São Domingos de Gusmão combateu os albigenses pela pregação e Simon de Montfort o fez através das armas. Ambos estavam unidos pelo mesmo ideal: a extirpação da heresia e a glória da Santa Igreja.
Redação (25/09/2023 18:08, Gaudium Press) A heresia dos albigenses se propagou no Sul da França tendo como foco principal a cidade de Albi. Daí o seu nome.
Explica Dr. Plinio Corrêa de Oliveira que os albigenses, também chamados cátaros, professavam o panteísmo dualista dos maniqueus, ou seja, diziam existir dois deuses: o do bem, criador do espírito, e o do mal que deu origem à matéria.
Rejeitavam o dogma da Encarnação do Verbo, demonstravam grande ódio contra a Igreja, a Tradição, os Sacramentos, a intercessão dos Santos, a Ave-Maria, o culto das imagens.
Combatiam a propriedade, a justiça, o matrimônio e a hierarquia social. Havia nessa heresia o germe do comunismo.[1]
Muitos católicos, até mesmo bispos e padres, se tornaram albigenses ou foram cúmplices de seus erros.
“A Cruzada contra os cátaros e albigenses, as guerras de Religião da Liga Católica da França, as dos chouans, dos carlistas, dos cristeros são as mais belas guerras da História, porque tomam todo o seu sentido no ideal religioso.”[2]
Papa exortou a tomada de armas contra os albigenses
A fim de averiguar a situação, o Papa Inocêncio III enviou, em 1208, um legado ao Sul da França que formou uma liga de governantes para combater os hereges, cujo principal chefe era o Conde de Tolosa, Raimundo VI, o qual mandou matar o representante do pontífice.
Inocêncio III excomungou o conde e desligou seus súditos do juramente de fidelidade. Remeteu cartas ao Rei da França Felipe Augusto e a diversos governadores, exortando-os a tomarem armas contra os hereges. Concedeu aos participantes dessa guerra as mesmas indulgências doadas aos que fossem combater na Terra Santa. E declarou que os albigenses eram mais perigosos que os sarracenos.[3]
Realizou-se, então, uma Cruzada capitaneada pelo nobre Simon de Montfort, senhor de um feudo em Montfort-l’Amaury, nas proximidades de Paris. Num monte, havia sido construído um castelo forte, que passou a ser chamado Montfort – do latim mons fortis.
Era um cavaleiro de alta estatura. “Sua piedade, seu zelo pela Fé e a pureza de seus costumes propiciavam-lhe esta perfeição pela qual a Cavalaria representa, por assim dizer, a Igreja em suas relações com o mundo.”[4]
Diariamente participava da Missa e rezava o ofício divino. Integrando a IV Cruzada, esteve na Terra Santa onde demonstrou seu grande valor militar no combate contra os muçulmanos. Alguns de seus contemporâneos o comparavam a Judas Macabeu e até mesmo a Carlos Magno.
Os albigenses praticavam execrandas abominações. Um de seus chefes Raimundo-Roger Trancavel, Conde de Foix – cidade do Sudoeste da França –, ordenou que os ornamentos, vasos sagrados e as relíquias existentes nas igrejas fossem queimados. Várias vezes, enviou mulheres de má vida aos conventos para transformá-los em antros de orgia.
São Domingos de Gusmão acompanhou Simon de Montfort
Em setembro de 1213, os Condes de Toulouse e de Foix fizeram uma aliança com Pedro II, Rei de Aragão – Norte da Espanha –, a fim de defenderem os albigenses. Com numeroso exército, penetraram nos domínios de Simon de Montfort e acamparam na cidade Muret, nas cercanias de Toulouse.
Acompanhado por São Domingos de Gusmão, sete bispos e dois abades, Simon de Montfort reuniu 1.700 católicos e partiu em direção àquele local. Ao passar por uma cidadezinha, entrou numa capela, confessou-se e colocou sua espada sobre o altar dizendo: “Senhor, embora eu seja indigno, Vós me escolhestes para defender vossa causa. Concedei-me a graça de que, lutando por vossa honra, combata com justiça!”[5]
Através de São Domingos, enviou mensagem ao Rei de Aragão propondo tratativas de paz, que foram rejeitadas. Então, os bispos excomungaram Pedro II e seus cúmplices.
Na manhãzinha do dia do enfrentamento, um prelado concedeu absolvição geral aos católicos, que se dividiram em três batalhões, em honra da Santíssima Trindade, e zarparam para o combate.
Montfort, com seus melhores guerreiros, cavalgou ao longo do Rio Garonne e atacou os aragoneses reunidos em torno de seu rei. No embate, Pedro II foi morto e os hereges entraram em pânico. Os cavaleiros de Monfort investiram e aproximadamente 18.000 inimigos da Igreja morreram; muitos fugiram, entre eles os dois condes. Era o dia 12 de setembro de 1213.
Audiência com o Rei da França
Em novembro de 1215, Inocêncio III realizou em Roma o IV Concílio de Latrão, que renovou a condenação dos albigenses. O papa nomeou Simon de Montfort senhor de Toulouse bem como das cidades da França meridional, que haviam caído na heresia e foram por ele conquistadas.
A fim de oficializar a ordem papal, Montfort dirigiu-se a Paris e teve audiência com o Rei Felipe Augusto, o qual lhe deu um diploma de investidura sobre Toulouse e outros feudos de Raimundo VI.
Indignado, este viajou a Aragão e outras cidades da França para pedir ajuda contra Montfort. Os líderes dos albigenses se estabeleceram em Toulouse e obtiveram apoio de boa parte da população.
Montfort, com seus cavaleiros, fez o cerco dessa cidade. Em 25 de junho de 1218, ao término da Missa da qual participava, avisaram-no de que chegara a hora marcada para iniciar a investida. Ele disse: “Vamos, e se for preciso morramos por Aquele que se dignou morrer por nós!”[6]
Vendo que os católicos se aproximavam corajosamente, os hereges lançaram sobre eles carradas de pedras. Uma delas atingiu a cabeça de Montfort, que caiu de seu cavalo e expirou.
Uma grande glória de Simon de Montfort foi ter sido elogiado por São Luís Maria Grignion de Montfort, o qual escreveu: “Quem poderá contar as vitórias que Simon, conde de Montfort, obteve contra os albigenses, graças à proteção de Nossa Senhora do Rosário? Foram tão famosas que jamais se viu coisa parecida”.[7]
Por Paulo Francisco Martos
Noções de História da Igreja
[1] Cf. CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. O corpo místico de Satanás. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano XXV, n. 292 (julho 2022), p. 11.
[2] Idem, Entusiasmo e alegria pela alma guerreira. In Dr. Plinio. Ano XXIV, n. 278 (maio 2021), p. 34.
[3] Cf. VILLOSLADA, Ricardo Garcia. Historia de la Iglesia Católica – Edad Media.3. ed. Madri: BAC, 1963, v. II, p. 479.
[4] DARRAS, Joseph Epiphane. Histoire Génerale de l’Église. Paris: Louis Vivès. 1881, v. 28, p. 340.
[5] Idem, ibidem, p. 382.
[6] Idem, ibidem, p. 421.
[7] SÃO LUÍS MARIA GRIGNION DE MONTFORT. El secreto admirable del Santísimo Rosário. In Obras de San Luís Maria Grignion de Montfort. Madri: BAC. 1954, p. 366.
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