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A noite da derrota do mal

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Segundo os conceitos humanos, um terrível fracasso abatera-se sobre Jesus de Nazaré. Na perspectiva divina, contudo, sempre esteve presente o grandioso triunfo comemorado na Vigília Pascal.

Foto: João Paulo Rodrigues

Foto: João Paulo Rodrigues

Redação (30/03/2024 15:34, Gaudium Press) Concluída a Quaresma, período dedicado à consideração das nossas misérias e ao pedido de perdão, e encerradas as cerimônias da Paixão do Senhor, começa no Sábado Santo o triunfal crescendo de alegria próprio à Vigília Pascal.

A cerimônia dessa noite é a mais bela de todo o Ciclo Litúrgico. Ela começa fora do recinto da igreja, sem nenhuma iluminação, simbolizando as trevas do pecado que dominavam o mundo antes da Redenção, bem como as que invadiram a Terra depois da Morte de nosso Senhor, o momento mais trágico da História da humanidade.

À medida que o rito se desenvolve, a escuridão inicial vai sendo rasgada pelo fogo sagrado, símbolo da Ressurreição. Esta Ressurreição suplanta e faz esquecer tudo aquilo que ficou para trás, a ponto de ser-nos necessário um esforço para recordarmos as penitências feitas durante a Quaresma ou o ambiente trágico próprio à Sexta-Feira Santa.

A Vigília Pascal comemora o momento misterioso e augusto no qual Cristo venceu a morte, cujas circunstâncias exatas só nos serão desvendadas no dia em que a humanidade, reunida no Vale de Josafá, conhecer em minúcias — minuto a minuto, segundo a segundo — tudo quanto se passou ao longo dos séculos com toda e qualquer criatura humana ou angélica.

De sinal de ignomínia a símbolo de glória

Na Vigília do Domingo da Ressurreição, o triunfo de Jesus sobre o pecado enche de alegria a Igreja e os corações de todos os fiéis. Os sinos repicam, o altar se ilumina, e o órgão ressoa enquanto a assembleia canta jubilosa: Gloria in excelsis Deo!

“Ó noite em que Jesus rompeu o inferno, ao ressurgir da morte vencedor”,[1] proclama o Precônio Pascal. Quando o demônio parecia ter derrotado Nosso Senhor, este o venceu definitivamente, como Mestre e como Deus. A Cruz, outrora sinal de ignomínia, transformou-se em símbolo de glória e passou a ornar as coroas dos reis e a encimar as torres das catedrais.

E o que aconteceu com aqueles que julgavam ter vencido o Nazareno? Alguns, tocados pela graça, pediram o Batismo (cf. At 2,37-41); sobre outros caiu a terrível tragédia da destruição de Jerusalém, por Ele predita. E os príncipes dos sacerdotes, escribas e fariseus passaram para a História marcados por um sinete de opróbrio e rejeição.

O triunfo de nosso Senhor vai se manifestar de maneira toda especial em seus discípulos. De fugitivos, reagrupam-se em torno da Virgem Santíssima e começam a percorrer as nações, pregando com destemor o Evangelho. Levantam por todas as partes o estandarte da Cruz, desafiando o paganismo e conquistando o mundo para Cristo.

Christus vincit! Christus regnat! Christus imperat! Eis o resultado do grande contraste que comemoramos na noite da Vigília Pascal. A Morte e Ressurreição de Jesus enchem de gáudio as almas dos fiéis, ao tornar patente quão completa foi a vitória do Bem.

Maria e a Ressurreição

Em seus relatos sobre a Ressurreição nada dizem os evangelistas a respeito de Maria Santíssima. Entretanto, não é possível imaginar a Mãe do Redentor ausente desses acontecimentos.

Enquanto o Corpo de Jesus repousava no sepulcro, os Apóstolos certamente sentiam, por um misterioso instinto, que a história do Homem-Deus não podia estar concluída com aquela Morte, mas não chegavam a imaginar a anunciada Ressurreição.

A Santíssima Virgem, porém, não tinha a esse respeito a menor fímbria de dúvida. Na noite do Sábado Santo, afirma Plinio Corrêa de Oliveira, “somente Nossa Senhora, em toda a face da Terra, teve uma fé completa e sem sombra de dúvida na Ressurreição. […] A cada minuto que passava, de algum modo a espada da saudade e da dor penetrava ainda mais seu Coração Imaculado. Mas, de outro lado, havia a certeza de uma grande alegria da vitória que se aproximava. Esta concepção A inundava de consolação e gáudio”.[2]

Dr. Plinio acrescenta que Nossa Senhora, “nesta ocasião, representou a fé da Santa Igreja e, por assim dizer, sustentou o mundo, dando continuidade às promessas evangélicas, pois, se não houvesse fé sobre a face da Terra, a Providência teria encerrado a História. Maria foi a Arca da Esperança dos séculos futuros. Ela teve em Si, como numa semente, toda a grandeza que a Igreja haveria de desenvolver ao longo dos séculos, todas as promessas do Antigo Testamento e todas as realizações do Novo; tudo isto viveu dentro da alma de Nossa Senhora”.[3]

* * *

Em nossa época, na qual a impiedade parece ir tomando conta do mundo, devemos renovar nossa fé na promessa feita por Cristo, de que jamais as forças do inferno prevalecerão contra a sua Igreja (cf. Mt 16,18), e manter bem vivo na alma o anseio de sermos santos, perfeitos e íntegros sob o ponto de vista moral e doutrinário. Pois, para o Lumen Christi, tão belamente simbolizado pelo Círio Pascal, enxotar para o fundo dos infernos os demônios que hoje tentam a humanidade, basta haver um conjunto de fiéis, inteiramente unidos a Jesus e Maria, que peçam isso com verdadeiro afinco.

“Coragem! Eu venci o mundo” (Jo 16,33)! Façamos o propósito firme de tender à santidade, a fim de que o triunfo definitivo de Cristo, obtido pela sua Morte e Ressurreição, refulja gloriosamente em nossos dias.

Extraído, com adaptações, de:

CLÁ DIAS, João Scognamiglio. O inédito sobre os Evangelhos: comentários aos Evangelhos dominicais. Città del Vaticano-São Paulo: LEV-Instituto Lumen Sapientiæ, 2013, v. 7, p. 373-385.


[1] VIGÍLIA PASCAL. Proclamação da Páscoa. In: MISSAL ROMANO. Trad. Portuguesa da 3a. edição típica para o Brasil realizada e publicada pela CNBB com acréscimos aprovados pela Sé Apostólica. CNBB, 2023, p. 280.

[2] CORRÊA DE OLIVEIRA, Plinio. Uma devoção da Cristandade… In: Dr. Plinio. São Paulo. Ano XIII. N. 145 (abril de 2010), p.34.

[3] Ibid.

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