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Meditações de Santo Afonso Maria de Ligório — Bispo e Doutor da Igreja
A parábola do semeador e a palavra divina
Domingo: Semana da Sexagésima
— “Saiu o que semeia a semear a sua semente” (Lc 8,5)
Sumário:
Irmão meu, o Senhor semeia continuamente em tua alma a boa semente de sua palavra. Se não produzir o seu fruto, examina se por ventura há em ti algum dos impedimentos indicados no Evangelho. Examina sobretudo se há em ti apego às riquezas, às dignidades, aos prazeres, ou à outra criatura qualquer; pois que são estes os espinhos que não somente fazem perder o fruto da palavra de Deus, mas afinal muitas vezes impedem que Deus ainda fale à alma.
I. Refere São Lucas que, estando certo dia numerosa multidão de povo reunida ao redor de Jesus, este propôs a parábola do semeador, cuja semente caiu parte junto ao caminho, outra sobre pedregulho, outra entre espinhos, outra finalmente em terra boa. Perguntado depois pelos discípulos, o divino Redentor mesmo deu a seguinte interpretação:
“A semente”, disse, “é a palavra de Deus. Os que estão à borda do caminho, são aqueles que a ouvem, mas depois vem o diabo e tira a palavra do coração deles, para que não se salvem crendo. Quanto aos que estão sobre pedra, são os que recebem com gosto a palavra, quando a ouviram; mas eles não têm raízes, porque até certo ponto creem, e no tempo da tentação voltam atrás. A semente que caiu entre espinhos, estes são os que a ouviram, porém, indo por diante, ficam sufocados pelos cuidados e pelas riquezas e deleites desta vida, e não dão fruto: Suffocantur, et non referunt fructum.”
Observa São Gregório que, sendo o Evangelho de hoje interpretado por Jesus mesmo, não precisa de outra explicação; mas é digno de nossa mais atenta consideração. – Considera, pois, aos pés de Jesus Cristo, se porventura se ache em ti algum dos três impedimentos notados na parábola que te possa privar do fruto da palavra divina: Aliud cecidit secus viam – “Parte caiu junto ao caminho”. Tens porventura o espírito dissipado e qual caminho público aberto a todos os pensamentos?… Aliud cecidit supra petram – “Outra parte caiu sobre o pedregulho”.
Estará por ventura o teu coração endurecido como uma pedra em consequência de algum vício ou tibieza habitual?… Aliud cecidit inter spinas – “Outra parte caiu entre espinhos”. Examina sobretudo se tens apego às riquezas, às dignidades e aos prazeres terrestres, que são como espinhos, que fazem perder o fruto da palavra de Deus e muitas vezes são a causa de Deus não falar mais às almas, porque vê que suas palavras se perdem.
II. Continuando o Senhor a interpretar a última parte da sua parábola, acrescenta:
“A semente que caiu em boa terra, estes são os que, ouvindo a palavra com coração bom e perfeito, a retém, e dão fruto pela paciência”
Nota aqui estas últimas palavras: Fructum offerunt in patientia – “Eles dão fruto pela paciência”. Elas significam que não nos devemos deixar enganar pelo demônio, com a pretensão de fazer tudo ao mesmo tempo, porquanto, como avisava São Filipe Neri:
“A obra da santificação não é obra de um só dia.”
Numa palavra, para não nos apartar da parábola, quem quiser colher frutos maduros, deve, como o lavrador, esperar pacientemente o tempo da colheita.
Ó meu amabilíssimo Jesus, estou envergonhado de comparecer à vossa presença, vendo que a semente da vossa palavra, semeada tão frequentemente e abundantemente em meu coração, até agora, por minha culpa produziu tão pouco fruto. Consolo-me, porém, porque sinto que apesar das minhas negligências, ainda continuais a me falar. Loquere, Domine, quia audit servus tuus (1Rs 3,9) – “Fala, Senhor, porque o seu servo escuta”. Eis-me aqui, ó Senhor, não quero mais resistir quando me chamais; dizei-me o que desejais; estou pronto a obedecer-Vos: quero deixar tudo para ser todo vosso.
É por demais que me obrigastes a amar-Vos! Se porém desejais que Vos seja fiel, transformai o meu coração e fazei que de hoje em diante seja uma terra boa, na qual a vossa divina palavra possa deitar raízes, crescer e dar frutos de vida eterna.
Rogo-Vos também, ó meu Deus, “já que vedes que de nenhuma sorte confio em minhas obras: rogo-Vos que contra todas as adversidades sejamos munidos com a proteção do Doutor das gentes.” † Doce Coração de Maria, sede a minha salvação.