[bmto id=”1″]https://www.youtube.com/watch?v=VOnyccp6JZA[/bmto]
— “Para o fim. Salmo do mesmo Davi”. O título não carece de nova explicação. Já foi suficientemente explanado o que significa: “Para o fim”. Vejamos, pois, o próprio texto do salmo que, a meu ver, é cantado contra os hereges (Os donatistas), os quais rememorando e exagerando os pecados de muitos na Igreja, como se fossem justos todos eles, ou ao menos a maioria, esforçam-se por nos afastar e arrebatar do seio da verdadeira mãe, a única Igreja.
Afirmam estar Cristo no meio deles e nos exortam, como se estivessem movidos de piedade e zelo, a passarmos, aderindo a eles, para junto de Cristo, que mentem ter consigo. É sabido que Cristo nas profecias, onde muitos nomes lhe são atribuídos alegoricamente, é também denominado monte. Respondamos-lhes, portanto: “No Senhor eu confio. Por que dizeis a minha alma: Foge para os montes como o pássaro?” Tenho um só monte de minha confiança.
Como, então, dizeis que passe para o vosso lado, como se existissem muitos Cristos? Ou se sois montes por causa da soberba, devo ser pássaro, tendo por asas as virtudes e preceitos de Deus. Mas, são eles mesmos que me proíbem voar em direção àqueles montes e pôr a esperança nos soberbos. Tenho casa onde descansar, porque confio no Senhor; pois também o pássaro encontrou uma casa (Sl 83,4). E o Senhor se fez o refúgio do pobre (Sl 9,10). Digamos, portanto, com toda a confiança, para não perdermos a Cristo, procurando-o entre os hereges: “No Senhor eu confio.
Porque dizeis a minha alma: Foge para os montes como o pássaro?”
— “Eis que os pecadores retesaram o arco, dispuseram na aljava as suas setas, para alvejarem, sob uma lua obscura, os retos de coração”. Terrores iminentes, provindos dos pecadores, a fim de passarmos para o seu lado, como se eles fossem justos. “Eis que os pecadores armaram o arco”. Creio nas Escrituras, de onde eles extraem sentenças envenenadas, interpretando-as carnalmente. “Dispuseram na aljava as suas setas”. Prepararam ocultamente no coração as palavras que vão arremessar apoiados na autoridade das Escrituras. “Para alvejarem sob uma lua obscura, os retos de coração”.
Ao perceberem que não poderão ser convencidos de erro, uma vez que se obscureceu a luz da Igreja por causa da multidão de homens ignorantes e carnais, procuram corromper por meio de más palavras os bons costumes (1Cor 15,33). Contra esses terrores, digamos: “No Senhor eu confio”.
— Lembro-me de ter prometido explanar neste salmo como a lua significa de modo adequado a Igreja. Duas são as opiniões prováveis a respeito da lua. Penso que o homem não chega a saber, de maneira absoluta, ou só com dificuldade qual a verdadeira. Quando se pergunta de onde se origina a luz da lua, uns dizem que lhe é própria, mas só a metade do globo brilha, enquanto a outra fica escura. Quando se move, em seu eixo, a parte brilhante pouco a pouco volta-se para a terra, sendo-nos visível, e por isso aparece primeiro como se fossem cornos.
Se fizeres uma bola, metade branca e metade escura, ao teres diante dos olhos a parte escura, nada verás da clara e ao começares a olhar a clara, aos poucos verás primeiro os cornos brancos, que irão aumentando até que tenhas diante dos olhos toda a parte branca e mais nada se veja da parte escura.