“Quem não verá certa analogia entre a situação daquele homem debilitado, silencioso, cansado, coarctado em seus movimentos, e a do Corpo Místico de Cristo?”
Redação (29/06/2021 11:49, Gaudium Press). Comemoram-se hoje setenta anos da ordenação sacerdotal de Bento XVI.
O fato é, sem dúvida, memorável. Foi ali, justamente na solenidade do primeiro Papa, que o jovem Ratzinger deu o passo definitivo na carreira que culminaria em seu próprio pontificado, e ele de alguma forma pressentia isso: “Estava convencido – eu mesmo não sei como – de que o que Deus queria de mim só se podia conseguir fazendo-me sacerdote”.[1]
A Rome Reports publicou um curto vídeo, no qual Mons. Georg Gänswein revela a surpresa que lhe estavam preparando em função da data: alguns membros do coro de Ratisbona, outrora dirigido pelo falecido irmão do pontífice, irão cantar durante a Santa Missa.
O homem vestido de branco
Ao longo das cenas, não vemos Bento XVI pronunciar palavra – aliás, ele tem falado muito pouco ultimamente, as forças já não dão para isso – mas sua figura, de per si, profere um eloquente discurso…
O “homem vestido de branco”: os cabelos que parecem feitos de neve, a tez clara, servem de certa forma para realçar as impressões causadas pela batina completamente branca, privilégio exclusivo dos pontífices.
Entretanto, este muro caiado não é de todo inexpugnável: ele possui duas pequenas – mas quão expressivas! – janelas.
Aquele par de olhos vívidos, aos quais os anos conferiram um ar benévolo, afável e bastante cansado, não deixou em nada de refletir a perspicácia e a agudez de inteligência do panzerkardinal dos tempos de prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé.
Nada lhe escapa, sobretudo não escapa a constatação de que lhe resta pouco tempo nesta terra: “todos os dias começo com o Senhor e termino com o Senhor, e já veremos quanto dura…”, confessou ele a Mons. Georg.
Uma lição de 70
O que mais nos diz esse silencioso “homem vestido de branco”?
Joseph Ratzinger é um mistério. Não entendido aqui em sua acepção lata, mas no sentido litúrgico do termo, ou seja, um sacramento: um sinal sensível de uma realidade sobrenatural.
Tendo Bento XVI, enquanto Vigário de Cristo, contraído um desponsório místico com a Igreja, não será que ele de algum modo encarna ou, pelo menos, reflete em si algo do que se passa com Ela?
Quem não verá certa analogia entre a situação daquele homem debilitado, silencioso, cansado, coarctado em seus movimentos, e a do Corpo Místico de Cristo?
Por outro lado, sabemos que o número sete é símbolo de plenitude. Por mais que, neste aniversário de 70 anos, as exterioridades nos indiquem um ocaso próximo, a Igreja goza de uma promessa de imortalidade: precisamos estar certos de que uma primavera se aproxima. Isso, aliás, é a opinião do próprio Ratzinger:
“O cristianismo é sempre como o grão de mostarda, e, precisamente por isso, volta sempre a rejuvenescer. […]. Mas estou totalmente convencido de que a fé seguirá estando presente na história. Estará de algum modo rejuvenescida, com uma energia nova e sobrevivendo à humanidade; estou seguro disso”.[2]
Por Oto Pereira
[1] SEEWALD, Peter. Benedicto XVI: una mirada cercana. 2. ed. Madrid: Palabra, p. 143.
[2]SEEWALD, Peter. Sal de la Tierra. 5. ed. Madrid: Palabra, p. 56
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