais de 450 anos convidam-nos a sentir com a Igreja e a nos comprometermos com ela, dedicando-nos sem descanso às tarefas apostólicas. “Felizes aqueles que servirem a Igreja em tão grande necessidade como a que ela tem agora, e assim terminarem suas vidas!”.[1]

Dom Jesús García Burillo

Texto extraído da Revista Arautos do Evangelho n. 128, agosto 21012.


[1] Excertos da Carta Pastoral por ocasião do 450º aniversário da fundação do Convento de São José e da reforma do Carmelo.

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