Uma solidariedade guiada pela Fé permite traduzir o amor de Deus em nossa cultura globalizada.
Cidade do Vaticano (02/09/2020, 14:25 – Gaudium Press) A Audiência Geral desta quarta-feira, 02-09, foi realizada no Pátio São Dâmaso, no interior dos muros do Vaticano, local que de há muito assiste o juramento dos novos recrutas da Guarda Suíça e testemunha a chegada ao Vaticano de reis, rainhas e presidentes com suas respectivas delegações.
Francisco demonstrava alegria pelo reencontro com os fiéis, que tiveram a oportunidade de chegar até o Pátio entrando pela Porta de Bronze. Algo inédito até então.
Descendo do veículo que o conduzia, Francisco foi aplaudido e, mantendo o distanciamento social, conversou com alguns fiéis que estavam junto às divisórias, todos usando máscaras.
Um sacerdote libanês lhe apresentou uma bandeira do Líbano. Ele a segurou e beijou e fez uma oração pelo país recentemente abalado por uma explosão no porto de Beirute e que vive uma grave crise político-econômica.
“Depois de tantos meses retomamos nosso encontro face a face, e não ‘tela a tela’, mas face a face”, disse o Papa ao iniciar sua catequese, sendo novamente aplaudido pelos presentes.
Francisco, então, prosseguiu com a quinta catequese da série “Curar o mundo”, que teve como título “A solidariedade e a virtude da fé”.
Para sairmos melhores desta crise, devemos fazê-lo juntos, não sozinhos
Assim o Pontífice iniciou sua catequese de hoje:
“A atual pandemia pôs em evidência a nossa interdependência: estamos todos ligados uns aos outros, tanto no mal como no bem. Por conseguinte, para sairmos melhores desta crise, devemos fazê-lo juntos, juntos, não sozinhos. Sozinhos não se consegue. Ou se faz juntos ou não se faz. Devemos fazê-lo juntos, todos nós, em solidariedade. Gostaria de sublinhar esta palavra, solidariedade”.
Temos uma origem comum em Deus e temos um destino comum em Cristo
Francisco explicou que “Como família humana temos uma origem comum em Deus; vivemos em uma casa comum, o planeta-jardim no qual Deus nos colocou; e temos um destino comum em Cristo. Mas quando esquecemos tudo isso nossa interdependência torna-se a dependência de uns em relação aos outros”.
Neste sentido, –citando São João Paulo II na Encíclica Sollicitudo rei socialis– , o Pontífice recordou que o princípio de solidariedade torna-se mais do que nunca necessário, pois mesmo vivendo numa mesma “aldeia global”, onde tudo está interligado, nem sempre transformamos em solidariedade esta interdependência:
“Há um longo caminho entre a interdependência e a solidariedade: os egoísmos – sejam individuais, nacionais e dos grupos de poder – e as rigidezes ideológicas, alimentam ‘estruturas de pecado’”.
Solidariedade é bem mais que simples generosidade
A palavra “solidariedade” –destacou Francisco– “significa muito mais do que alguns atos esporádicos de generosidade, é muito mais, supõe a criação de uma nova mentalidade que pense em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. Isso significa solidariedade. Não é só questão de ajudar os outros, isso é muito bom fazer, mas é mais. Trata-se de justiça”.
Solidariedade tem “anticorpos” para doença do individualismo
“Uma diversidade solidária possui os “anticorpos” para que a singularidade de cada um – que é um dom, único e irrepetível – não adoeça com o individualismo, com o egoísmo. A diversidade solidária também possui os anticorpos para curar estruturas e processos sociais que se degeneraram em sistemas de injustiça, em sistemas de opressão. Portanto, a solidariedade hoje é o caminho a percorrer em direção a um mundo pós-pandemia, para a cura de nossas doenças interpessoais e sociais. Não há outro. Ou seguimos em frente pelo caminho da solidariedade ou as coisas irão piorar. Quero repetir: de uma crise não sai como antes. A pandemia é uma crise. De uma crise, sai-se melhor ou pior. Temos que escolher. E a solidariedade é precisamente o caminho para sair melhores da crise, não com mudanças superficiais, com uma pintura por cima e tudo está bem. Não. Melhores!”
Guiada pela fé a solidariedade permite traduzir o amor de Deus em nossa cultura globalizada
“Em meio a crises, uma solidariedade guiada pela fé nos permite traduzir o amor de Deus em nossa cultura globalizada, não construindo torres ou muros – e quantos muros estão sendo construídos hoje – que dividem, mas depois desabam, mas tecendo comunidades e apoiando processos de crescimento verdadeiramente humanos e sólidos. E para isso ajuda a solidariedade.” (JSG)