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Santo Afonso Maria de Ligório: farol de confiança, coragem e perseverança

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No dia 1º de agosto, comemora-se a festa de Santo Afonso Maria de Ligório, Bispo, Confessor e Doutor da Igreja. Fundador da Congregação do Santíssimo Redentor, é o tratadista por excelência da moral católica, e se destacou por sua profunda devoção a Nossa Senhora.

Redação (31/07/2021 17:24, Gaudium Press) No antigo reino de Nápoles do século XVII, o nobre casal Giuseppe de Ligório e Anna Cavalieri destacava-se por sua virtude. Em 27 de setembro de 1696, nasceu o primogênito e que, por haver sido consagrado de modo especial à Santíssima Virgem, recebeu o nome de Afonso Maria.

Vasta formação intelectual

Dotado de inteligência brilhante, Afonso Maria teve em casa uma primorosa educação, sob a tutela de um preceptor e diversos professores, escolhidos com zelo e cuidado.

O pai estabeleceu-lhe um rigoroso programa de estudos, no qual constavam idiomas como o italiano, latim, grego e francês, que haviam de ser-lhe muito úteis no cumprimento da futura missão.

Também estudou literatura, chegando a compor vários cânticos espirituais. E por seu grande pendor para as belas artes iniciou-se no desenho, na pintura e na música, bem como nos arcanos das ciências exatas e naturais.

Antes de completar 14 anos começou a estudar Direito, e aos 16 já havia penetrado de tal modo no intrincado universo das leis napolitanas que lhe foi permitido, por especial concessão, fazer seu exame de doutorado em tão jovem idade.

Radical mudança de vida

Por mais de uma década dedicou-se à prática da advocacia. Sua honestidade e ciência fizeram crescer-lhe a clientela, sendo muito enaltecido por jamais ter perdido uma causa.

Mantinha, entretanto, uma exímia retidão profissional, uma ilibada pureza e uma intensa vida interior. Fazia frequentes visitas ao Santíssimo Sacramento, nutria uma particular devoção a Nossa Senhora e era pródigo em exercícios piedosos como a meditação ou a participação em retiros espirituais.

Em setembro de 1722, recebeu o Sacramento da Confirmação, e, seis meses depois, fez o propósito solene e irrevogável de renunciar ao mundo. Abdicou da primogenitura em favor de seu irmão Hércules e se dispôs a guardar o celibato, contrariando os desejos do pai, que desejava casá-lo com alguma donzela de casa principesca.

O último impulso para sua radical mudança de vida vir-lhe-ia por ocasião do litígio entre o Duque Orsini e o Grão-Duque da Toscana. O caso envolvia grandes interesses. A elevada posição dos litigantes e o prestígio dos advogados tornaram-no notícia em toda Nápoles.

Afonso estudou com cuidado os autos do processo e aparelhou-se bem para o debate. Sem embargo, depois de argumentar brilhantemente em favor de seu cliente, o advogado do Grão-Duque alegou, com esperteza, uma cláusula fundada no antigo direito lombardo e angevino, jogando por terra todo o trabalho realizado.

Perdendo a causa, o ilustre advogado percebeu a fragilidade da justiça humana e o vazio das promessas do mundo. Era a gota d’água que faltava para pôr definitivamente em prática as resoluções tomadas: “Ó mundo, agora te conheço! Tribunais, não me vereis mais!”.

A descoberta da verdadeira vocação

O golpe fê-lo sofrer tremendamente. No entanto, compreendendo estar ali a mão de Deus, passou a levar uma vida dedicada à oração e leituras piedosas.

Estando certo dia no Hospital dos Incuráveis, pouco depois de haver abandonado os tribunais, viu-se circundado de uma luz intensa e misteriosa, e ouviu em seu interior estas palavras: “Deixa o mundo e entrega-te todo a mim”.

Mesmo um tanto atônito, retomou seu percurso como se nada houvesse acontecido. Ao descer as escadas para sair, todavia, repetiu-se o fenômeno. Estupefato, desta vez respondeu: “Senhor, há muito tempo eu resisto à vossa graça: fazei de mim o que vos aprouver”.

Ainda sob o influxo daquela manifestação sobrenatural, dirigiu-se à Igreja da Redenção dos Cativos, dedicada a Nossa Senhora das Mercês, e lançou-se aos pés de Maria, pedindo-Lhe a graça de conhecer e cumprir a vontade de Deus.

Sentiu-se, então, inspirado a abraçar o sacerdócio, e como penhor da promessa feita de seguir essa vocação desembainhou sua espada de gentil-homem, depositando-a aos pés da Virgem.

Sacerdote e missionário

Apesar da forte oposição paterna, em outubro de 1723 Afonso foi admitido no seminário diocesano, onde, sendo já douto em tantas disciplinas, dedicou-se com especial empenho aos estudos da Teologia.

Quando foi ordenado presbítero, em 21 de dezembro de 1726, estabeleceu para si mesmo a obrigação de levar uma vida dedicada à ação missionária e à contemplação, seguindo os passos do Santíssimo Redentor.

Paulatinamente foi adquirindo experiência como confessor. Exigente quanto aos costumes, mas isento de rigorismos e cheio de confiança no misericordioso auxílio divino, agia ele como consolador dos aflitos e médico das almas, animando muitos pecadores a regressarem ao redil do Bom Pastor.

Durante sua ação apostólica, foi percebendo que, se nos grandes centros ou vilas populosas abundavam os sacerdotes, nos arrabaldes e nos campos a pobre gente estava relegada à ignorância religiosa, quando não influenciada pelo veneno jansenista.

Era mister salvar tais almas e para isso iniciou uma intensa atividade apostólica, da qual se beneficiaram os mais humildes operários e até os esmoleres de Nápoles. Nasceram, assim, as Cappelle serotine — Capelas ao entardecer —, instituição que acabou obtendo uma extraordinária expansão.

Uma multidão de fiéis acorria às pregações por ele feitas, pois sua palavra tinha o poder de converter os pecadores mais obstinados, atraindo-os para o caminho da virtude.

Nasce a Congregação do Santíssimo Redentor

Santo Afonso travou amizade com o padre Tomás Falcoia, sacerdote empenhado na fundação de uma instituição religiosa que imitasse de forma perfeita as virtudes do Salvador, segundo uma visão que tivera em Roma.

Esse sacerdote havia restaurado na cidade de Scala um convento de freiras, organizando-o nos moldes deste carisma. Nele entrou uma antiga carmelita napolitana, Maria Celeste Crostarosa, à qual apareceu o Divino Redentor, fazendo-a conhecer o hábito e as regras a serem adotadas pela Congregação nascente, bem como a figura do padre Afonso, dizendo-lhe:

“Eis o homem escolhido para chefe do meu Instituto e superior geral de uma nova congregação de homens que trabalharão para minha glória”.

O padre Falcoia ficara impressionado ao constatar que as regras reveladas à Irmã Maria Celeste eram inteiramente conformes o espírito da instituição que lhe havia sido desvendada.

Tendo sido eleito Bispo de Castellamare, aproveitou ele uma estadia do padre Afonso em Santa Maria dos Montes para convidá-lo a pregar os exercícios espirituais às religiosas de Scala, dando ensejo ao encontro providencial entre as três almas escolhidas por Deus para a fundação da Congregação do Santíssimo Redentor.

Ela nasceria a 9 de novembro de 1732, com a missão de “seguir Jesus Cristo através dos povoados e das aldeias, pregando o Evangelho por meio de missões e aulas de catecismo”.

À testa desta nova milícia de Cristo, o grande Afonso Maria de Ligório começava a época mais fecunda de sua existência.

Arma mais poderosa e permanente que a palavra

Quando já havia passado da segunda metade de sua vida, o padre Afonso adoeceu. Não podendo mais se dedicar às missões, consagrou seu tempo a escrever.

Contando com 25 anos de experiência direta com os problemas de consciência do povo, escreveu sua famosa Teologia Moral, além de a Prática do confessor, o Homo apostolicus e a Selva de matérias predicáveis, dedicadas à formação de seus sacerdotes.

Ensinava que “saber viver, é saber rezar”, pois “quem reza se salva, quem não reza se condena”.

Também foi desta convicção que lhe brotaram as populares Visitas ao Santíssimo Sacramento e as Glórias de Maria, seguindo-se a estas a Preparação para a morte, a Oração, a Prática do amor a Jesus Cristo e uma infinidade de opúsculos que iam servindo de esteio para as missões.

Bispo de Santa Águeda dos Godos

Em 1762, não pôde evitar ser nomeado Bispo de Santa Águeda dos Godos. Com a aprovação do Colégio Cardinalício, o Papa Clemente XIII foi inflexível. Apesar de ter enviado uma carta alegando graves impedimentos para desempenhar os deveres episcopais, entre eles a avançada idade e suas enfermidades, viu-se o santo obrigado a aceitar o cargo.

Durante seus treze anos de episcopado, fazia questão de pregar todos os sábados em honra a Nossa Senhora, na Catedral. Promoveu a santa missão redentorista em todos os povoados e vilas, fazendo ele mesmo o grande sermão, ponto culminante desta.

Fundou um convento de irmãs Redentoristas, vindas de Scala, a fim de serem núcleo firme da vida contemplativa. E empreendeu uma grande reforma no clero e no Seminário Maior, remodelando suas instalações, velando pela escolha dos candidatos e pela qualidade de sua formação. Com isso, todas as paróquias tomaram outra fisionomia.

Modelo de virtude até o fim

Em 1775, estando por completar 80 anos, o Papa aliviou-o do governo da diocese. Dirigiu-se, então, para o convento de Pagani, na Diocese de Nocera, onde passou a levar uma vida de recolhimento na comunidade por ele fundada ali.

É no cadinho, porém, que Deus purifica seus escolhidos. As tentações sofridas nesse convento foram as mais duras de sua longa existência.

Como em um verdadeiro purgatório interior, estas iam desde o assédio do demônio inculcando-lhe escrúpulos, até as mais árduas dúvidas contra a Fé.

Contudo, a mais terrível prova, sem dúvida, foi a perseguição contra ele movida por alguns membros da instituição que fundara, culminando com a divisão da própria Congregação e sua exclusão temporária da mesma, determinada por Roma.

A tudo isso ele reagiu com inteira flexibilidade à vontade de Deus. E a seus filhos espirituais os animava com palavras cheias de confiança: “Tenho por certo que Jesus Cristo vê com bons olhos esta pequena congregação […]; porque em meio de tantas perseguições Ele não cessa de nos proteger”.

Foi uma confiança ilimitada na Mãe do Perpétuo Socorro, à qual tanto amara e servira durante toda sua longa existência, a fonte de sua fortaleza até seus últimos dias.

Quando já não enxergava mais, irmão Romito, seu fiel acompanhante, leu para ele algumas páginas das Glórias de Maria, sem que o santo reconhecesse suas próprias palavras.

E ao saber que livro era aquele, exclamou comovido: “Como é doce, na hora da morte, pensar que se pôde contribuir para implantar nos corações a devoção a Santa Virgem!”

Em outra ocasião, ao não se recordar se já havia recitado o Rosário naquele dia, disse ainda ao Irmão Romito, que procurava dissuadi-lo de recitá-lo: “Ignorais, pois, que desta devoção depende minha salvação?”

Depois de tantos sofrimentos e provações, tendo junto a si um crucifixo e o quadro de Nossa Senhora da Esperança que ele mesmo pintara na juventude, enquanto seus filhos espirituais recitavam as orações dos agonizantes e a ladainha da Santíssima Virgem, o nonagenário Santo Afonso entregou serenamente sua alma a Deus, à hora do Angelus do dia 1º de agosto de 1787.

Modelo de virtude em todas as circunstâncias da vida, segue ele sendo um farol de “constância, coragem e ânimo perseverante”, sobretudo para os que sentem abater sobre si grandes tribulações.

“Imitemos, pois, Santo Afonso na sua perseverança, na sua confiança humilde e profunda, compreendendo que em nossa vida espiritual haveremos de nos deparar com túneis escuros, sem termos de nos atemorizar com eles. Para além dessa escuridão, a Providência nos traça uma via ainda mais luminosa e mais bela que a anterior”.

Texto extraído, com adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 128, agosto 2012.

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