Vade retro!

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 “A Cruz Sagrada seja a minha Luz. Não seja o dragão o meu guia. Retira-te satanás! Nunca me aconselhes coisas vãs. É mau o que tu me ofereces, bebe tu mesmo o teu veneno.”

Foto: Freepik

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Redação (29/03/2025 12:18, Gaudium Press) Tornou-se comum vermos carros com adesivos da medalha de São Bento, e também tem aumentado o seu uso: pendurada em uma corrente, estampada em camisetas, colada às portas de entrada das casas, em chaveiros ou dentro das carteiras. Isso é bom, pois significa que se busca a proteção deste grande Santo, que foi o organizador da vida monástica. Mas será que basta portar a medalha para afastar o mal?

Medalha de Sao Bento

De vez em quando, diante de situações ruins ou ameaçadoras, há pessoas que rezam a Oração de São Bento, em latim:

 “Crux Sacra Sit Mihi Lux.

Non Draco Sit Mihi Dux.

Vade Retro Satana! Nunquam Suade Mihi Vana.

Sunt Mala Quae Libas Ipse Venena Bibas.”

Ou em português:

“A Cruz Sagrada seja a minha Luz.

Não seja o dragão o meu guia. Retira-te satanás!

Nunca me aconselhes coisas vãs.

É mau o que tu me ofereces, bebe tu mesmo o teu veneno.”

Segundo os especialistas, a eficácia é a mesma, pois, mais importante que as palavras são a fé e o respeito com que se as pronuncia. O problema é quando se faz disso um amuleto e, muito pior, uma brincadeira; com as coisas de Deus não se brinca.

Vade retro (Satana)!

Da oração, essa pequena frase se popularizou – com ou sem o nome do espírito das trevas – e é usada por muita gente com conotação brincalhona e meio aportuguesada: “Vade retro, Satanás!”, com o fito de afastar qualquer coisa ruim, sobretudo pessoas que incomodam ou dizem algo que não agrada.

Não devemos nos referir a alguém utilizando qualquer nome atribuído ao maligno, mas, infelizmente, isso acontece, e até com certa frequência. Já tive a triste experiência de ver uma avó que usava costumeiramente essa frase para com seus netos pequenos!

Aqueles que agem assim se esquecem ou ignoram que estas palavras fazem parte de uma poderosa oração exorcística que foi composta para afastar o espírito do mal, e não as pessoas. No entanto, há muitos católicos que caem nesse engodo. Da mesma forma que abusam do “vade retro!”, se referem aos seus desafetos como “carma” ou “encosto”, termos tomados de empréstimo de outras crenças religiosas, sem qualquer relação com a nossa doutrina.

Bem, o foco deste artigo não é falar de demônio nem de exorcismos, mas sim da postura do católico diante das pessoas que se comprazem em fazer o mal. Este preâmbulo foi apenas para deixar claro que, por pior que uma pessoa seja, não devemos usar essas palavras dirigidas a ela, mas ao demônio que a infesta. Para afastar e se proteger do demônio só consegue, de fato, aquele que evita o pecado, foge das ocasiões de tentação e leva uma vida reta, de piedade, fé verdadeira, oração e frequência aos Sacramentos, sobretudo a Confissão e a Eucaristia.

O que queremos falar aqui é sobre a prática do mal que nos afeta rotineiramente. Vemos o sangue que jorra dos homicídios, chacinas, execuções e tantas outras formas de violência e abusos. Coisas que acontecem longe de nós, mas que trazemos para dentro das nossas casas ao simples clique de um botãozinho do controle remoto da TV ou no rolar da tela de nossos celulares.

Males que podemos evitar

Trata-se de problemas que não são nossos, mas, quando nos damos conta, estamos tão envolvidos em certas notícias que nos sentimos obrigados a pensar nelas o tempo todo, opinar a respeito e disseminá-las.

Essa perturbação se exacerba ainda mais quando vemos assassinos serem soltos depois de cumprir pouquíssimo tempo da pena ou sequer serem presos, mesmo sendo réus confessos, mas tendo poder para comprar sua liberdade, enquanto muitos permanecem presos por infrações muito menores.

Todavia, é um envolvimento nocivo e desnecessário, e é de máxima prudência evitá-lo. Não que não devamos ser solidários com as vítimas da violência.

 Nesse contexto, o mal parece envolver todos os recantos da vida, como uma sombra viscosa, pegajosa, que entra por todas as frestas e invade todos os setores, dos alicerces aos sótãos da sociedade e de nossas vidas pessoais.

Depende de cada um se proteger dessa “contaminação”. Em vez de ver notícias trágicas, use o tempo para rezar um terço, ler um livro, ter uma conversa saudável com alguém ou apenas descansar.

Recentemente, uma jovem foi assassinada na grande São Paulo e todo mundo só fala disso. Nas reuniões de família, nas rodas de conversa, nas pausas para o café o assunto é: quem matou a Vitória, se teve cúmplices, se não teve, com o incentivo da imprensa, que explora os detalhes mais macabros do assassinato.

Saia do giro dessa roda! Quer fazer algo útil nessa situação? Reze pela alma da moça, peça a Nossa Senhora que dê forças aos familiares dela, reze pela família do agressor e pelos policiais que trabalham no caso e, mude a sintonia.

Nesse tempo de internet, sabemos que basta acompanhar uma tragédia para que o próprio sistema passe a oferecer mais do mesmo, continuamente, superlativamente. E, quando se dá conta, você está mergulhado num pântano de horror, do qual terá muita dificuldade em sair, e ficará emocional e até fisicamente doente.

Males que devemos enfrentar

Bem, nem só de guerras, roubos e assassinatos se faz a violência. Muitas vezes somos confrontados pelo espírito do mal no nosso dia a dia, convivendo com pessoas que, só de vermos, já sentimos ojeriza. Não, não adianta usar o “vade retro!” nem jogar água benta para espantar para longe se você não mudar a sua atitude.

Quando observamos o comportamento humano com mais atenção, nos surpreendemos que existam pessoas tão cruéis, que encontram satisfação em fazer o outro sofrer apenas pelo prazer que isso lhes proporciona. E esse sofrimento pode ser causado em pequenas coisas, em comentários jocosos, em fofocas, em falta de comprometimento, em deslealdades, em sabotagens.

As histórias dos contos de fada que embalaram a infância de muitos de nós estão recheadas dessa personificação do mal, geralmente encarnada por uma madrasta má ou uma bruxa. Na verdade, essas histórias acabam parecendo ingênuas diante do mal que enfrentamos de verdade, todos os dias, e que nos deixa indignados, e a alguns chegam a tirar o fôlego e a esperança.

É muito difícil conviver com maldosos contumazes, com pessoas que não medem esforços para magoar ou prejudicar e que são mestras em tentar virar o jogo se fazendo de vítimas, ou então dizem que são daquele jeito e pronto, que quem quiser conviver com elas tem que aceitá-las e aturá-las como são. Isso chega a ser enlouquecedor, e a constância pode desestruturar as pessoas mais equilibradas.

O mal dos maus

O bem e o mal são fatos concretos e palpáveis e não apenas conceitos relativos. Todos nós temos lados bons e lados ruins, mas não é a isso que me refiro. O mal que me indigna é aquele mal consciente, aquele que quer, sim, prejudicar os outros. É o mal dos maus, que tenta vencer o bem dos bons.

Costuma-se afirmar que todas as pessoas, por pior que pareçam, sempre têm algo de bom, algo de positivo. Não discordo disso, porém, o mal é opressor, dominador e as pessoas que a ele se devotam acabam consumidas de tal forma que se torna praticamente impossível ver qualquer vestígio de bem que elas, porventura, possam ter.

Há situações em que é possível dialogar, envidar esforços para se chegar a um denominador comum e resolver os conflitos, porém, há outras em que não resta alternativa a não ser rezar, entregar nas mãos de Deus e se afastar – se possível, cortar o contato completamente.

Não podemos torcer as palavras de Jesus

Aquele conceito que diz: “se não pode vencer o inimigo, junte-se a ele”, não é um bom conselho, porque em muitas circunstâncias o melhor a fazer – ou a única coisa sensata a fazer – é mandar o inimigo de volta para o lugar de onde saiu e fugirmos dele, ficarmos fora do seu alcance, porque, se puder, ele vai fazer de tudo para minar as nossas energias até nos ver no chão.

Há pessoas a quem o sucesso alheio incomoda, a alegria do outro incomoda, a paz e o estilo de vida diferente do seu incomodam, sobretudo, se o outro for uma pessoa de fé genuína, com o comportamento que um cristão de verdade deve ter, porque não há nada que incomode mais que a pureza e a humildade. Nesse caso, se conseguirmos ser verdadeiramente católicos, nem precisamos fazer muito esforço para que o mal se afaste, porque ele simplesmente não suporta a presença dos filhos da Luz.

Dr. Plinio Corrêa de Oliveira e Monsenhor João Clá Dias, dois homens verdadeiramente católicos que admiro, descobriram isso ainda na infância, convivendo com meninos aos quais, desde pequenos, o bem incomodava tremendamente.

Você pode argumentar que Jesus ensinou que, quando alguém nos bater, devemos oferecer a outra face. No entanto, Cristo não mandou ninguém colocar o pescoço na guilhotina nem ficar à mercê dos inimigos de Deus. Ele mesmo se utilizou do expediente de se afastar prudentemente daqueles que O queriam destruir.

Devemos nos apoiar nas palavras de São Paulo: “Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem” (Rm 12, 21). Entretanto, para que o bem triunfe, precisamos deixar de ser ingênuos, deixar de ser bobos, deixar de permitir que nos insultem, nos machuquem, nos lesem por causa de nossa religião, atacando-a.

O bem maior é não deixar que o mal seja feito, lutar e nos afastarmos dos maus. Afinal, um funcionário do Instituto Butantã não faz carinho em cabeça de serpente porque sabe que a sua boa vontade não evita a mordida da víbora e tão menos neutraliza o seu veneno.

Por Afonso Pessoa 

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