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A admiração cura, a inveja mata

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Em seu imponderável, a admiração conduz a uma sensação de epifania, de conforto para a alma, que suscita, ao mesmo tempo, uma abertura da mente para aquilo que ela “mira”.  

Redação (31/01/2022 09:45, Gaudium Press) O universo pode ser comparado a uma obra de arte. Conforme narra o Gênesis, cada uma de suas partes era boa, e o seu conjunto era ótimo. A tal ponto ele era perfeito, que Deus reservou o último dia da criação apenas para contemplar o trabalho de suas mãos.

Criado à imagem do divino artista, só o homem possuía esse como que “instinto” de admiração. De fato, Adão logo exultou quando soube que receberia uma companheira: “É carne da minha carne!”.

Não há, nas Escrituras Sagradas, quem foi tão admirado quanto Jesus. E tão invejado, claro. Logo no capítulo inicial do Evangelho de são Marcos, percebe-se o arrebatamento que Cristo causava ao atrair os seus primeiros discípulos (v. 17). Suas palavras provocavam maravilhamento, pois ensinava como quem tem autoridade (v. 22). Ao exorcizar um possesso, “todos se admiraram” e “a sua fama se espalhou em todo lugar” (v. 27-28). Por fim, muitos o procuravam ansiosos (v. 36) para serem curados de todo tipo de enfermidade.

“Admirar” possui a mesma raiz latina de “mirar”, de “maravilha” e de “milagre”. Com efeito, a admiração começa pelos sentidos, em geral pela visão, “mirando” algo, ante o maravilhoso ou mesmo o miraculoso. Ora, podemos provar a admiração em diversas formas: num matizado pôr do sol, numa alcandorada cerimônia religiosa, nas vibrações de um espetáculo teatral, num ato heroico, na retórica de uma pregação ou mesmo na singeleza de uma orvalhada flor.

Para Aristóteles, a admiração era propriamente o início do filosofar. Para isso, era necessário um reconhecimento da própria ignorância, visando alcançar a sabedoria.

A admiração, porém, é de difícil definição, pois porta consigo uma experiência multifacetada. Antes de tudo, ela implica uma certa humildade, um êxodo de si mesmo em direção ao transcendente. Traz também, de modo implícito, uma oposição ao puro materialismo. Em seu imponderável, a admiração conduz a uma sensação de epifania, de conforto para a alma, que suscita, ao mesmo tempo, uma abertura da mente para aquilo que ela “mira”.

Trocando em miúdos, a admiração é o fenômeno precedido pela exclamação “nossa!”, ou sua apócope “nó!”, em castiço “mineirês”… formas essas abreviadas da invocação “Nossa Senhora!”.

Há estudos acadêmicos recentes que sugerem que, entre as emoções positivas – como a compaixão, a alegria e o divertimento –, a admiração é a que provoca maiores efeitos anti-inflamatórios, pois está associada à maior diminuição de citocinas pró-inflamatórias no organismo. Nesse sentido, a admiração evitaria o gatilho de inúmeras doenças. Atualmente já se cunhou até mesmo uma “ciência da admiração”, bem como estudos sobre o seu relevante papel na pedagogia.

Pois bem, o método divino no emprego preponderante da admiração, seja na criação, seja no modelo do Verbo Encarnado, é hoje comprovado pela ciência. De fato, a admiração eleva, inspira, conforta e também cura.

A inveja é, por sua vez, extremamente danosa, uma verdadeira “cárie dos ossos” (Pr. 14,30). Em certo sentido, esse vício é o oposto da admiração, em ambas acepções etimológicas: inveja (do latim, in + video) é uma espécie de “não ver” ou mesmo “não admirar”. Pode ser também entendido como um ver em demasia, ao cobiçar o alheio, o que é traduzido pela expressão popular “olho gordo”.

De fato, foi pela inveja do diabo que a morte entrou no mundo (Sb 2,24), que Caim matou Abel (Gn 4,3-8), que José foi vendido pelos próprios irmãos (Gn 37,12-36) e que, enfim, Jesus foi entregue à morte (Mc 15,10; Mt 27,18).

Em suma, a admiração cura e, como comprova a história e reza o ditado, a inveja mata.

Por Pe. Felipe de Azevedo Ramos, EP.

Public. em: O Tempo, ano 25, n. 9179, 31/1/2022, p. 16.

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