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Empenhemo-nos em ajudar as almas do purgatório!

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O comércio entre o mundo natural e o sobrenatural é assaz benfazejo: de um lado, facilita o sufrágio da alma padecente, se intercedermos por ela; por outro, estimula em nós a prática da vida sacramental e de piedade, razão de nossa própria salvação.

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 Redação (22/06/2023 10:47, Gaudium Press) Quando se comete um pecado, ofende-se não somente a Deus, mas também a ordem posta por Ele no universo. Desse modo, o pecado tem uma dupla consequência: primeiro, quando é um pecado grave, nos priva da vida eterna e da comunhão com Deus – sua consequência é a “pena eterna”; segundo, mesmo sendo um pecado venial ou um pecado mortal já confessado, gera uma “pena temporal”, pois todo pecado promove um abalo na ordem da criação, o que exige uma purificação, seja aqui na Terra [1] ou, após a morte, no Purgatório (cf. Catecismo, n. 1472).

Com isso, vemos que mesmo as almas dos que partem desta vida sem estar em pecado mortal, mas que não satisfizeram completamente a pena temporal acumulada, passam um período, maior ou menor, de purificação nas chamas do purgatório.

A quem pedir ajuda?

Remonta à Igreja primitiva e perdura até nossos dias, o costume de rezar pelas almas, decorrente dessa preocupação para com os falecidos. É pela fé na comunhão dos santos, – segundo afirmamos em nosso Credo – que temos condições de ajudar as almas que se encontram na eternidade, por meio de orações, intenções, penitências ou indulgências, sendo possível diminuir as suas penas, e antecipar sua chegada ao Céu.

Destarte, como há entre nós, vivos, a iniciativa de rezar pelos fiéis defuntos, há também da parte deles o interesse em nos pedir auxílio, a fim de que se vejam o quanto antes na bem-aventurança.

Por isso, Deus permite que algumas almas do purgatório nos visitem. E não são raros os casos destas aparições, muitas vezes confundidas com “fantasmas” ou algo congênere…

Em realidade, segundo fidedignos testemunhos, tais espíritos podem se fazer sentir, externando não as qualidades que tiveram nesta terra, mas, muito pelo contrário, os vícios que as caracterizaram, razão pela qual precisam ser purgadas.

Segundo nos relata, por exemplo, a princesa Eugênia von der Leyen, no livro “Conversando com as almas do Purgatório”, algumas destas almas lhe apareceram, quase diariamente, com as formas mais diversas e às vezes assustadoras entre os anos de 1921 e 1929.

Para certas pessoas escolhidas pela Providência, o “véu” que separa o mundo natural do sobrenatural, nestes casos, é como que retirado, em benefício das almas do Purgatório, “ansiosas” de um sufrágio. Aos que recebem esta dádiva, denominada pela Igreja de “revelação particular”,[2] verifica-se especial comércio entre a Igreja militante e a Igreja padecente.

Pelo relato da princesa Eugênia von der Leyen, vê-se como ela possuía uma missão especial, dada por Deus, de ajudar as almas padecentes, cujas aparições se lhe figuravam muitas vezes em formas de animais grotescos.

Em seu diário, lê-se:

19 de fevereiro[3]— No centro do fogo acaba de formar-se uma indefinível massa escura, da qual sai um medonho estrépito. As chamas não espalham calor. Enfraqueceu a tempestade inicial. Gastei muita água benta.

21 de fevereiro — E aconteceu o pior que me poderia acontecer. Aquela massa escura é uma cobra. Quando dei por isso, fiquei como que paralisada de pavor. Tenho um medo inominável, pois uma simples cobra-cega me faz tremer de medo. Essa cobra me parece descomunal; talvez tenha uns três metros de comprimento. […] Por enquanto, a cobra está quieta.

3 de março — Durante a noite aconteceu o pior: ela passou pelo teto e foi descendo, descendo e se aproximando… Mais não sei, pois fiquei fulminada pelo pavor e perdi os sentidos.

5 de março – De repente, vi, numa pálida mão, uma aliança como aquelas que as freiras costumam usar. […] Perguntei: ‘És tu aquela cobra?’ — ‘Sou’. — ‘E quem és?’ — ‘Tu me conhecias e me desprezavas’. — ‘Dize-me teu nome!’ — ‘Tu me reconhecerás. Agora ajuda-me’. Rezei, pois, um pouco com ela. De súbito, eu mesma fiquei como que envolvida em neblina, e ela disse baixinho: ‘Tu odiavas minha mentira’.

19 de março – [Perguntei-lhe:] ‘Por que vieste em forma de cobra?’ — ‘Era a figura de minha vida: juramentos rompidos, pois tudo em meu comportamento era mentira e fingimento’. — ‘E assim mesmo te salvaste para a eternidade?’ — ‘Antes de morrer, recebi dignamente os santos sacramentos’”.[4]

Ao longo desta aparição, a freira dizia para Eugênia que era necessário também ela se purificar, pois assim poderia ajudar melhor as almas. Por isso, somente após a princesa ter recebido alguns sacramentos, a “antiga cobra” pôde lhe aparecer com traços humanos, todavia primitivos.

Logo, este comércio entre o mundo natural e o sobrenatural é assaz benfazejo, pois, de um lado, permite o sufrágio da alma padecente, se intercedermos por ela; e, por outro, estimula em nós a prática da vida sacramental e de piedade, razão de nossa própria salvação, quando viermos a prestar contas a Deus.

* * *

Que esse estreito laço de união com as almas purgatório – independentemente de qualquer espécie de revelação privada – nos auxilie a compreendermos que a realidade palpável não é senão uma pequena parcela de toda a criação, e que o mundo sobrenatural nos rodeia constantemente, embora nossos olhos limitados não possam vê-lo.

Empenhemo-nos, pois, em ajudar as almas do Purgatório!

Por Denis Santana


[1] “O cristão deve esforçar-se por aceitar, como uma graça, estas penas temporais do pecado, suportando pacientemente os sofrimentos e as provações de toda a espécie e, chegada a hora, enfrentando serenamente a morte: deve aplicar-se, através de obras de misericórdia e de caridade, bem como pela oração e pelas diferentes práticas da penitência, a despojar-se completamente do ‘homem velho’ e a revestir-se do ‘homem novo’ (cf. Ef 4,24)”. (Catecismo, n. 1473).

[2] “No decurso dos séculos, tem havido revelações ditas ‘privadas’, algumas das quais foram reconhecidas pela autoridade da Igreja. Todavia, não pertencem ao Depósito da Fé. O seu papel não é ‘aperfeiçoar’ ou ‘completar’ a Revelação definitiva de Cristo, mas ajudar a vivê-la mais plenamente, numa determinada época da história. Guiado pelo Magistério da Igreja, o sentir dos fiéis sabe discernir e guardar o que nestas revelações constitui um apelo autêntico de Cristo ou dos seus santos à Igreja”. (Catecismo, n. 67).

[3] A alma se manifestou pela primeira vez no dia 8 de fevereiro, não diretamente, mas por meio de barulhos nos móveis, tempestades e rugidos. E deixou de aparecer no dia 30 de março, quando já estava mais nítida e em forma mais parecida quando vivia.

[4] LEYEN, Eugênia von der. Conversando com as almas do purgatório. Trad. Alphons Gilbert. São Paulo: Paulinas, 1994 p. 164-167.

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