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São Carlos Borromeu: Modelo para o Episcopado

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Num momento crucial em que muitas verdades da Fé eram postas à prova, coube ao Arcebispo de Milão defendê-las dos ataques da heresia e personificar o modelo de santidade para o Episcopado católico.

Redação (02/11/2020 18:35, Gaudium Press) Violentas tormentas se abateram sobre a Igreja no desenrolar do século XVI. O maravilhoso edifício da Cristandade apresentava agora fendas profundas, causadas pela tibieza de seus filhos, e tornou-se alvo de ataques cujo objetivo era demoli-lo.

Já não se tratava de enfrentar inimigos externos, mas sim cristãos empenhados em dividir a túnica inconsútil do Catolicismo. O povo fiel, até então unido num só rebanho sob a égide de um só pastor, ouviu atônito o brado de insubordinação proferido por Lutero contra Roma, em consequência, nações inteiras acabaram por afastar-se do redil da Santa Sé.

Não tardou a que outros personagens como Calvino e Zwinglio seguissem o impetuoso monge de Wittenberg na pregação de doutrinas heréticas, à primeira vista discrepantes entre si. Todas, porém, visavam o mesmo objetivo: “Os inovadores religiosos estavam de acordo apenas quanto à completa opressão e extirpação do culto católico”.

Ora, neste período crucial da História da Igreja, ergueu-se uma plêiade de heróis da Fé, caraterizada por um amor renovado àquilo que os espíritos frívolos da época haviam desprezado: o decoro da Sagrada Liturgia, a frequente e adequada recepção e distribuição dos Sacramentos, a boa formação doutrinária do clero e dos fiéis.

Nascimento acompanhado por sinais do céu

São Carlos Borromeu ocupou um posto de relevo nessa conjuntura, cujos lances decisivos estão condensados de algum modo em sua breve existência de quarenta e seis anos. Sobre os ombros deste homem justo, Deus parece ter depositado boa parte das preocupações da Igreja, ao mesmo tempo que cumulou de bênçãos todas as obras impulsionadas pelo seu zelo pastoral.

Um lindo episódio prende-se ao seu nascimento, ocorrido na madrugada de 2 de outubro de 1538. Situado na cidade lombarda de Arona, às margens do límpido Lago Maggiore, o castelo da família Borromeu foi subitamente iluminado por um clarão descido do firmamento, o qual permaneceu sobre o local por várias horas.

Diversas testemunhas presenciaram o fato, como consta na bula de canonização do Santo: “Na noite do nascimento do menino, o Senhor manifestou o esplendor de sua futura santidade com uma intensa e extraordinária luz, que muitas pessoas viram resplandecer sobre os aposentos da mãe”.

Batizado alguns dias depois na própria capela do castelo, o pequeno Carlos distinguiu-se por sua religiosidade. Chegada a época dos estudos superiores, Carlos Borromeu partiu para Pavia, onde cursou Direito Eclesiástico e Civil.

Nas vésperas da obtenção do título doutoral, uma notícia veio transformar por completo a sua vida: eleito para a Cátedra de Pedro no Conclave de 1559, seu tio materno Giovanni Angelo de Medici o chamava para assessorá-lo na direção da Igreja, nomeando-o Cardeal-Diácono, antes mesmo de ser ordenado presbítero.

“Anjo da guarda” de Pio IV e Arcebispo de Milão

Pio IV conhecia as virtudes de seu sobrinho. Embora Carlos Borromeu acumulasse cargos prestigiosos, é preciso reconhecer que este acabou sendo um raro exemplo de nepotismo bem-sucedido, pois “desde o primeiro dia ele foi a antítese do tipo de cardeais-sobrinhos do Renascimento, na maioria dos casos uns autênticos boas-vidas”. Sabe-se que a sua presença desagradou alguns membros do círculo do Papa, porque “a severa forma de vida e os sentimentos inteiramente eclesiais de Carlos não eram de modo algum conformes ao gosto dessas pessoas”.

É difícil precisar quanto a sua presença junto ao Papa foi valiosa para a Igreja, porque além de um auxiliar útil e sagaz para toda boa obra, era um varão sacrificado que assumia os encargos mais árduos, as questões mais intrincadas, os problemas de que os outros se eximiam, sempre despojado de qualquer interesse pessoal, qual “anjo da guarda” de carne e osso.

Três anos depois de ser nomeado Secretário de Estado, em setembro de 1563, São Carlos Borromeu foi ordenado sacerdote e, no mês de dezembro, elevado à dignidade episcopal. Antes, porém, havia sido designado administrador do Arcebispado de Milão, já naquela época a maior jurisdição eclesiástica da Península Itálica.

O governo desta arquidiocese conferia-lhe a grave obrigação de trabalhar pela santificação de um rebanho numeroso, afligido por toda espécie de carências espirituais e materiais, à qual o Santo deu precedência sobre vários outros empreendimentos de grande envergadura.

As decisões de Trento adquirem vida em Milão

No mesmo ano de 1563, a decisão pontifícia de concluir o Concílio de Trento produziu um abalo dentro e fora do âmbito eclesial. As sessões desta magna assembleia tornaram-se um eficaz instrumento para desvendar e combater os erros do protestantismo, através de uma renovada e enriquecida afirmação da doutrina católica.

Importante foi o papel exercido por São Carlos Borromeu nesse contexto. Ele não esteve em Trento, nem atuou como padre conciliar, embora a elaboração do monumental Catecismo Romano tenha ficado sob sua direção.

Não obstante, coube-lhe agir nas altas esferas a fim de tornar possível a realização das últimas sessões e criar condições para serem plenamente acatados em toda a Igreja os decretos da magna assembleia. Na obtenção deste objetivo, seu empenho pessoal teria grande influência.

Com a morte de Pio IV em dezembro de 1565 e a eleição do dominicano Antonio Michele Ghislieri – ninguém menos que São Pio V – no mês de janeiro do ano seguinte, o governo da Igreja ficava em ótimas mãos. Então o Cardeal tornou pública a resolução de mudar-se para sua arquidiocese e nela implantar a reforma tridentina.

Um “novo Ambrósio” à frente da arquidiocese milanesa

A Arquidiocese de Milão se distinguia já no século XVI por uma antiquíssima e notável tradição: teria sido fundada pelo Apóstolo Barnabé, cuja santidade inspirou numerosos dos seus sucessores.

Por ocasião da posse do Cardeal Borromeu somavam-se já oitenta anos sem que ela contasse com um prelado residente em seu território.

A 23 de setembro de 1565 os milaneses, por fim, viram-se consolados com a chegada de um “novo Ambrósio” para a cátedra de seu Duomo. A população acorreu em massa às ruas para receber o purpurado que entrava na cidade montado num cavalo branco, multiplicando em torno de sua figura os aplausos jubilosos. O Santo retribuiu a acolhida ao afirmar, em seu primeiro sermão na catedral, que experimentava verdadeira alegria pelo fato de poder servir pessoalmente aos seus diocesanos, preferindo mil vezes sua companhia a qualquer magnificência que a Cidade Eterna pudesse lhe oferecer.

Iniciou-se, então, um promissor processo de revitalização da fé milanesa ou, quiçá, de irradiação da fé do Bispo sobre os fiéis. São Carlos Borromeu empreendeu uma gigantesca obra pastoral, visando transformar por completo as estruturas caducas ou inapropriadas vigentes. Convocou vários concílios provinciais e sínodos diocesanos, colocou em prática um plano destinado à formação do clero e dedicou-se pessoalmente ao bem das almas. Com isso, a arquidiocese foi tomando uma nova fisionomia.

Apesar da incessante atividade desenvolvida com esses objetivos, o Cardeal gostava de repetir que as almas são conquistadas de joelhos. Coerente com este princípio, reconhecia que a vida interior bem conduzida é condição indispensável para o êxito de qualquer obra evangelizadora: confessava-se diariamente e fazia tantos jejuns, vigílias e penitências, que o Papa São Pio V “o advertiu de que não queria que morresse por causa de tanta austeridade”.

Modelo para o Episcopado

Ao cabo de alguns anos era perceptível como a graça já havia transformado a diocese a ele confiada, conforme observou o Cardeal Gabriel Paleotti, que viera à cidade a convite do Santo: “Ó Milão, não sei o que dizer de ti, pois quando considero teus santos trabalhos e tua devoção, penso contemplar outra Jerusalém, graças às labutas e fatigas de teu bom pastor”.

Dentre as múltiplas facetas da santidade de São Carlos Borromeu que vêm suscitando a devoção dos fiéis desde a sua partida para o Céu, em 3 de novembro de 1584, aquela que melhor o define é a de ter sido um Bispo emblemático, modelo para todos aqueles que portam a sagrada mitra na Santa Igreja de Deus.

Com efeito, a organização de uma diocese tal como nós hoje a concebemos, com sua estrutura legislativa, administrativa e pastoral, é fruto da reforma da igreja ambrosiana, “que acabaria sendo não apenas eficaz, mas também altamente exemplar”. Nela os pastores de rito latino puderam se espelhar para organizar as suas próprias dioceses de acordo com o espírito pós-conciliar.

Digno sucessor dos Apóstolos, São Carlos Borromeu faz um elogio aos Doze que bem pode ser aplicado a ele próprio: “Ao mesmo tempo que, com a luz da disciplina evangélica, iluminaram a face da terra envolta nas trevas do erro, eles nos deixaram também o exemplo de como restaurar a ordem no mundo”.

Texto extraído, com adaptações, da revista Arautos do Evangelho n. 191 novembro 2017.  Ir. Carmela Werner Ferreira, EP.

 

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