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São João Batista Maria Vianney

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Em seu século, Cura d’Ars foi um exemplo e padroeiro dos sacerdotes. Certamente a Providência continuará a enviar modelos a serem seguidos pelos verdadeiros cristãos, mister nestes tempos incertos e calamitosos em que vivemos.

Redação (04/08/2021 09:44, Gaudium Press) João Batista Maria Vianney nasceu na aldeia francesa de Dardilly, não longe de Ars, em 8 de maio de 1786, pouco antes de eclodir a Revolução Francesa. Seus pais eram camponeses e, tão logo adquiriu idade suficiente, os acompanhava na faina diária.

Em sua primeira infância não lhe faltaram manifestações precoces de profunda religiosidade, preferindo uma imagem de Nossa Senhora sobre qualquer outro brinquedo. Com apenas quatro anos, não era raro encontrá-lo rezando no celeiro.

Sobrevieram os terríveis anos do Terror. Ainda que este não tenha feito muitos mártires em Dardilly, os objetos religiosos precisaram ser escondidos e o pároco do lugar foi substituído por um sacerdote juramentado, cujos sermões de cunho político acabaram por afastar os aldeães da frequência à igreja.

Profundamente religiosa, a família Vianney costumava abrigar os padres não juramentados que por ali passavam de maneira clandestina e aproveitavam a ocasião para assistirem à Missa e se confessarem, tudo de modo bem discreto.

Tais circunstâncias fizeram desabrochar em João Batista o desejo de ser herói: queria tornar-se sacerdote para defender a Fé com a própria vida, se necessário fosse, como aqueles valentes ministros do Senhor.

Com apenas sete anos começou a evangelizar seus pequenos companheiros de pastoreio: transmitia-lhes o básico do catecismo, com simplicidade e sem rodeios – característica que manterá durante toda a vida –, e os ensinava a recitar o Rosário, a cantar hinos e fazer procissões em torno do prado.

Esforço: traço saliente de seu ministério

Quando em 1800 as igrejas foram reabertas, João conheceu em Écully, vila próxima a Dardilly, o Pe. Charles Balley, homem virtuoso que discerniu sua vocação sacerdotal e não poupou esforços por vê-la desabrochada, ajudando-o ao longo dos anos de preparação.

Conta-se que o jovem camponês fora reprovado nos primeiros exames para a ordenação, pois os estudos lhe eram muito penosos. Por isso fez inúmeros sacrifícios corporais e peregrinações, a fim de obter do Céu que sua mente se expandisse, prenunciando o que seria um dos mais salientes traços de seu ministério: o esforço.

Quaisquer que fossem as dificuldades, nunca deixaria de se dedicar na preparação de seus sermões. E se, depois de tanto trabalho, não era muito o que lhe ficava na memória, recebia o prêmio do auxílio divino, como o testemunharia mais tarde uma paroquiana de Ars: “O senhor pároco era tão pequeno, tão aniquilado a seus próprios olhos, que o Espírito Santo Se comprazia em encher aquele vazio com luzes admiráveis”.

Apesar da limitação de sua inteligência, que era motivo de numerosos comentários, sobretudo entre o clero, a escassez de vocações fez com que, afinal, fosse elevado ao sacerdócio, com uma restrição: não poderia atender Confissões, por falta de estudo suficiente da Teologia Moral.

A sabedoria habitava em seu espírito

Tendo sido ordenado em 13 de agosto de 1815, foi destinado à paróquia de Écully, como coadjutor do Pe. Balley. Ali, o zelo apostólico que demonstrava em suas arrebatadas pregações começou a encher a pequena igreja com incontáveis pessoas que vinham ouvi-lo.

Muitas delas pediam-lhe conselhos e seu experimentado mestre, o Pe. Balley, começou a instruí-lo dia a dia. Propunha-lhe casos de consciência obscuros e delicados, os quais eram resolvidos com segurança pelo novo sacerdote. Sem dúvida, o Espírito Santo o iluminava: a sabedoria que não conseguira haurir nos livros habitava de forma admirável em seu espírito.

O pároco e benfeitor de São João Batista Maria suplica, então, a autorização para que ele possa ouvir Confissões e, tão logo este múnus lhe foi concedido, quis ser o primeiro a beneficiar-se de seus dons no tribunal da Penitência. A Providência ia preparando o santo coadjutor para sua missão específica.

Com a morte do Pe. Balley, o Pe. João Vianney foi enviado como pároco a Ars, talvez o último e menos importante vilarejo da França. Para lá se dirige sem demora, levando seus poucos pertences, e assim que avista a pequena aldeia põe-se de joelhos e invoca o Anjo da ­Guarda da paróquia para que abra as almas de todos à benéfica ação da graça.

Enviado a uma paróquia pequena e dissoluta

Chegando a Ars, ele se depara com um panorama desolador: a Revolução havia conseguido que os habitantes daquela aldeia se tornassem licenciosos em seus costumes e, privados de toda formação religiosa, se afastassem da Fé.

Nos primeiros dias, o novo pároco visita pessoalmente um por um de seus paroquianos. Quer conhecer cada nome, suas atividades, seus problemas. Mostra-se cheio de zelo e caridade. Não quer saber de gente que fica no lusco-fusco entre o lícito e o ilícito. Deus existe? Então vamos honrá-Lo como é devido.

Num de seus sermões exorta: “Cristo chorou sobre Jerusalém… Eu choro sobre vós. Como não haveria de chorar? […] Fazeis uma montanha de coisas que são ofensa a Deus. Será que pensais que Deus não vos vê? Mas se até eu vos vejo, meus filhos! Sereis tratados em consequência. Que miséria! O inferno existe. Suplico-vos que penseis nele. Pensais por acaso que o vosso pároco deixará que vos ponham lá dentro para que vos queimeis até o fim dos séculos? Quereis mesmo dar esse desgosto ao vosso pároco?”

Dias atarefados… noites conturbadas!

A integridade do Pe. Vianney passou a atrair multidões. Já não eram só os paroquianos que acorriam à igreja, senão também fiéis vindos de toda a redondeza. Diz-se que, se a morte não o tivesse levado deste mundo, teria acabado por converter toda a França, dado o crescente número de pessoas que o buscavam. Não raras vezes chegava a ficar até vinte horas no confessionário.

Milagres sem conta poderiam ser aqui relatados: conversões de pecadores empedernidos, tíbios que recuperam o fervor, pessoas muito afastadas da Religião retornam à casa do Pai. Possuindo o dom de discernimento dos espíritos, indicava aos penitentes pormenores das circunstâncias vividas e podia conhecer as disposições de cada um. Por isso, amiúde negava a absolvição aos que não queriam realmente se emendar.

O cansaço provocado por um dia todo dedicado à cura das almas, ­somado aos jejuns e outras mortificações corporais, tornava indispensável uma noite tranquila para repor as energias. Contudo, Deus exige o holocausto completo daqueles a quem mais ama: ruídos, sustos e toda espécie de manifestações diabólicas impediam-no de dormir.

Tais fenômenos se iniciaram por volta de 1824 e duraram até 1858, ou seja, trinta e quatro anos. No início davam-se todas as noites, depois tornaram-se menos numerosos. São João Vianney foi-se acostumando com eles: das primeiras vezes, tremia de pavor, mas aos poucos descobriu tratar-se de um estéril estrebuchamento do inferno, por estarem sendo arrebatadas tantas almas de suas garras.

Bastava uma noite ser muito conturbada para, no dia seguinte, aparecer na igreja um pecador arrependido. Sabedores da ação da graça por meio do Santo, os demônios vociferavam antecipadamente pela perda. Quiçá por este motivo ele chamasse o maligno de grappin, que quer dizer fisga, pois aquela fúria indicava que seria fisgado um “peixe grande” para a Barca do Senhor.

As forças infernais estavam enlouquecidas perante o êxito de seu apostolado. Numerosos possessos iam se entrevistar com o Santo Cura d’Ars, que já não teme o demônio. “Domina-o do alto patamar de santidade aonde a graça o elevou”. Certa vez o maldito declarou sua derrota pela boca de uma endemoniada: “Se houvesse três como tu sobre a terra, o meu reino teria sido destruído. Tu me arrancaste mais de oitenta mil almas”.

“Um santo que devemos admirar e tomar como modelo”

Conforme crescia sua fama, as indisposições contra ele foram se tornando mais intensas. Os párocos das redondezas, apesar de nada terem para recriminá-lo, começaram a se sentir inseguros diante das frequentes expedições de seus paroquianos à aldeia vizinha. Alguns chegaram a proibir tais peregrinações, ameaçando negar a absolvição aos que desobedecessem.

Puseram-se de acordo para enviar ao Bispo um protesto coletivo, com acusações como: não tem conhecimentos teológicos suficientes para entrar num confessionário; as pessoas que o procuram não voltam convertidas; usa uma batina surrada e sapatos de lavrador; e muitas outras coisas do gênero. A denúncia chegou às mãos do Pe. Vianney, que acrescentou sua assinatura ao final da lista e devolveu-a ao remetente…

Não obstante, Deus dotara Dom Alexandre-Raymond Devie, Bispo de Belley naquela época, de muita sensatez, tato, bondade, penetração e amor por suas ovelhas. Convicto da virtude deste seu sacerdote, mandou alguns auxiliares a Ars apenas para confirmar o que ele já conhecia. Estes “voltaram tontos de admiração”, levando-o a comentar a respeito do Pe. Vianney, em sua resposta aos revoltosos: “Meus senhores, é um santo, um santo que devemos admirar e tomar como modelo”.

O grande drama de sua vida

“Tu salvas as almas, mas tu te perdes”… Esta curta frase resume o grande drama que enfrentou o Santo Cura d’Ars ao longo de toda a sua vida, ora de modo explícito, ora subconsciente.

Desde menino buscara a solidão e se sentira inclinado à contemplação. O desejo de ficar em oração, em busca de uma purificação interior que o preparasse para o convívio eterno, constituía o anelo mais recôndito de seu espírito.

Com a intensa vida de apostolado que levava, todavia, alcançar esta forma de isolamento indispensável para a alma parecia-lhe impossível. E o demônio, que ansiava por afastá-lo de sua missão de pároco, induzia-o a pensar que descuidava, com culpa, da obrigação de zelar pela própria alma e que, se as coisas continuassem assim, acabaria por ­perdê-la.

Volta e meia vinha-lhe ao espírito a ideia de serem inúteis todas as suas atividades. E se morresse repentinamente? Onde encontrar tempo para um bom exame de consciência, se os fiéis lhe consumiam todo o dia? E se não bastasse a multidão que o procurava, não vinha também o demônio roubar-lhe, à noite, os poucos instantes de recolhimento que poderia dedicar a tão necessária tarefa?

Parecia haver só uma solução: deixar a paróquia em segredo. Por três vezes o Santo Cura d’Ars foge do seu povo, do Bispo, dos coadjutores, de todos que pudessem colocar obstáculo àquela aspiração tão legítima: cuidar da própria alma. Pensa em refugiar-se na Trapa ou numa Cartuxa. No entanto, pouco depois de iniciado o caminho assalta-lhe o remorso: será esta a vontade de Deus? E sempre regressa…

Consumido pela missão sacerdotal

Com quase sessenta anos, sua entrega sem reserva à missão sacerdotal tornava um verdadeiro milagre o fato de sua existência. Um médico que o examinara chegou a afirmar que, “com a vida que levava, ‘a ciência não podia explicar como é que permanecia vivo’”.

Nem mesmo o mais indispensável para sobreviver ele se concedia e nunca parava para dar-se um repouso. Em várias ocasiões, ao “subir ao púlpito ou descer ao confessionário, viam-no vergar-se; parecia, por um momento, estar perdendo a substância. Mas de repente a sua missão o reerguia, a graça voltava a enchê-lo até a borda, o sacerdote ressuscitava o homem. Continuava perfeitamente lúcido, tão pronto nas respostas e tão seguro nos conselhos”.

Antes de partir para a eternidade, a Virgem Santíssima ainda lhe concedeu uma das maiores alegrias de sua vida: celebrar com solenidade a proclamação do dogma da Imaculada Conceição, a 8 de dezembro de 1854, em cuja Missa estreou “uma magnífica casula ‘de veludo azul ornamentada com ouro’; subiu ao púlpito e falou”. À noite ele mesmo fez questão de tocar os sinos chamando para a procissão das velas.

Alguns anos mais tarde, na festa de Corpus Christi de 1859, já não tinha forças para conduzir o ostensório durante a procissão. Quis, porém, tomá-lo “ao final, para abençoar ‘pela última vez’ o seu povo”. Havia chegado o tempo fixado por Deus para encerrar-lhe os dias nesta terra e recompensar sua santa vida no Céu.

Semanas depois, alquebrado pela fadiga e pelo trabalho, pedia os últimos Sacramentos. Na madrugada do dia 4 de agosto a batalha já estava ganha. “Sem espasmos, sem agonia, sem violência, João Batista Maria Vianney adormecia no Senhor”, na hora das Laudes, enquanto o Pe. Monnin pronunciava à sua cabeceira as palavras da recomendação da alma: “Venham ao seu encontro os Santos Anjos de Deus e o introduzam na cidade viva, a Jerusalém Celeste”.

Entrava no Paraíso, para gozar do convívio com Aquele cujo amor o sustentara em sua exemplar vida de sacerdote.

Texto extraído, com pequenas adaptações, da Revista Arautos do Evangelho n. 188, agosto 2017.

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