InícioNotícias da Igreja3º Domingo da Páscoa: um convite ao verdadeiro amor

3º Domingo da Páscoa: um convite ao verdadeiro amor

Published on

Amor, palavra que precisa ser devidamente compreendida, conforme nos propõe a Liturgia deste 3º Domingo da Páscoa.

Foto: Francisco Lecaros

Foto: Francisco Lecaros

 Redação (14/04/2024 12:24, Gaudium Press) Deus caritas est” (1Jo 4,7). Por qual motivo São João terá escolhido a palavra caridade (amor) para definir a Deus? São Paulo, na sua 1º Carta aos Coríntios, canta o hino à caridade. Nela, o Apóstolo nos assegura que de nada vale possuir todos os bens se não temos o amor:

“A caridade é paciente, a caridade é bondosa. Não tem inveja. A caridade não é orgulhosa. Não é arrogante. […] Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais acabará. Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade. Porém, a maior delas é a caridade” (1Cor 13,4.7-8.13).

Ao explicar a afirmação paulina, “a caridade é a maior das virtudes”, São Tomás observa que a grandeza de uma virtude depende de seu objeto. Ora, partindo dessa premissa, concluímos que as virtudes teologais são as maiores, pois tem a Deus como objeto próprio.

Porém, quanto ao objeto – que é o mesmo Deus – entre si elas não podem ser consideradas maiores. Entretanto, nada impede que o sejam considerando a proximidade que cada uma delas tem com Deus. Nesse caso, a caridade é a maior de todas, visto que a Fé e a Esperança implicam uma certa distância do objeto, uma vez que a primeira versa sobre aquilo que não vemos e a segunda, sobre o que não temos. Já a caridade recai sobre o que já possuímos, pois o amado está de certa maneira no amante; e, pelo afeto, este é levado a unir-se àquele.[1] Daí a escritura dizer:

“Deus é amor. Quem permanece no amor, permanece com Deus e Deus nele” (1Jo 4,16).

São Tomás, ao definir a caridade, assevera que “a caridade não significa somente amar a Deus, mas também certa amizade com Ele. Essa amizade acrescenta ao amor a reciprocidade no amor, uma comunicação mútua”.[2] A caridade é ainda aquela sem a qual nenhuma outra virtude pode existir.[3] Daí entendermos melhor aquilo que, antes, havia afirmado Santo Agostinho: “Dilige, et quod vis fac”,[4] ou seja, ama e faze o que queres. Pois, quem ama realmente a Deus vive tranquilo, porque sabe que em tudo o que faz está sendo assistido por Ele.

Esse amor, entretanto, como todas as demais virtudes, deve ser continuamente exercitado, a fim de não enfraquecer; sendo cada ato de amor nosso mais intenso que o praticado anteriormente.

Neste sentido, a liturgia desse 3º Domingo da Páscoa nos traz uma preciosa lição sobre a virtude da caridade.

Na primeira leitura, extraída dos Atos dos Apóstolos (At 3,13-15.17-19), vemos o Apóstolo Pedro, eleito pelo Mestre para governar seu Corpo Místico, completamente transformado após ter recebido o Espírito Santo. Ele que, há pouco, havia fugido e negado ser discípulo de Nosso Senhor por três vezes, agora impulsionado pelo Divino Paráclito, proclama diante dos mais altos poderes de Israel quem era Aquele a quem crucificaram, e exige-lhes arrependimento e mudança de conduta para que sejam perdoados e alcancem a vida eterna:

“Vós o entregastes e o rejeitastes diante de Pilatos, que estava decidido a soltá-lo. Vós rejeitastes o Santo e o Justo e pedistes a libertação para um assassino. Vós matastes o autor da vida […]. Arrependei-vos, portanto, e convertei-vos, para que vossos pecados sejam perdoados” (At 3,13-15.19).

O Salmo responsorial atesta o quanto aquele que ama a Deus e se abandona em suas mãos é assistido em todos os momentos, e tem a paz em todos os dias de sua vida:

“Eu tranquilo vou deitar-me e na paz logo adormeço, pois só Vós, o Senhor Deus, dais segurança à minha vida!” (Sl 4,4).

A segunda leitura, da 1ª carta de São João (1Jo 2,1-5), nos admoesta a não pecarmos. Entretanto, convicto daquele amor do qual foi objeto ao longo de toda sua vida, nos incita à plena confiança em Nosso Senhor, o qual foi “vítima de expiação pelos nossos pecados e pelos do mundo inteiro” (1Jo 2,2), a fim de que, havendo qualquer fraqueza de nossa parte, não nos desesperemos, mas recorramos imediatamente à Divina Misericórdia, arrependidos e dispostos a não mais pecarmos.

No Evangelho de São Lucas (Lc 24,35-48), narra-se a continuação do episódio dos discípulos de Emaús, os quais, arrefecidos no amor, tinham decidido voltar à sua terra de origem… Com efeito, depois que Jesus lhes apareceu e os inflamou de amor, retornaram logo à cidade santa para estar com os onze e os demais discípulos, a fim de lhes narrar a insigne graça que haviam recebido durante o caminho a Emaús.

A nós, entretanto, que vivemos neste século no qual o amor muitas vezes é considerado tão somente como um ato humano sentimental e romântico, cabe uma importante reflexão: temos amado a Deus verdadeiramente? Amamos as outras coisas em si mesmas, ou em função d’Ele?

Que neste 3º Domingo da Páscoa, São Pedro e São João intercedam especialmente por nós, a fim de correspondermos plenamente a todo amor que de Deus nos desce, retribuindo-o com todo o nosso coração – isto, é, com atos de vontade virtuosos, com amor.

Por Guilherme Maia


[1] Cf. S. Th. I-II, q. 66, a. 6, co

[2] Cf. S. Th. I-II, q. 65, a. 5, co.

[3] Cf. S. Th. I-II, q. 65, a. 3, co.

[4] AGOSTINHO DE HIPONA. In Epistolam Ioannis ad Parthos tractatus decem. Tractatus VII, n.8. In: Obras. Madrid: BAC, 1959, v. XVIII, p. 304.

The post 3º Domingo da Páscoa: um convite ao verdadeiro amor appeared first on Gaudium Press.

Últimas Notícias

Alemanha: Maioria dos jovens sacerdotes rejeita propostas do Caminho Sinodal

Durante uma coletiva de imprensa online, Matthias Sellmann, diretor do Centro de Pesquisa Pastoral,...

Biógrafo de João Paulo II acusa Pontifícia Academia para a Vida de trair seu fundador

Em uma conferência sobre bioética em Roma, George Weigel acusou a Pontifícia Academia para...

Santuário de Fátima promove Peregrinação das Crianças 2024

O lema escolhido para o evento deste ano foi tirado das palavras ditas pelo...

Rosário flutuante é construído em cidade costeira do Líbano

A iniciativa contou com a participação de diversos católicos para que este ambicioso e...

Audio-Book

148. I. Meditações de Santo Afonso Maria de Ligório (AUDIOBOOK)

https://www.youtube.com/watch?v=8gGGSaTK2ic Meditações de Santo Afonso Maria de Ligório — Bispo e Doutor da Igreja Quarta Dor...

147. II. Meditações de Santo Afonso Maria de Ligório (AUDIOBOOK)

https://www.youtube.com/watch?v=63iCH0qZxGY Meditações de Santo Afonso Maria de Ligório — Bispo e Doutor da Igreja Jesus é...

146. I. Meditações de Santo Afonso Maria de Ligório (AUDIOBOOK)

https://www.youtube.com/watch?v=4b50saBVvfY Meditações de Santo Afonso Maria de Ligório — Bispo e Doutor da Igreja Jesus é...