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Vigia avançado, muralha resistente, torre elevada

Alguns dias depois de ter sido eleito Superior da Companhia de Jesus, Santo Inácio e seus discípulos fizeram uma peregrinação a diversas igrejas de Roma, concluindo-a na Basílica de São Paulo Extramuros, onde se confessaram, comungaram e renovaram seus votos.  

St Ignatius of Loyola 1491 1556 Founder of the Jesuits

Redação (16/08/2025 11:01, Gaudium Press) Frequentemente, Santo Inácio recebia graças místicas extraordinárias. Durante a celebração da missa, muitas vezes ficava em êxtase e seu rosto espargia raios celestiais enquanto seu olhar brilhava de tal modo que parecia estar mergulhado no próprio seio da divindade.

Devido às virtudes e aos conhecimentos teológicos que os membros da Companhia de Jesus possuíam, de vários locais da Europa, chegavam pedidos ao Fundador para que seus discípulos lá fizessem apostolado. Atendendo tais solicitações, ele enviou alguns para Portugal, Índia, Alemanha, Irlanda e Veneza.

Na sede dos jesuítas em Roma, o número de noviços aumentava continuamente e Santo Inácio os formava com uma disciplina plena de bondade e firmeza.

Noviço trajando capa de veludo bordada a ouro

Um sobrinho seu, Antônio de Araoz, deixou a Espanha e apresentou-se no seminário vestindo uma capa de veludo bordada a ouro, como se trajavam os nobres.

Conforme estipulava a regra, ele passou a pedir esmolas nas ruas de Roma, servia os doentes nos hospitais, lavava a louça na cozinha da casa, mas por ordem do Fundador sempre trajando sua capa de veludo. Para um nobre espanhol era uma rude prova, a qual o jovem suportou galhardamente durante dois anos, até que a capa deteriorasse.

Quando um noviço não queria se conformar com o espírito e o modo de ser dos membros da Companhia era excluído do seminário, mesmo que pertencesse à elevada categoria social. Por exemplo, um filho do Duque de Bragança e sobrinho de Dom Manuel I, Rei de Portugal, foi expulso porque semeava a desunião entre os seminaristas.

O Rei de Portugal rompe relações com o Papa

Devido a uma questão eclesiástica, o Rei de Portugal João III rompeu seu relacionamento com o Papa Paulo III.

Essa ruptura repercutiu em toda a Europa e Santo Inácio procurou solucioná-la. Escreveu uma carta ao Padre Simão Rodrigues, Provincial dos jesuítas em Portugal, e pediu-lhe que a mostrasse ao monarca.

Dom João III venerava Santo Inácio e costumava dizer que sua palavra deveria ser considerada como a do próprio Deus. Após ler a missiva, reconciliou-se com o pontífice.

O número de noviços da Companhia de Jesus crescia rapidamente em Portugal e Espanha devido às pregações dos Padres Pedro Fabro e Antônio Araoz. Promoveram retiros, com fundamento nos “Exercícios Espirituais”, reergueram conventos cujas disciplinas se haviam relaxado, e incentivaram nos presbíteros a combatividade.

Jesuítas atuaram no Concílio de Trento

Tendo se iniciado o Concílio de Trento, em 1545, Paulo III solicitou a Santo Inácio dois teólogos da Companhia de Jesus para serem legados pontifícios naquela Assembleia.  Ele escolheu os Padres Diego Laynez e Alfonso Nicolás Salmerón, os quais haviam estudado na Universidade de Paris e frequentemente eram consultados por destacados teólogos de Roma, embora tivessem pouco mais de trinta anos de idade.

Padre Fabro, que anteriormente fizera frutuoso apostolado na Alemanha, recebeu ordem do Papa de atuar no Concílio de Trento como delegado pontifício.

Encontrava-se ele na Espanha e muito doente; disseram-lhe que empreender a viagem à Roma seria caminhar para a morte.

– Não é necessário viver – respondeu -, mas sim obedecer.

Após três meses de penoso percurso, chegou à Cidade Eterna extenuante e, pouco depois, nos braços do seu venerado Pai espiritual, entregou sua alma a Deus em 1 de agosto de 1546. Recebeu a honra dos altares e sua memória é celebrada em 1 de agosto.

Grandes santos: Francisco de Borgia e Pedro Canísio

Nesse mesmo ano de 1546, ingressou na Companhia de Jesus um varão pertencente à alta nobreza espanhola: Francisco de Borgia, Duque de Gandia e Vice-rei da Catalunha.

 Ele se casara com Leonor de Castro Mello y Meneses e tiveram oito filhos. Ela faleceu em maio de 1546 e, alguns meses depois, Francisco entrou como noviço na Ordem dos jesuítas, da qual se tornou o Terceiro Geral, em 1565. Praticou todas as virtudes em grau heroico e foi canonizado. Sua memória se celebra em 30 de setembro.

Devido à proliferação de protestantes na Alemanha, o Duque de Baviera escreveu ao Fundador pedindo-lhe “defensores da Fé da Igreja, escolhidos entre os mais aguerridos do seu valente exército”,[1] para combaterem a heresia.

Para lá foram enviados os Padres Alfonso Salmerón, espanhol, e Pedro Canísio, holandês, ao qual o príncipe confiou as aulas de Teologia na Universidade de Ingolstadt.

Quinze minutos junto ao Sacrário

Mas entre os primeiros discípulos de Santo Inácio, que fizeram seus votos na Basílica do Sagrado Coração de Montmartre, em Paris, houve um que se deixou dominar pelo espírito revolucionário: Nicolás de Bobadilla. Movido pelo orgulho, rebelou-se contra o Fundador a tal ponto de chamá-lo tirano, e também contra as Constituições da Companhia que, segundo ele, deveriam ser mais liberais…[2]

Tal era a confiança do Santo em Deus que afirmou certo dia: se a Companhia de Jesus fosse fechada sem sua culpa, bastar-lhe-ia um quarto de hora passado junto ao sacrário para reconquistar toda sua tranquilidade.

Sentindo que a morte se aproximava, pediu e obteve a bênção do Papa; juntando as mãos, olhando para o céu pronunciou o nome de Jesus e sua alma foi levada ao Paraíso. Era o dia 31 de julho de 1556, estando ele com 65 anos de idade.[3] Sua memória é celebrada em 31 de julho.

Grande remédio dos males, martelo das heresias

Quando se celebrou o IV centenário da fundação da Companhia de Jesus, Dr. Plinio Corrêa de Oliveira foi convidado a pronunciar uma conferência na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, em 22 de maio de 1941.

Transcrevemos um trecho de sua exposição.

A Companhia de Jesus estava “destinada a ser a grande sentinela dos perigos, mormente daqueles que ninguém ainda vê; o grande remédio dos males, especialmente daqueles que ainda ninguém discerne; o martelo das heresias, sobretudo daquelas cujo murmúrio incipiente ou cuja germinação imperceptível, escapa aos olhos da maior parte dos observadores. […]

Era “o vigia avançado, a muralha resistente, a torre elevada, que permite discernir de longe o inimigo, e quebrar o ímpeto de suas primeiras e mais fortes investidas”.[4]

Por Paulo Francisco Martos

Noções de História da Igreja


[1] DAURIGNAC, J. M. S. Santo Inácio de Loyola – Fundador da Companhia de Jesus. Porto: Livraria católica portuense.1896, p. 341.

[2] Cf. NADAL CAÑELLAS, Juan. Jerónimo Nadal, Vida e influjo. Bilbao (Espanha): Ediciones Mensajeros-Sal Terrae, 2007. p. 97-98.

[3] Cf. DAURIGNAC. Op. cit., 263-412.

[4] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Ascese da Companhia de Jesus – I Vigoroso torreão da Cidade de Deus. In Dr. Plinio. São Paulo. Ano X, n. 108 ((março 2007), p. 15.

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